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Análise: Prison City (Multi) é um jogo de ação oitentista divertido, mas pouco memorável

A ação na prisão urbana de Detroit acerta nas referências e em boas ideias, mas carece de personalidade.

Desenvolvido por Programmancer em parceria com a produtora Retroware, Prison City é um jogo de plataforma com cara dos anos 1980. Isso não se limita apenas ao gameplay que faz referências a Mega Man, Castlevania e, mais diretamente, Power Blade (NES), como também a outras obras da cultura pop, como Alien, Robocop e Exterminador do Futuro. Mas será que ele se destaca no meio de suas homenagens?

Um brucutu de chakram

Prison City se desenrola numa versão retrofuturista de Detroit, nos Estados Unidos, uma cidade tomada por criminosos que é transformada em uma prisão urbana pelo governo. No “futurístico” ano de 1997, o local é tomado por ciberterroristas e cabe a Hal, um soldado altamente treinado, a tarefa de lidar com a situação.

A estrutura dos níveis se assemelha a um metroidvania, caracterizando-se pela não linearidade. O objetivo central em cada fase consiste em localizar o informante para adquirir um cartão que desbloqueia a porta do chefe; para isso, somos auxiliados por um mapa que está sempre disponível para orientação, incluindo marcações de itens essenciais, como melhorias na barra de vida e de arma.

Como principal método de ataque, Hal emprega chakrams, armas de arremesso de média distância com mecânica similar à de um bumerangue. Eles podem ser lançados em oito direções, oferecendo a opção de reter alguns como um escudo temporário ou controlá-los ao redor do jogador por um período curto de tempo. É possível aprimorar a potência das armas ao encontrar três melhorias distribuídas pelas fases; no entanto, sofrer três danos provenientes de inimigos encerra o estado de poder.

O dano base da arma principal é eficaz contra inimigos comuns, porém é relativamente fraco em confrontos contra chefes. Embora as batalhas contra eles sejam criativas, a elevada resistência desses inimigos pode tornar a luta um tanto maçante. Os chakrams aprimorados oferecem maior poder de fogo, mas a penalidade de perdê-los ao levar dano deixa a tarefa mais punitiva. 

Além dos chakrams, é possível encontrar algumas granadas capazes de eliminar todos os inimigos em tela, mas Prison City carece de variedade na jogabilidade. A abordagem semelhante à estrutura de Mega Man na escolha de fases não implica que Hal vá adquirir novas armas para serem utilizadas em diferentes situações, e não há novas habilidades a serem aprendidas através da exploração.

O controle do protagonista funciona com bastante suavidade, com saltos fáceis de controlar, uma deslizada para passar por lugares estreitos com uma velocidade de movimentação maior que andar, além de poder se pendurar em bordas e grades.

Um detalhe que merece muitos elogios é a parte da dificuldade e o quão customizável ela é. O jogo oferece três dificuldades padrão, mas é possível alterar vários fatores como número de vidas, dano recebido, dano dado contra inimigos, configurar se quedas em buracos são imediatamente fatais, entre outros detalhes que ajudam a adaptar a experiência para o gosto de cada pessoa.

A opressão de Detroit

A direção artística de Prison City evoca a estética dos jogos de NES, adotando uma paleta de cores limitada e focada em tons frios, mas utilizada de maneira eficaz para transmitir o clima opressor da cidade. Os ambientes visitados variam de maneira convencional, incluindo cenários como neve, montanhas e fábricas, mas também incorporam alguns conceitos interessantes, como uma sequência de motocicleta numa estrada e um nível situado em um estádio de futebol americano. 

Embora os cenários sejam detalhados, a sobrecarga de informações na tela pode gerar confusão em alguns momentos, dificultando a distinção entre um chão sólido e elementos de fundo em sequências de plataforma, por exemplo.

O jogo proporciona opções visuais interessantes, como a capacidade de aplicar filtros que simulam TVs CRTs, além de uma extensa variedade de paletas de cores que podem ser alteradas a qualquer momento no menu. É possível transformar completamente a apresentação visual do jogo, transitando de gráficos semelhantes aos do NES para algo mais próximo de um Commodore 64, Game Boy (preto e branco ou o característico verde-musgo) e outros sistemas antigos.

Contudo, a parte musical é um tanto decepcionante, já que nenhuma faixa se destacou de maneira memorável para mim. Elas se encaixam perfeitamente com a ação e as fases, mas faltou algum impacto nelas; já a sonoridade geral remete aos jogos 8-bits, e cumpre bem seu papel.

Simpático, mas não marcante

Prison City cumpre sua premissa de forma competente, apresentando visuais deslumbrantes e uma arma única como seu principal recurso. A estrutura menos linear das fases, as referências à cultura pop e as envolventes batalhas contra os chefes proporcionam momentos divertidos, apesar da resistência deles; no entanto, em comparação com várias outras produções que se inspiram em obras retrô, o jogo carece de uma identidade própria que o diferencie.

Prós:

  • O uso do chakram como arma é bem interessante;
  • A estrutura não linear das fases funciona muito bem;
  • Boas referências à cultura pop dos anos 1980;
  • Visualmente interessante e detalhado;
  • Dificuldade customizável com diversas opções.

Contras:

  • Não há muita variedade no sistema do jogo, o tornando repetitivo após dominado;
  • O detalhamento visual às vezes confunde a percepção de plataformas sólidas;
  • Trilha sonora pouco memorável;
  • Chefes muito resistentes deixam as batalhas maçantes.
Prison City — PS4/PS5/XBO/XSX/Switch/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Retroware


Estudante de enfermagem de 24 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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