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Análise: Avatar: The Last Airbender - Quest for Balance (Multi) é uma falha desastrosa de trazer a lenda de Aang aos videogames

Errando na execução de todas as ideias, temos mais um produto ruim de Avatar nos videogames.

Minha experiência com Avatar: The Last Airbender - Quest for Balance me transportou de volta aos tempos da minha juventude, quando adorava jogar títulos baseados em programas de TV. Seja no PS1, PS2 e DS, controlar personagens como Ben 10 ou Bob Esponja em aventuras jogáveis era tudo o que uma criança poderia desejar, mesmo não sendo de grande qualidade ou até mesmo ruins.


No entanto, os tempos mudaram, e questões como o design de um jogo e as preferências do público-alvo também evoluíram. As produções tie-in hoje, quando existem, se direcionam para plataformas mais econômicas de se produzir e que oferecem um retorno maior, como os dispositivos móveis. É nesse contexto que o título, desenvolvido pela Bamtang Games e baseado na obra-prima da Nickelodeon, se encontra: uma produção de 2023, que se classificaria como um dos piores exemplos dos anos 2000.

Recontando a lenda de Aang

Quest for Balance cobre todos os três livros (as temporadas) do desenho, apresentados como uma conversa entre Iroh, Bumi, Pakku e Zongying — esta última é uma personagem exclusiva do jogo. Essa abordagem permite certas liberdades para o gameplay, como a ambientação e as side quests.

No entanto, devido às limitações de orçamento, a história é apresentada de forma simplificada, pulando alguns eventos importantes da série e resumindo partes cruciais apenas em texto. Quando é exibida em cutscenes, é dividida entre cenas com imagens parcialmente animadas e CGs de baixíssima qualidade, além de diálogos em texto dentro da jogatina.

A narrativa sofre ainda mais devido ao fraco trabalho de dublagem. Nenhum dos dubladores originais da série reprisa seus papéis, e o desempenho da maioria dos atores de voz é decepcionante, especialmente para os personagens principais. Além disso, não há nenhum trabalho de tradução em português.

Pegue isso, faça aquilo, repita 1000 vezes

A estrutura de Quest for Balance é extremamente simples, com 18 capítulos que consistem principalmente em explorar pequenas áreas e completar missões. A maioria das missões envolve tarefas como coletar um número específico de itens, resolver quebra-cabeças simples como mover caixas para locais específicos ou encontrar personagens na região.

Para tentar estender a duração do jogo, existem algumas side quests que não diferem muito das missões principais, geralmente sendo fetch quests. A recompensa por completá-las inclui itens, moedas para gastar com mercadores, e peças de Pai Sho, que são usadas para melhorar os personagens.

No entanto, um aspecto que afeta negativamente o ritmo do jogo são os desafios do guru Pathik. Cada capítulo apresenta uma série de quebra-cabeças, com baixa variação. Embora não sejam particularmente difíceis, a obrigatoriedade e falta de coesão dos desafios com a história contada acaba se tornando um incômodo. Felizmente, o jogo oferece a opção de jogar cooperativamente, tanto localmente quanto online, deixando essas sessões mais toleráveis.
Há algumas fases de montaria que funcionam como um endless runner, e são extremamente desengonçadas.

Combate engessado

O combate se resume, na maioria das vezes, ao “esfrega botão”. Além dos ataques normais básicos, cada personagem possui uma habilidade que utiliza seu elemento característico — os dobradores usam seus elementos, enquanto os não dobradores usam suas armas. Além disso, cada personagem tem um terceiro recurso único, como a cura da Katara que funciona nos membros do time, um chicote de fogo do Zuko, e a percepção sísmica da Toph, que detecta paredes quebráveis.

Na tentativa de criar um senso de progressão, cada herói possui sua própria árvore de habilidades, oferecendo melhorias como aumento da velocidade de ataque, aumento de dano, aumento na defesa e melhorias nas habilidades especiais. Além disso, todos os dobradores têm a capacidade de aprimorar seus recursos através da obtenção de pergaminhos, desbloqueando novos combos e melhorar os já existentes.

No entanto, a execução do sistema de combate em Quest for Balance deixa muito a desejar. Apesar de ter uma base sólida, a falta de impacto das batalhas e as animações pobres prejudicam a experiência geral. A câmera fixa também torna difícil acompanhar o que está acontecendo durante e fora das lutas, e o sistema de mira automática não ajuda muito, chegando a falhar em alguns momentos.

Inconsistência técnica

Quest for Balance não é grande coisa graficamente. O visual busca a identidade cartunesca da obra original e até consegue entregar algumas áreas agradáveis. Entretanto, a construção geral dos caminhos visitados são bem básicos e nada memoráveis, com pouca fidelidade às localidades vistas no desenho.

A modelagem dos personagens, tanto NPCs quanto jogáveis, também deixa muito a desejar. A animação geral é de baixa qualidade, com falta de expressão durante as cutscenes, incluindo a ausência de animação labial nos diálogos.

Além do péssimo trabalho de dublagem, não há muito a comentar sobre a parte sonora. Tem uma ou outra música que pode ficar um pouco na cabeça durante a jogatina, mas pode marcar mais pela repetitividade delas que pela qualidade em si.

Vale adicionar que a versão de PC possui quase nenhuma customização nas configurações gráficas, se resumindo a predefinições de qualidade baixa, média e alta. Não há opções de resolução, modo de tela, VSync (cujo a ausência me atormentou com screen tearing durante toda a experiência), brilho, entre outras opções.

Avatar merece muito mais

Atualmente, a franquia Avatar está recebendo mais atenção devido às novas produções anunciadas para TV, streaming, cinema e quadrinhos. O rico universo criado em 2005 terá novas oportunidades para atrair novos públicos e continuar a encantar o público já consolidado. 

No entanto, é lamentável que os games baseados na franquia não estejam recebendo o mesmo cuidado visto em outras formas de entretenimento. Mesmo com tentativas com algum potencial, como o jogo baseado em A Lenda de Korra, não tivemos um título realmente bom, e Avatar: The Last Airbender - Quest for Balance não vai mudar esta situação.

Prós:

  • Alguns cenários são agradáveis;
  • Modo cooperativo tanto local, quanto online.

Contras:

  • Estrutura geral de gameplay é extremamente repetitiva;
  • Combate insatisfatório e muito básico;
  • Péssimo trabalho de dublagem;
  • A câmera fixa atrapalha demais, principalmente nas sessões de plataforma;
  • Animações muito duras, tanto em cenas quanto na jogabilidade;
  • A forma como a história é contada não faz jus à narrativa original;
  • Falta de customização gráfica no PC;
  • Falta de tradução em português.
Avatar: The Last Airbender - Quest for Balance — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 3.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela GameMill Entertainment

Estudante de enfermagem de 24 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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