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Análise: Payday 3 (Multi) é um bom jogo de tiro cooperativo, mas precisa de mais para roubar o sucesso de seu precedente

Mesmo com alguns problemas sérios, a experiência de realizar grandes assaltos é divertida e tem suas qualidades.


Lançar a sequência de um título de sucesso pode ser um processo complexo no mundo dos games. Se por um lado é possível aproveitar uma base de fãs consolidada, por outro é preciso manter — e se possível, elevar — o nível de qualidade. Payday 3 é um exemplo dessa situação complexa, pois enquanto ele mantém a base de sucesso como um jogo de tiro e assalto divertido, ele ainda tem um longo caminho pela frente para alcançar seu antecessor. Pegue algumas armas e vista a sua máscara, pois a análise vai começar!

Uma nova onda de crimes

Comecemos com uma breve recapitulação: original de 2013, Payday 2 foi um grande sucesso com sua proposta de colocar jogadores para arquitetar e executar grandes golpes, com direito a reféns, explosivos e tiroteios. O foco no componente cooperativo foi uma das maiores qualidades do game, assim como as constantes atualizações e DLCs, que somaram mais de 30 expansões lançadas até hoje.
Um verdadeiro sucesso do seu gênero
Portanto, a chegada de Payday 3, lançado em setembro de 2023 para PC, PlayStation 4 e 5 e Xbox One e Series, gerou grande expectativa. Afinal, quais novidades e melhorias o lançamento traria em relação ao título anterior? A resposta, que vou tentar detalhar nesta análise, é que o novo game precisa roubar muitos bancos para chegar no nível de riqueza esperado, mas ao menos ele já conta com várias qualidades positivas.
Pronto para roubar uma verdadeira fortuna?
Um dos pontos claramente superiores são os visuais renovados do game. Considerando a diferença de 10 anos, era de se esperar uma melhora significativa nos gráficos: texturas e iluminação estão mais caprichados, embora não necessariamente no nível da nova geração de consoles. Dada a proposta cooperativa e o nível da produção, considero-a bem satisfatória.
Os visuais são bastante competentes
O mesmo pode ser dito do trabalho de áudio, sobretudo a dublagem, e o desempenho técnico. O sistema de matchmaking é bem rápido em achar outros assaltantes, que são rapidamente lançados nas missões após telas de carregamento breves. Ainda nesse tópico, Payday 3 conta com cross-play e cross-progression entre todas as suas plataformas, tornando a experiência ainda mais flexível e abrangente.

O caminho do fora-da-lei

Passemos agora para o que mais importa, que são os assaltos e golpes. O game funciona da seguinte forma: o jogador cria uma classe e personaliza o seu personagem, escolhe uma missão (e seu nível de dificuldade) e inicia o processo de matchmaking para formar um grupo de quatro membros. Caso não sejam encontrados jogadores suficientes, são inseridos bots para completar o quarteto.
Equipes compostas por jogadores reais são as mais divertidas e contam com mais chances de vitória
Os jogadores então são colocados juntos em um grande cenário para começar o evento. As localidades se situam na cidade de Nova Iorque, incluindo bancos, boates, museus e pontes. O time tem liberdade para decidir como avançar: sacar as armas e chutar a porta da frente? Ou então arrombar uma janela e invadir na surdina? A escolha determina diretamente os rumos da partida, então é importante pensar bem e agir de acordo.
Você nunca mais vai ver uma agência bancária da mesma forma
É importante ressaltar, no entanto, que o caminho da furtividade é mais pedregoso. Payday 3 não oferece opções como disfarces e nocautes, assim como não é possível hackear câmeras e outros equipamentos. Eu sei que o game não é um Hitman ou Watch Dogs da vida, mas por vezes fica difícil agir de forma discreta. Não ajuda que qualquer ação criminosa exija que o jogador vista uma máscara – marca registrada da série – e, assim, chame a atenção de todos.
Saber arrombar fechaduras e trancas é essencial para qualquer ladrão
Eu compreendo essa necessidade, pois assim os personagens continuam incógnitos, mas não poder retirar a máscara depois de colocá-la é um tanto contraintuitivo. De qualquer forma, ainda é possível se esgueirar por pontos cegos dos sistemas de monitoramento e atacar seguranças para amarrá-los e deixá-los inofensivos. Atirar, lançar granadas e outras opções ofensivas são mais naturais e funcionam bem.
Na maioria das vezes os tiroteios são inevitáveis
O título não tem a imersão de um game de tiro tradicional, como um Call of Duty da vida, mas é suficientemente ágil e preciso. Os assaltos normalmente exigem que os jogadores se desloquem por todo o cenário em busca de chaves, senhas e, obviamente, itens que serão roubados, como joias, quadros e dinheiro. Portanto, ter mobilidade para se deslocar e recursos para enfrentar resistências é fundamental, ambos requisitos plenamente atendidos por Payday 3.

Ladrão que rouba ladrão

Falando em resistências, elas incluem seguranças, policiais e até mesmo forças especiais. Temos desde guardas armados com pistolas simples até agentes especiais ninjas (isso mesmo) e policiais com armadura e armas pesadas. A chegada desses inimigos — afinal, o jogador é o bandido — se dá por ondas, que se tornam cada vez mais poderosas conforme o tempo passa.
Alguns agentes policiais contam com habilidades perigosas, como o "ninja"
Portanto, é preciso cumprir os requisitos, realizar o golpe e escapar o mais rápido possível para aumentar as chances de sucesso. Infelizmente, é justamente nesse ponto que as coisas podem complicar: se um membro da equipe for inexperiente ou pouco habilidoso, a missão toda pode ser comprometida. Um exemplo simples: ao testar os comandos numa das minhas primeiras missões, acabei lançando uma granada dentro de um prédio.
Render e imobilizar vítimas é uma boa saída
Isso ligou todos os alarmes e acionou a polícia na hora, terminando com qualquer possibilidade de uma abordagem furtiva. Obviamente, isso não é culpa do jogo em si, mas é importante deixar registrado. Talvez para evitar esse tipo de problema, Payday 3 conta com bots que basicamente só seguem e imitam o jogador, eventualmente atirando em inimigos e revivendo os companheiros caídos.
Janela trancada? Nada tema, arrombar não é um problema
Claro que eu não gostaria de ver um bot completando a missão sozinho, mas seria bom um pouco mais de atitude. O mesmo pode ser dito dos inimigos, que por vezes atacam somente um jogador, ignorando os demais e ficando abertos a contra-ataques. Seja como for, mais uma razão para o título ser aproveitado (física ou remotamente) ao lado dos amigos.

Crie a sua gangue

Apesar dessas limitações e possíveis problemas, em geral as partidas são movimentadas e divertidas. Salvar um companheiro caído em meio a um tiroteio ou conseguir escapar com aquela última sacola de dinheiro é sempre uma satisfação. Pena que o game tem apenas oito missões diferentes, deixando como opção somente refazê-las em busca de mais recursos ou em níveis de dificuldade mais elevados.
Abarrotando o helicóptero com os recursos roubados
O dinheiro pode ser utilizado para comprar roupas, máscaras, armas, equipamentos, entre outras tantas opções. Payday 3 também tem uma série de melhorias que podem ser adquiridas, como por exemplo reviver companheiros mais rapidamente, aumento de dano, carregar mais itens consumíveis, mais velocidade, etc. Boa parte dessas habilidades é acionada ao recebermos um de três efeitos: Rush, Grit e Edge.
São várias opções para gastar o suado (e roubado) dinheirinho
O primeiro afeta a velocidade, o segundo o dano recebido e o terceiro o dano causado, todos ativados ao cumprirmos certas ações nas missões. Pode parecer um pouco confuso no começo, mas esse sistema de habilidades funciona bem na prática e ajuda o jogador a customizar seu estilo de jogo. Inclusive, é possível criar classes para acessar rapidamente determinados conjuntos de configurações.
Monte classes personalizadas para facilitar a criação das partidas
Idealmente, é possível casar as escolhas com a dos outros membros do time e criar uma sinergia ainda maior. Tanto as compras quanto as habilidades passivas são limitadas pelo nível do jogador, que sobe de acordo com os pontos de experiência obtidos proporcionalmente ao desempenho nas missões. Ou seja, quanto mais partidas, mais opções para tentar golpes cada vez mais difíceis.

Teu passado te condena

Finalmente chegamos aos dois pontos mais negativos de Payday 3, ambos relativos à conectividade. Em primeiro lugar, o game não inicia enquanto não fizermos um cadastro com e-mail e senha. Não é possível usar a conta PlayStation, exigindo que acessemos um site para o registro. O leitor pode estar pensando “então, quer dizer que se eu não tiver internet, não é possível logar e, portanto, jogar?”
Nada como fazer um refém enquanto o cofre é perfurado com fogos
Sim, isso mesmo: o segundo problema é que o título exige conexão constante com a internet. Embora os produtores tragam justificativas como combate aos hackers e agilidade nas atualizações, na prática essas duas exigências são bastante frustrantes. Somando com os demais contras que citei anteriormente, sobretudo a campanha curta, temos um lançamento um tanto limitado.
Armas especiais ajudam a equilibrar os combates
Infelizmente, se por si só ele carece de mais conteúdo, as coisas realmente ficam feias quando fazemos uma (inevitável) comparação com Payday 2. Como eu já comentei anteriormente, o jogo anterior gozou de um grande sucesso, com muitas atualizações, expansões e uma base sólida de jogadores. Salvo por algumas vantagens, atualmente ainda não vale muito a pena trocar para o game mais novo.

Um longo caminho pela frente

Mesmo com um começo um pouco decepcionante, nada está perdido para Payday 3. Pelo contrário: os assaltos e tiroteios têm boas qualidades, como visuais e desempenho competentes, boa jogabilidade e ótimas mecânicas para jogar cooperativamente. A questão é que ainda falta muito para oferecer uma experiência mais completa, sobretudo se comparado com o seu antecessor. Enquanto as necessárias atualizações não chegam, fica a sugestão para os fãs da série e quem quiser ir se preparando para um futuro que tem potencial para ser brilhante.

No aguardo para que os assaltos se tornem tão divertidos quanto antes

Prós

  • Jogo de tiro oferece uma experiência única e divertida para realizar assaltos e golpes;
  • Produções técnica e audiovisual são bastante competentes;
  • Jogabilidade é acessível e funcional;
  • Proposta cooperativa pode propiciar partidas incríveis, sobretudo graças aos sistemas cross-play e cross-progression;
  • Boa quantidade de conteúdo para liberar e customizar;
  • Potencial para atingir o mesmo patamar do seu predecessor.

Contras

  • Obrigatoriedade de cadastro via e-mail e conexão constante com a internet são frustrantes;
  • Diversos pontos carecem de melhorias, como as mecânicas furtivas e a inteligência dos bots;
  • Faltam mais modos de jogo além da campanha relativamente curta.
Payday 3 — PC/PS5/PS4/XBO/XSX — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Davi Sousa
Análise redigida com cópia digital cedida pela PLAION

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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