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Análise: Paleo Pines (Multi) nos convida a construir um encantador rancho de dinossauros

O gerenciamento dos dinos é mais interessante que o visual genérico.


Paleo Pines
entra na linha de simuladores de fazenda de uma forma bastante específica: rancho de dinossauros. Nele, você vai plantar, regar, colher, criar animais, explorar, decorar, interagir com a população local, participar de festivais e gerenciar as finanças. O diferencial é que tudo isso gira em torno dos dinos. Os propósitos convergem, evitando que a gameplay corra o risco de se perder em mil rumos e opções distintas.

Do campo ao deserto

Existe uma campanha a ser seguida com missões claramente registradas no diário. Para progredir e abrir as três áreas do jogo, as habilidades dos dinossauros serão necessárias. A primeira é onde o rancho está localizado: o largo Vale Verdejante, que também comporta o mercado da Praça do Seixo e as casas de alguns NPCs.




Consiga um dino forte e capaz de quebrar as pedras que bloqueiam a estrada para o labiríntico Bosque Malhado e esse local ficará livre para ser explorado com seus novos dinossauros e recursos de coleta. O acesso ao Cânion de Ariacotta será um pouco mais complexo e será mais demorado, mas finalmente completará os três biomas disponíveis no jogo, cada um com seu próprio mapa.

O rancho em si também apresenta uma forma de progressão baseada em especialidades dos hóspedes pré-históricos. De início, apenas o terreno diante da casa está livre e deve ser limpo com a ajuda do parassaurolofo co-protagonista. Logo podemos perceber que há outros terrenos circundantes, obstruídos por pedregulhos, troncos caídos e vegetação densa. Com os dinos certos para o serviço, a área habitável e produtiva será gradualmente expandida.



Quem quer cavalgar um T-Rex?

Ao todo, são 38 espécies de dinossauros para catalogar, chamar com a flauta, convidar ao rancho, nomear, acomodar em currais adequados, descobrir as comidas favoritas, desenvolver amizade e usufruir de suas habilidades especiais.

Mesmo com o visual fofinho e carismático, todos eles representam espécimes cientificamente registrados, tendendo a seguir a hipótese paleontológica de que vários dinos eram cobertos de penas, aparentados aos pássaros.




Há várias informações para nos guiar na maneira de como devemos tratá-los. Alguns gostam de ficar em bandos pequenos, enquanto outros preferem rebanhos maiores. É herbívoro, carnívoro ou onívoro? Gosta de comida crocante ou suculenta? Qual é o espaço necessário para o curral? Esse tipo de detalhe, facilmente acessado no diário, deve ser levado em consideração, mas nem todos os sistemas em andamento são explicados claramente no guia do menu de jogo, por mais farto que seja.

Após avançar no relacionamento com os dinossauros, será possível equipá-los com selas e montá-los para viajar com maior rapidez. Sim, isso inclui o tiranossauro rex; apenas os pequenos não são capazes disso. Ao andar, correr e usar habilidades, seus companheiros ganharão experiência para subir de nível e, com isso, aumentar justamente o Vigor necessário para correr e usar as habilidades, compondo um ciclo simples e coerente.



Uma experiência tranquila e relaxante

Parte da beleza de Paleo Pines é que o jogo busca ser, de fato, relaxante. O gerenciamento do estresse é bem executado graças à flexibilidade do tempo. Não há um relógio na tela para te apressar. Os dias fluem da manhã para a noite com naturalidade, sem pressão. Faça o que tiver que fazer, divirta-se e vá dormir. Simples assim, sem ameaças de penalidades.

Exceto por datas específicas e as árvores frutíferas sazonais, tudo o que pode ser feito hoje também pode ser feito amanhã. Isso retira a ansiedade de otimizar o lucro e o tempo gasto nas tarefas. Aqui, tempo não é dinheiro.




Nenhuma das missões tem prazo concreto. Elas apenas ficam lá, esperando que você as complete no seu próprio ritmo. Por exemplo: logo no começo, um personagem solicitou uma quantidade de flores para o Dia do Broto (aniversário) do tio. Eu só concluí a missão cerca de duas semanas depois, mas o resultado foi o mesmo.

Essas missões são um motor para que o progresso continue fluindo. Quase todas são fetch quests sem profundidade, ou seja, missões de obter itens e levá-los do ponto A ao ponto B. A agilidade delas impede que sua repetição seja um problema grave, mas existe um limite muito baixo para quantos chapéus e cadernos você pode repassar aos amigos antes de isso se tornar irrelevante. Para agravar, é sempre o mesmo pessoal que pede os mesmos favores; os NPCs que merecem nome e individualidade mal chegam a dez.


O objetivo, porém, é fazer a roda da gameplay girar. Certas escolhas de design não são bonitas, mas são melhores do que a alternativa crua. As fetch quests, por exemplo, ficam banais, mas fornecem dinheiro e sementes que serão úteis para manter as demais atividades acontecendo.

Um vale não tão verdejante

Outro design ambivalente que posso citar é a falta de ambientes interiores, como as lojas, a sua própria casa e as dos amigos. As ações da casa são feitas diretamente na porta, por meio de um menu, e as lojas são apenas barracas na praça. Apesar de ser uma escolha de design acertada, uma vez que ambientes internos levariam apenas a transições de tela e carregamentos desnecessários, perdemos com isso parte da personalidade dos locais e de seus moradores.




A pesquisadora de campo Mari vive em uma casa na árvore que aparece até na capa do jogo, mas o fato de não podermos acessá-la corta metade do interesse pela ideia. Vira mera decoração, quando poderia ser estímulo para uma ambientação mais detalhada. O próprio rancho do protagonista é puro quintal. A casa é sem vida, trancada. Você pode adquirir mesas e cadeiras, mas não tem uma sala para colocá-las; contente-se em arrumar o jardim.

As paisagens são agradáveis, mas não se destacam nem mudam de forma significativa ao longo das três estações do ano (não há inverno), basicamente variando a paleta de cores. Na verdade, exceto pelos dinossauros, a parte gráfica como um todo não me agradou.

Podemos ver texturas de baixa qualidade e uma arquitetura poligonal que lembra tempos mais humildes. Somando a isso, as cores vívidas e de poucas nuances contribuem para uma impressão não elogiosa de aparência genérica de desenho animado em CGI (basta percorrer o menu infantil de plataformas de streaming para ver do que estou falando).



Os personagens também caem nessa categoria e a maioria parece bonecos sem muita expressão. Nosso personagem é o pior, sempre com um sorriso fixo no rosto. Podemos até escolher o cabelo e as cores da pele e dos olhos, mas o molde é único e invariável. Até a escolha de gênero ocorre apenas na sua cabeça, uma vez que você poderá usar roupas e cabelos que preferir.

Em vez de liberdade de criação, a indefinição representa uma estranha falta de possibilidades. Seria de se esperar ao menos umas poucas opções de rostos, talvez até de corpos.



Ele me seguiu até em casa!

O vínculo do jogador-rancheiro com seus animais é relacional. Você não é dono dos bichos, não pode comprá-los ou vendê-los. A forma de iniciar o contato é usar sua flauta para atraí-los e usar o chamado de amizade de cada espécie. Quando tiver a atenção do animal, dê comidas até que o medidor chegue no ponto certo. Nesse ponto, ofereça o poppin (bolinhos de sabores variados) preferido e uma mensagem dirá que o dinossauro confia em você e irá segui-lo até o rancho.

Agora, cabe a você mantê-lo feliz. Sabe a famosa passagem de O Pequeno Príncipe que diz “tu te tornas eternamente responsável por quem cativas”? É assim que Paleo Pines quer que você faça. A rotina diária incluirá manter o cocho cheio de comida, limpar o cocô do curral, dar atenção aos bichos e oferecer-lhes seus petiscos favoritos.




Essas tarefas são essenciais para que a relação entre vocês cresça. Em seu nível mais baixo, um dinossauro é considerado Visitante. Após receber cuidado e atenção suficientes, ele será um Amigo e, depois, Ajudante. É nesse ponto de confiança que você quer chegar para que o dinossauro se deixe ser montado e empreste suas habilidades de corrida, irrigação e quebrar destroços, rochas, troncos e arbustos.

Negligencie o bem-estar de seus convidados abaixo do nível Amigo e uma mensagem surgirá avisando que eles sentem vontade de ir embora, o que realmente farão se você não mudar seus modos.

A mentalidade aqui é que a comunidade, incluindo o rancho, existe em harmonia com a fauna jurássica; um faz parte da vida do outro em um ecossistema equilibrado.

O retiro ao campo em busca por uma vida mais significativa é um tema recorrente em farm sims e em Paleo Pines não é diferente. Tempos atrás, você ganhou um ovo e dali nasceu um parassaurolofo. É claro que sua miopia urbana lidou com o dino como um pet de apartamento, mas não demorou até que atingisse um tamanho que tornasse a situação impraticável.




Foi então que chegou um convite para ocupar o rancho no Vale Verdejante, um local acolhedor para criaturas desse tipo. Lá, todos ficam surpresos com o parassaurolofo, há muito tempo considerado um animal raro na região. Onde estarão os outros? É aqui que a história começa.

A vida encontra um caminho

Paleo Pines acerta em colocar seu principal atrativo no centro de tudo: os dinossauros. Abrir novas áreas e descobrir mais dinos forma uma campanha de ritmo natural, sempre avançando um pouco mais. Ainda que os visuais em geral não tenham nada de especial, o design fofo dos bichos pré-históricos encanta com carisma e funciona em harmonia com a leveza do gerenciamento.



Prós

  • Os dinossauros combinaram muito bem com o gênero de simulador de fazenda;
  • O jogo como um todo foca nos dinos, sem se perder em alternativas supérfluas;
  • A progressão é coesa e relaxante, sem pressão de tempo;
  • As informações dos dinos, calendário e missões são organizadas no diário de forma clara e útil;
  • Textos traduzidos para português brasileiro.

Contras

  • Os gráficos não são atraentes: as animações de personagens são limitadas, há texturas de baixa resolução e o sistema de luz e sombra não fornece profundidade ao estilo colorido;
  • Não é possível entrar nas casas, nem mesmo na sua, deixando a mobília e decorações para o jardim;
  • Há poucos NPCs relevantes para interagir;
  • Alguns sistemas não são bem explicados no guia do menu.
Paleo Pines — PS4/PS5/PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Modus Games

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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