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Análise: Disgaea 7: Vows of the Virtueless (Multi) repensa os erros e acertos de seu antecessor em um contexto de Japão feudal

O novo jogo da franquia de RPGs estratégicos é uma resposta sincera aos feedbacks negativos de Disgaea 6.

Disgaea 7: Vows of the Virtueless
é o mais novo jogo da prolífica série de RPGs estratégicos da Nippon Ichi Software. No título anterior, a empresa havia testado uma série de mudanças que incluíram a transição de sprites 2D de personagens para modelos 3D e a adição de um sistema de batalhas automáticas.

Apesar de suas qualidades, os fãs tiveram uma recepção negativa a Disgaea 6, já que ele havia reduzido a variedade de classes e gerado uma sensação de desvalorização do esforço de combate manual. Disgaea 7 surge, então, como uma resposta a esses feedbacks negativos, buscando renovar a confiança do público.

Uma terra de samurais

Em Disgaea 7, somos apresentados a um novo Netherworld chamado Hinomoto. Nessa área com clara inspiração no Japão feudal, os demônios acabaram desenvolvendo-se de forma bem diferente do usual, tendo vários fiéis seguidores do código do Bushido. Porém, um dia, um grande vilão chamado Demmodore Opener invadiu e dominou os mundos de Hinomoto, subjugando as pessoas a uma realidade na qual a ética foi deixada de lado.
 
Neste contexto, somos apresentados a dois personagens principais com posturas antagônicas: de um lado, temos Pirilika, uma otaku vidrada em todo tipo de coisa japonesa que sonha em ver o Bushido na prática; do outro, Fuji é um samurai que abandonou totalmente o código de honra e só quer pagar suas altas dívidas. O encontro dos dois dá início a uma jornada que promete virar Hinomoto de pernas para o ar.
Assim como nos outros Disgaea, a ideia principal da trama é a de uma representação cômica que faz piadas com estereótipos variados. Apesar de esse tipo de história não agradar a todo mundo, a trama é muito bem pensada, brincando com conceitos deturpados de dramas de época japoneses e com personagens que agem de formas intencionalmente extravagantes e excessivas.
 
Juntos, Fuji e Pirilika acabarão encontrando vários aliados em uma missão para recuperar armas especiais que estão sob o controle do exército de Demmodore. Pouco a pouco, mais detalhes sobre o passado dos personagens vêm à tona, oferecendo um mundo bem pensado e cujas sátiras são inteligentes e divertidas.

Empilhando estratégias

Disgaea é uma série de RPGs estratégicos no formato tático em que o jogador deve movimentar a sua equipe em mapas que funcionam como uma espécie de malha quadriculada. Cada ataque, magia ou habilidade especial que o jogador pretende usar possui uma área de efeito específica, forçando-o a sempre ter em mente o melhor posicionamento. Golpes por trás ou pelos lados ganham dano adicional e o fator altura também influencia a movimentação de personagens e o alcance de suas habilidades. Podemos até segurar e arremessar unidades de um lado para o outro.
 
A campanha principal pode ser acessada por meio de um menu de mapas, havendo também uma outra área chamada Item World com andares gerados aleatoriamente com base nos parâmetros de um determinado item. Sempre é possível revisitar um mapa da campanha para treinar seus personagens e, uma vez concluído um mundo, há desafios opcionais que podem ser desbloqueados explorando as localidades.
De forma geral, é interessante notar que o jogo tem uma grande quantidade de mecânicas que o jogador pode explorar para fortalecer seus personagens. Mais do que a campanha principal, Disgaea é uma série conhecida pelo grinding infinito que dá ao jogador a liberdade para gastar centenas de horas fazendo os personagens mais “roubados”, e Disgaea 7 não é exceção à regra.
 
A principal novidade de Disgaea 7 fica por conta das adições das mecânicas de Jumbification e Hell Mode. Cada um dos personagens principais que possuem uma das armas lendárias pode usar o Hell Mode para ganhar um benefício temporário e poder usar um golpe especial caso tenha concluído os requisitos específicos.
Já o Jumbification pode ser ativado quando o jogador tiver levado dano o suficiente para encher sua barra de fúria e permite transformar os personagens em versões gigantes estilo kaiju. Essas duas mecânicas são formas bem exageradas de virar o jogo durante as disputas mais complicadas, com impacto significativo na estratégia geral, mas o mesmo vale para os inimigos.
 
Também estão incluídas no jogo mecânicas tradicionais como Reincarnation para mudar classes e fortalecer aliados (e agora itens também), a Dark Assembly, e a formação de Squads (grupos para compartilhar habilidades e benefícios). Com tantas opções, o título realmente oferece uma vasta liberdade para o jogador montar equipes ultrapoderosas.

Repensando a automação

Um dos pontos mais controversos de Disgaea 6 foi a adição da automação. Não há dúvidas de que é um fator bastante importante para simplificar o processo de fortalecimento dos personagens por meio de grinding. Porém, isso acabou levando a questionamentos sobre a desvalorização do esforço manual do jogador, já que manter o auto-battle para o jogo todo seria mais ágil e eficiente.
 
Para lidar com esse problema, Disgaea 7 adiciona várias restrições. Primeiramente, cada turno de auto-battle agora consome uma energia chamada Poltergas que só é obtida jogando manualmente. Também não é possível usar o sistema em fases que ainda não foram concluídas. Por fim, é nítido que o design das fases valoriza táticas mais complexas que podem ser difíceis de automatizar.
Pessoalmente, não acho que o Poltergas era uma mecânica necessária, até porque o sistema de batalha automática de Disgaea faz parte de uma “programação de unidades” chamada Demonic Intelligence. Ou seja, embora seja possível só colocar as unidades para bater sem pensar a fundo, o verdadeiro valor do auto-battle está em projetar logicamente as ações dos aliados para garantir os melhores resultados. Dessa forma, a proatividade do jogador no uso desse sistema continua relevante.
 
Porém, a tentativa de repensar a automação do jogo ajuda a entender as fragilidades desse sistema. A estrutura merece ser melhor pensada tanto para que novatos possam se sentir mais à vontade para usar a Demonic Intelligence de forma ativa quanto para dar conta de ações mais complexas. Ainda há espaço para aperfeiçoar esse sistema em próximos jogos.
 
De modo geral, Disgaea 7 também traz um estilo gráfico bem agradável e que consegue explorar os exageros da série, com modelos 3D bem caricatos e carismáticos. Também gostaria de comentar que os números de níveis, ataques e outros fatores estão de volta a padrões mais baixos do que os Disgaea 6. Pessoalmente, considero isso um passo para trás, porque a escolha estilística de números excessivamente grandes reforçava o exagero intencional da franquia, mas isso varia para cada jogador.

Um samurai com um canivete suiço de opções táticas

Disgaea 7: Vows of the Virtueless
é mais um jogo de alta qualidade da franquia e uma excelente opção para quem gostaria de um RPG tático ágil, frenético e bastante focado em uma gameplay maleável. Ainda há espaço para melhorias no quesito auto-battle, mas se trata de um novo ponto alto da série até aqui.

Prós

  • Como já tradicional da série, o jogo apresenta uma vasta gama de mecânicas que devem ser exploradas para dominar as suas possibilidades estratégicas;
  • Fases bem projetadas que valorizam o esforço do jogador;
  • Os sistemas Jumbification e Hell Mode são ferramentas úteis para virar o jogo em disputas mais complicadas;
  • História polida e interessante que consegue fazer piada com dramas de época;
  • Personagens carismáticos cujos dramas pessoais são bem pensados.

Contras

  • O sistema de auto-battle ainda tem espaço para melhorias significativas;
  • A volta dos números mais contidos enfraquece a sensação de exagero intencional da franquia.
Disgaea 7: Vows of the Virtueless — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
 Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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