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Análise: Sonic Superstars (Multi) resgata o passado do ouriço em uma aventura 2D pouco memorável

Apesar de algum carisma e boas ideias, o novo jogo do personagem possui muitos problemas e falha em impressionar.


Sonic Superstars, o novo título do ouriço azul da SEGA, foi recebido com surpresa e antecipação. A aventura resgata as mecânicas 2D clássicas da série, ao mesmo tempo que inclui novidades instigantes, como poderes especiais e multiplayer cooperativo para até quatro participantes. Com a difícil tarefa de suceder o aclamado Sonic Mania, Superstars cativa com seu visual colorido e ideias centrais sólidas, mas uma série de decisões questionáveis acaba tornando a experiência menos empolgante do que deveria.

Enfrentando perigos com a ajuda de novos poderes

Desta vez, Sonic e seus amigos partem para as Northstar Islands, pois é lá que Dr. Eggman está tramando algo maligno novamente. O vilão não está sozinho e conta com a ajuda de dois capangas, Fang the Sniper e a misteriosa Trip, que vão fazer o possível para atrapalhar o avanço dos heróis. Como sempre, no decorrer da jornada, os dois grupos se enfrentam para tomar controle das poderosas Esmeraldas Chaos.


Superstars é uma aventura de ação e plataforma 2D tradicional fortemente inspirada nos clássicos do ouriço. No controle de um dos heróis, corremos em alta velocidade por cenários repletos de plataformas, loops, inimigos e armadilhas. Além de ter acesso ao tradicional Spin Dash, cada um dos personagens tem habilidades únicas: ao pular, Sonic é capaz de se lançar no chão para acelerar rapidamente; Tails voa com a ajuda de suas caudas; Knuckles consegue planar e escalar paredes; e Amy usa seu martelo para saltar novamente no ar.


A grande novidade da vez são poderes especiais obtidos ao coletar as Esmeraldas Chaos. Há de tudo um pouco, como criar clones para atacar inimigos, transformar o herói em uma bola de fogo que pode ser lançada pelo ar, nadar por cachoeiras ou fazer nascer plantas imensas. Muitas dessas habilidades permitem alcançar locais altos ou distantes, abrindo novas possibilidades na hora de explorar os estágios.



Correndo e pulando por localidades vertiginosas

A meu ver, um bom jogo do Sonic consegue equilibrar momentos de muita velocidade com trechos mais lentos de plataforma. Superstars tenta resgatar esse conceito ao mesmo tempo em que introduz ideias modernas. Para começar, de positivo, o novo título tem controles precisos: os saltos respondem bem e a inércia é fácil de ser utilizada para alcançar locais distantes. Além disso, é divertido usar os heróis, pois suas habilidades únicas alteram sensivelmente o ritmo de jogo.

Os estágios me surpreenderam com sua variedade de situações. Em uma selva, usamos vinhas para lançar os personagens no ar; em uma cidade dourada, é possível andar de ponta-cabeça ao correr por certas paredes; ruínas no céu têm trechos em que precisamos quebrar blocos no estilo Breakout; em um mundo virtual, os heróis se transformam em um polvo, um rato e em um míssil para superar obstáculos; para avançar por um deserto, quicamos em imensas serpentes que ondulam na areia. Cada uma das zonas tem elementos temáticos que trazem identidade a elas, causando sempre uma sensação de novidade à campanha.


Como é de praxe, as fases são labirínticas, contando com rotas alternativas e segredos. É perfeita e simplesmente possível seguir em frente até o final, mas a graça está em procurar por caminhos diferentes ou trechos mais complicados. Nesse sentido, alguns poderes das Esmeraldas Chaos ajudam bastante ao possibilitar alcançar locais altos ou distantes. Há também estágios exclusivos para cada personagem, focando no uso de suas habilidades em situações interessantes.

Pela primeira vez em um jogo 2D da franquia, Superstars conta com multiplayer cooperativo local para até quatro jogadores. A ideia é inusitada, mas não funciona bem na prática: a câmera foca em um dos participantes e os demais são automaticamente teletransportados quando saem da tela, algo que acontece frequentemente devido à velocidade da ação. Com dois participantes, até que dá para aproveitar o modo multijogador, mas com três ou quatro, a experiência fica comprometida.


Há também um modo competitivo online em que montamos um avatar robótico para enfrentar outros jogadores em minigames. O robô pode ser customizado com peças diversas, adquiridas por meio de medalhas coletadas durante as fases. Confesso que mal dei atenção a essa modalidade, pois os jogos são simples e enjoam bem rápido.

Perdido em um mundo problemático

Os minutos iniciais de Sonic Superstars são promissores, pois a progressão é veloz e ágil. Porém, infelizmente, logo os inúmeros problemas se tornam aparentes, deixando a experiência desagradável e frustrante.

O primeiro revés está nos estágios. Há algumas ideias notáveis, mas, novamente, erros do passado se repetem, como perigos que aparecem do nada sem tempo hábil para o jogador reagir — é muito comum estar correndo e ser interrompido por algo que surge de repente. Para agravar, em Superstars são comuns obstáculos que matam instantaneamente os heróis, parecendo um recurso artificial para aumentar a dificuldade. Ao menos dessa vez as vidas são infinitas, exigindo somente paciência para avançar.


O desenho dos níveis é desinteressante e problemático. As fases parecem não seguir nenhum fluxo de ideias, consistindo majoritariamente de momentos aleatórios de corrida automática ou de plataforma de precisão. Para piorar, certas áreas têm elementos irritantes que potencializam seus defeitos, como trechos em que usamos borboletas para iluminar espaços escuros ou uma fábrica na qual precisamos apertar constantemente botões para impedir que um robô lance um ataque fatal.

Ainda sobre os estágios, a exploração é sem sentido. Medalhas para customizar o robô utilizado no multiplayer online é a recompensa por alcançar locais de difícil acesso, algo que não vale o esforço. Além disso, os poderes das Esmeraldas são desconexos no jogo como um todo, pois parece que as fases não foram pensadas para instigar o uso deles. Particularmente, devido a esses detalhes, não vi motivo algum para revisitar as Zonas. Alguns extras desbloqueáveis, como uma galeria, seriam incentivos mais interessantes.


Mas o pior do jogo está nas batalhas contra os chefes. O conceito delas até é criativo, pois exploram alguma invenção maluca de Dr. Eggman em embates variados. A questão é que esses encontros se arrastam, pois só é possível acertar o oponente em alguns poucos momentos específicos; no restante do tempo, é necessário escapar de longas séries de ataques. Para piorar, conforme a campanha avança, esses combates se alongam com múltiplas fases, e morrer significa recomeçar desde o início. Por fim, a dificuldade é mal ajustada com perigos difíceis de ler e golpes que matam instantaneamente. O resultado são combates enfadonhos e irritantes.

Em uma colorida reinterpretação do passado

Fora os altos e baixos, Sonic Superstars aposta novamente na atmosfera vibrante e carismática tradicional do universo do personagem, com direito a uma belíssima abertura animada. Os gráficos 3D são competentes, em especial as animações repletas de personalidade dos heróis. Todas as áreas são completamente inéditas, por mais que a maioria não passe de releituras de ideias antigas. Já a trilha sonora tenta emular a era 16-bits com sintetizadores e outros instrumentos, mas o resultado é morno e esquecível.


Mesmo com muita cor, os cenários variam muito de qualidade: algumas fases, como Bridge Island Zone, são elaboradas e visualmente deslumbrantes; já outras, como Lagoon City Zone e Sky Temple Zone, sofrem com texturas de baixa resolução. Um detalhe que incomoda é que praticamente todas as localidades têm cenários borrados no fundo, diminuindo o impacto visual. E é uma pena que a versatilidade dos gráficos poligonais seja subutilizada com uma câmera fixa na maior parte do tempo — outros ângulos ajudariam a trazer mais impacto a certas cenas.

No campo do conteúdo, a aventura é enxuta, apesar de forçar o jogador a terminá-la várias vezes. Após concluir a jornada com Sonic e seus amigos, é desbloqueada uma nova história estrelada por Trip, que conta com estágios mais difíceis (e mais irritantes) — a batalha final só é liberada após finalizar os passos anteriores. O multiplayer competitivo e um modo de corrida contra o tempo são os únicos (e desinteressantes) extras.



Uma aventura de alguns bons momentos

Sonic Superstars chega com a promessa de resgatar a essência 2D clássica da série e, em alguns aspectos, consegue entregar uma experiência satisfatória. A ação é ágil e vertiginosa, os controles são precisos e a variedade temática das fases é louvável, adicionando identidade aos estágios. A introdução de poderes especiais via Esmeraldas Chaos também traz uma dimensão interessante à jogabilidade.

No entanto, o jogo é prejudicado por uma série de problemas, como obstáculos injustos e estágios que parecem carecer de coesão, com exploração que não oferece recompensas suficientes para incentivá-la. Além disso, as batalhas contra os chefes se arrastam e se tornam frustrantes. Por fim, a inclusão de um modo multiplayer cooperativo local é uma adição bem-vinda, mesmo que sua implementação esteja longe de ser perfeita.

No fim, Sonic Superstars apresenta um equilíbrio instável, tornando a experiência menos empolgante do que os fãs do ouriço azul esperavam. Apesar dos problemas que o jogo enfrenta, alguns momentos são envolventes e ele mantém a atmosfera carismática e vibrante que é uma marca registrada do universo do Sonic.

Prós

  • Mecânicas de ação e plataforma 2D precisas com bom equilíbrio entre momentos de velocidade e plataforma;
  • Boa variedade de situações e de temas nos estágios;
  • Multiplayer cooperativo interessante para até dois jogadores;
  • Ambientação colorida e carismática.

Contras

  • Estágios com mapas problemáticos e pouco memoráveis;
  • Batalhas contra chefes enfadonhas e desnecessariamente longas;
  • Multiplayer para mais de dois participantes é bagunçado e pouco divertido;
  • Algumas ideias, como os poderes das Esmeraldas Chaos, têm execução desajeitada.
Sonic Superstars — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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