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Análise: COCOON (Multi) — explorando mundos dentro de mundos em um exótico puzzle

Momentos surreais e enigmas de dar nó na cabeça são os maiores destaques deste título indie.


Para avançar pelos exóticos cenários de COCOON, precisamos saltar, literalmente, para dentro e para fora de diferentes mini-universos. Produzido pelo designer de jogabilidade de Limbo e Inside, esse puzzle nos instiga com suas situações surreais e criativas, apesar das mecânicas simples. Uma ambientação misteriosa, em conjunto a alguns quebra-cabeças impressionantes, faz com que a experiência seja envolvente, por mais que o subdesenvolvimento de alguns conceitos impedem que o jogo alcance todo o seu potencial.

Desbravando universos surreais

De um estranho casulo nasce um ser humanoide com asas de inseto. Ele explora as intermediações, que apresentam curiosos dispositivos. O que ele busca? Qual é o seu objetivo final? Por que ele atravessa locais desconhecidos que misturam elementos biológicos e sintéticos? Junto do protagonista silencioso, tentamos descobrir o que está acontecendo.


Em sua essência, COCOON é um puzzle de exploração. No controle do exótico protagonista, desbravamos diferentes áreas em uma jornada misteriosa. Para prosseguir, o ser humanoide é capaz de ativar plataformas ou interagir com dispositivos para surgir caminhos, nada muito elaborado. A jogabilidade é centrada em um único botão, cuja ação depende do contexto.

A aventura realmente começa quando saltamos para fora de algum mundo pela primeira vez. Os mini-universos assumem a forma de uma esfera, que pode ser encaixada em conectores para ativar interações diversas, como abrir portas ou mover dispositivos. Além disso, em pontos específicos, é possível pular para os mundos dentro dos orbes, e muitos dos enigmas exigem navegar entre eles para serem resolvidos.


O objetivo, então, é manipular os globos para resolver inúmeros quebra-cabeças. Além de funcionar como chave para ativar certos dispositivos, cada esfera tem um poder especial. A de cor laranja, por exemplo, lança uma aura que revela caminhos invisíveis nas proximidades; já o poder do orbe verde é capaz de fazer certas estruturas alternarem entre os estados sólido e gasoso, o que nos permite alcançar novos locais. Mais mundos e habilidades aparecem no decorrer da aventura, trazendo novas possibilidades ao protagonista.

Manipulando cenários alienígenas para avançar

O conceito sem igual de COCOON me instigou desde o início, e uma série de ideias muitíssimo interessantes me surpreendeu com frequência. Mecanicamente, o jogo não é nada de mais, pois basicamente se resume a mover plataformas, fazer surgir pontes ou carregar objetos. Porém, a maioria dos puzzles é intrigante e surreal, com algumas situações que parecem simples, mas que exigem muita criatividade e observação — há de tudo um pouco, como desafios de lógica, de agilidade e de observação de elementos dos cenários.


A grande sacada do título está no conceito de entrar ou sair de mundos. Além de ser visualmente impressionante, muitos dos puzzles nos forçam a usar esse recurso com inteligência para seguir. Em um trecho, por exemplo, eu precisava guiar um pequeno robô capaz de abrir certas portas. No caminho, porém, havia lasers que se moviam e destruíam o dispositivo. A solução foi simples: saltei para o mundo externo, esperei o perigo ficar na posição certa, depois adentrei novamente a esfera e segui pelo caminho sem perigos. Parece algo banal, mas bati um pouco a cabeça tentando encontrar uma maneira de prosseguir.

Com o tempo, as coisas ficam cada vez mais complexas. São comuns, por exemplo, situações em que precisamos carregar várias esferas simultaneamente, mas precisamos do poder de uma delas para atravessar algum obstáculo. O desafio então é encontrar maneiras de fazer vários passos complicados, muitas vezes saltando entre mundos. Cada mini-universo tem bioma e desafios próprios, o que traz uma constante sensação de novidade.


A jornada é calma e meditativa, mas há também momentos de tensão em lutas contra chefes. Os embates contra essas criaturas são intensos, apesar de funcionarem como puzzles: é necessário fazer passos e ações específicas para ferir os mestres, em encontros que são uma mistura de observação, tentativa e erro. Particularmente achei ótimos os combates, pois trazem um aspecto de ação pouco visto na jornada principal, além de serem criativos e visualmente impressionantes.

Enfrentando algumas ideias subdesenvolvidas

Mesmo com comandos simples, COCOON nos desafia com situações que, em um primeiro momento, parecem impossíveis de resolver. Porém, basta um pouco de insistência para conseguir avançar, e muitas vezes fiquei deslumbrado com a solução, que costuma ser simples e elegante.


No entanto, é muito fácil também se irritar ou ficar preso nos enigmas. Muitos deles têm dicas extremamente sutis ou passos muito específicos e obtusos, o que dificulta a sua conclusão. O jogo tenta ajudar limitando a nossa área de atuação, mas nem sempre é suficiente para evitar a frustração. Com o tempo, eu entendi que as ferramentas da solução sempre estão próximas, então passei a tentar observar os problemas de outros ângulos para resolvê-los.

Outra questão que me incomodou foi a inconsistência da qualidade e da complexidade dos puzzles. A mecânica de colocar um mundo dentro de outro e de saltar entre eles é única, mas é subaproveitada: na maior parte do tempo, usamos isso somente para carregar várias esferas simultaneamente. Além disso, algumas tarefas são banais demais, bastando bater o olho para ver claramente a solução.


Por fim, há muitos trechos em que simplesmente levamos os orbes de um lugar para o outro repetidamente, o que torna a exploração um pouco cansativa, principalmente pela limitação de poder carregar um único objeto por vez. Fica a sensação de que é algo para preencher espaço e estender artificialmente a duração da aventura.

Ao listar esses problemas, pode parecer que a jornada em si seja banal; pelo contrário, os enigmas são interessantes e instigantes, só faltou mais balanceamento. Por sorte, no terço final da aventura, aparecem puzzles que exploram a ideia de mundos dentro de outros de maneira sensacional, combinando os conceitos individuais em momentos recursivos complexos e impressionantes que valem a pena.



Desbravando um misterioso conto cósmico 

Junto com os puzzles, COCOON intriga com sua atmosfera cósmica surreal. A jornada se passa em um universo alienígena desolado repleto de dispositivos biomecânicos enigmáticos que nos fazem perguntar o que está acontecendo ali. A trama em si é vaga, com a possível história sendo mostrada puramente por elementos visuais — ficar atento aos detalhes dos cenários é a melhor maneira de tecer teorias, mas, no fim, há mais perguntas do que respostas.


Graficamente, o jogo abusa de cores contrastantes e texturas para criar seus ambientes. Tecnicamente é simples, mas a mistura de elementos é bela e impactante. Destaco os mundos dentro dos orbes com suas paisagens diversas, como uma região árida com dunas de cor laranja, uma estação abandonada em um pântano e uma caverna tomada por casulos e membranas.  Ângulos de câmera dramáticos e uma trilha sonora minimalista pontual potencializa o tom de mistério deste universo.

No campo do conteúdo, a jornada é bem contida e linear, durando aproximadamente quatro horas. Há alguns colecionáveis escondidos em caminhos alternativos, mas, fora isso, não há motivos para revisitar a aventura. Mesmo assim, a duração é bem dosada e sem enrolação.



Enigmático e impressionante

COCOON brilha em vários aspectos, oferecendo uma experiência única de exploração e resolução de quebra-cabeças. Sua mecânica de mundos dentro de mundos e a capacidade de saltar entre eles traz inovação ao gênero com desafios criativos, e as lutas contra chefes acrescentam uma dimensão de ação à aventura. Além disso, a ambientação misteriosa cativa, proporcionando uma jornada envolvente e visualmente impressionante.

No entanto, o jogo não está isento de pontos negativos. Alguns quebra-cabeças podem ser frustrantes devido a dicas sutis ou passos específicos e obtusos, o que pode resultar em momentos de irritação. Além disso, a inconsistência na qualidade e complexidade dos enigmas, juntamente com a repetição de tarefas simples de transportar orbes, prejudicam o equilíbrio geral.

No fim, COCOON é uma experiência que vale a pena para os fãs de puzzles de exploração, especialmente aqueles que apreciam um toque surreal na ambientação. Embora tenha seus desafios e imperfeições, as ideias criativas e os momentos impressionantes ao longo da aventura compensam os obstáculos que podem surgir.

Prós

  • O conceito principal único de mundos dentro de mundos cria enigmas interessantes;
  • Boa variedade de quebra-cabeças com complexidade crescente;
  • Batalhas contra chefes empolgantes;
  • Atmosfera cósmica bem construída com cenários belos e intrigantes.

Contras

  • Desequilíbrio entre a complexidade e dificuldade dos quebra-cabeças no decorrer da campanha;
  • As soluções de alguns puzzles são desnecessariamente obtusas demais;
  • Muitos momentos de vai e vem que não acrescentam nada à experiência.
COCOON — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Annapurna Interactive

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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