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Análise: Haunted House (Multi) é uma reimaginação criativa de um marco do survivor horror, mas que não assusta

Ajude a jovem Lyn a salvar seu tio e seus amigos, aprisionados em uma mansão cheia de monstros e quartos que mudam a cada partida.

Em 1982, o programador James Andreasen desenvolveu Haunted House para o Atari 2600. Por mais que os borrões coloridos na tela exigissem uma boa dose de imaginação, o jogo foi considerado um precursor do que viria a ser o gênero Survival Horror, o qual depois foi popularizado por franquias como resident Evil, Silent Hill e Alone in The Dark.

Para aproveitar esta “herança” de quatro décadas, a Orbit Studio criou uma reimaginação do original, também batizada de Haunted House, com uma proposta um pouco mais voltada para o roguelike, mas sem perder a essência clássica.

Mansão Labiríntica

Lyn Graves é a sobrinha do famoso explorador e caçador de tesouros Zachary Graves. Após seu tio sumir investigando uma mansão, a garota reúne seu grupo de amigos para salvá-lo, mas se encontra em um lugar bastante incomum. A mansão em questão é comandada por fantasmas e assombrações, que também capturam sua turma. Agora cabe à garota resgatar todo mundo, contando apenas com a ajuda de sua lanterna e do fantasminha Spooky, antigo assistente do seu tio.

O desafio de Haunted House é proposto pelos conjuntos de salas, que se apresentam ao jogador de maneira aleatória, mas sempre com os mesmos objetivos: quebrar correntes fantasmas pelo cenário com a sua lanterna, exterminar todos os inimigos daquele espaço ou abrir todos os baús para encontrar uma estatueta para colocá-la em um pedestal no centro da sala.

Para isso, podemos coletar e posicionar armadilhas que causam distrações pelo caminho, como poças de gelo, bonecos infláveis e até uma caixa-supresa que solta uma luva de boxe. Estes itens se juntam ao nosso movimento básico de ações, o que envolve correr, caminhar lentamente, para não fazer barulho, e rolar no chão.

No quesito jogabilidade, controlar Lyn é algo fácil, pois seus movimentos são básicos. Só temos que tomar cuidado para não esbarrar em nada ao andar (já que isso chama a atenção dos monstros), e ficar atento com a barra de estamina, que se esgota rapidamente se realizarmos muitas esquivas em um curto espaço de tempo ou se corremos sem parar.

O problema aparece na hora de soltar uma armadilha. Mesmo podendo escolher o lugar, parece que em alguns casos elas não agem efetivamente, e além de chamarem o monstro para a nossa direção, também não ficam exatamente onde queremos. Assim, a abordagem furtiva dá lugar a uma fuga pela vida de Lyn, que quase nunca dá certo pois ela sempre acaba emboscada segurando sua lanterninha.

O que pode salvar a vida da garota é coletar gemas, utilizadas para a compra de upgrades, como melhorar a força da lanterna, ter mais espaços no inventário e aumentar os seus corações. Entretanto, elas não aparecem facilmente, o que torna o grinding de habilidades e melhorias um pouco cansativo, mas nada fora do comum.

Para mim, o maior atrativo de Haunted House ficou pela jogabilidade stealth. Me diverti tentando fazer silêncio para não ser capturado por nenhum monstro enquanto cumpria os objetivos. Entretanto, os momentos de combatê-los cara-a-cara, ficaram um pouco mais frustrantes, já que a velocidade e força das ameaças sempre é maior que a nossa, mesmo com alguns upgrades.

Os mesmos monstros atrás das mesmas portas

Tal qual o jogo original, temos que percorrer as salas da mansão enquanto evitamos ser pegos pelas criaturas no caminho, só que agora temos alguns artifícios para facilitar a missão. A lanterna que carregamos causa dano aos inimigos, mas é muito fraca e nos transforma em uma presa fácil. Então, a melhor abordagem sempre é a furtividade, pois um monstro pego de surpresa não tem chances de reação.

As salas da mansão mal-assombrada se modificam a cada partida, mas não é difícil decorar o padrão dos desafios e criaturas à medida em que eles se repetem continuamente, com exceção da aparição dos chefes, que dão uma diferenciada bacana nas coisas. Para derrotá-los, primeiro temos que achar os pedaços de um artefato que irá enfraquecê-los, para aí sim dar fim a eles. 

No mais, como em qualquer roguelike, o jogador irá começar e falhar inúmeras vezes até conseguir juntar recursos para uma melhora considerável nos seus atributos, e aí sim superar os obstáculos com facilidade. Só que a repetitividade nesse processo cansa, e o aspecto visual e o sonoro acabam contribuindo para isso.

Os desenhos feitos a mão e estilo cartunesco são bonitos, criando uma atmosfera amigável para um título que tem DNA de survival horror, mas os ambientes se repetem com uma certa facilidade. Como o campo de visão é isométrico - visto por cima -, logo que entramos em uma sala já temos noção de pelo menos uma boa parte do caminho entre uma porta e outra, pois o campo de visão das criaturas é previsível assim como os tipos de obstáculos que estão pelo caminho.

A parte auditiva não tem um ponto forte de destaque, como é com o visual. O tema principal até que é bacana, mas ele é tocado infinitamente enquanto perambulamos na ponta dos pés entre um quarto e outro. Isso, somado à ausência de vozes ou a presença de ruídos marcantes, torna o desempenho sonoro desprovido de qualquer apelo. Outro deslize é que, mesmo com o jogo contendo textos em português, diversas frases dos balões de fala permaneceram em inglês, bem como a propriedade dos itens que coletamos nas fases.

Uma solução simples, que poderia ser implementada com base no fato de ser uma reimaginação do clássico, seria utilizar um pouco mais a mistura da ausência de luz e som, para criar uma atmosfera levemente mais assustadora. Digo isso não para deixar o horror se sobrepor ao ritmo mais leve proposto por esta versão de Haunted House, mas criar uma espécie de suspense nos moldes de Scooby-Doo, por exemplo.

Um susto moderado

Haunted House é uma boa maneira de reinventar um clássico dos anos 1980, com uma diversidade bacana de elementos. Entretanto, ele está em um meio termo de não ser um roguelike que prende a atenção dos fãs do gênero, mas também não alivia com quem não tem intimidade com o estilo. Ou seja, se você entrar nessa mansão, tenha certeza de que não se dará por vencido facilmente.

Prós

  • O visual desenhado a mão é bonito e compõe um clima interessante;
  • A jogabilidade furtiva combinada com os elementos de roguelike é bem implementada;
  • As batalhas contra os chefes, aliadas à aleatoriedade das salas, apresentam um desafio bacana.

Contras

  • Padrões das salas e missões se repetem facilmente;
  • Armar armadilhas é um pouco impreciso;
  • Grinding um pouco demorado para ter habilidades decentes;
  • A parte sonora é fraca;
  • Alguns balões de fala estão sem tradução.   
Haunted House — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Atari

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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