Análise: WrestleQuest (Multi) combina luta livre e RPG em um criativo mundo de brinquedos

Produzido pela Mega Cat Studios e publicado pela Skybound Games, WrestleQuest é um curioso RPG ambientado em uma caixa de brinquedo conhecida como Brinquedoteca. Neste local, todos são amantes da luta e respiram o esporte, e muitos almejam o sucesso dentro dos ringues.

O jogo aproveita toda a estética e extravagância que o wrestling proporciona para criar uma aventura bem-humorada e um combate divertido, apesar de apresentar alguns problemas em seus trechos de exploração.

Wrestling: o esporte que todos amam

A história de WrestleQuest se passa dentro da Brinquedoteca, uma caixa de brinquedo onde o wrestling é o esporte mais tradicional e tudo no local gira em torno dele, desde a educação até os problemas políticos. Acompanhamos o ponto de vista de dois lutadores que almejam o sucesso que apenas a luta livre pode promover: Muchacho Man e Brink Logan.

Cada personagem possui um passado dentro do esporte e encontrará os mais diversos dilemas que uma luta “mentirosa” pode proporcionar. Para alcançar o topo, Muchacho e Brink estarão acompanhados de seus amigos lutadores e precisam enfrentar diversos competidores para se garantir como os melhores brinquedos da Brinquedoteca.

WrestleQuest aproveita toda a excentricidade do wrestling para criar um mundo único. Os personagens são caricatos e extravagantes, e seus diálogos transmitem com qualidade suas personalidades. Nesse sentido, vale destacar a localização para português brasileiro, adaptando com perfeição nomes e piadas para o nosso idioma, deixando a experiência ainda mais divertida.

Os gráficos também ajudam nessa imersão. Os sprites e cenários são ricos em detalhes e a mescla de brinquedos com elementos “reais” torna os ambientes da Brinquedoteca sempre únicos. O jogo também conta com a participação de diversos lutadores da vida real, o que certamente irá agradar aos amantes do esporte.

Lindo de ver, chato de explorar

A gameplay de WrestleQuest se divide, basicamente, em trechos de combate, exploração e diálogos que se intercalam por toda a aventura. Falando da exploração em si, acredito que ela seja a origem dos problemas que tornam a campanha um pouco desgastante.

Na minha opinião, existem alguns pontos que podem afetar a experiência dos jogadores. O mais grave é a colisão dos personagens com elementos dos cenários: você nunca sabe quando vai ficar preso em uma quina ou arbusto. Isso é mais agravante em trechos com ações que exigem precisão e agilidade nos controles, como desviar de focos de luz e lança-chamas. Muitas vezes entrei em batalhas desnecessárias e morri por conta do boneco ficar preso em alguma coisa.

Isso leva ao segundo problema, que são os puzzles. Como se já não fosse difícil tentar andar de um lado para o outro para resolver quebra-cabeças que exigem precisão, a maioria deles é sem graça e simples, não exigindo tanto planejamento, concentração ou mesmo capacidade de memorização.

Por fim, há duas coisas que em condições normais não seriam problemas, mas por conta do pacote só atrapalham a experiência. Primeiramente, o protagonista é lento e, como alguns cenários são extensos, circular por toda a área é uma atividade maçante; em seguida, há o mapa, que é simplesmente uma bola azul no canto da tela apontando para a região de interesse. Isso me gerou um desânimo enorme em explorar o ambiente.

Nada muito além de um RPG básico

WrestleQuest possui alguns elementos bem tradicionais do gênero RPG, como seu combate em turnos, personagens com funções diferentes, criação e utilização de equipamentos, ataques especiais, entre outras coisas.

Mas vamos começar pelo mais básico. Nossa equipe pode ser formada por até três membros; cada lutador possui um ataque básico e uma gama de ataques especiais únicos, que podem ter funções ofensivas ou passivas, como recuperar vida ou infligir status negativo nos oponentes. Com exceção do ataque básico, cada movimento consome a barra de especial dos membros da party.

O principal, no entanto, fica por conta dos golpes duplos e triplos, movimentos especiais que requerem a presença de personagens específicos para ser realizados. Eles são mais poderosos e consomem uma boa parte da barra de especial, então devem ser usados com cautela e em momentos oportunos. Todos os golpes são uma referência exagerada a movimentos da luta livre, e são sempre muito legais de ver.

Praticamente todas as ações ocorrem na forma de quick time events (QTE), momentos em que precisamos apertar um determinado botão na hora certa, seja para atacar ou se defender de algum golpe. Particularmente, eu não gosto muito de QTEs, mas o sucesso traz recompensas além de acertar o golpe: ele aumenta a euforia da plateia.

Como em toda boa luta de wrestling, a empolgação da plateia é fundamental para o espetáculo. Cada acerto dos nossos lutadores aumenta a euforia dos espectadores e nos dá bônus como aumento de ataque e defesa, recuperação da barra de especial e maiores recompensas ao fim da batalha. Mesmo não sendo uma campanha difícil, algumas lutas exigem mais atenção e planejamento; logo, esses bônus ajudam bastante no progresso.

Ainda que não crie nada revolucionário, o jogo consegue ter uma boa base de elementos para entregar um combate divertido. A variedade de personagens, movimentos, habilidades e equipamentos permite que os jogadores criem as mais variadas estratégias de batalha. A diversidade de inimigos também surpreende, com cada mundo tendo adversários únicos, que exigem diferentes abordagens estratégicas.

Falta muito para ser o campeão

WrestleQuest utiliza elementos da luta livre de maneira interessante para criar ambientes cativantes e um combate divertido. A mescla de brinquedos com elementos da vida real deixa cada cantinho do mapa muito atrativo e diferente, assim como suas lutas que exageram os diversos movimentos do wrestling.

No entanto, mesmo com as suas qualidades, é difícil não se desgastar com seus problemas. Navegar pelo seu mapa é uma atividade maçante, principalmente em trechos que exigem precisão, e é possível que você tenha que recomeçar muitas vezes por conta das falhas. É impossível não se frustrar.

No fim das contas, acredito que o saldo é positivo, principalmente pelo carisma dos personagens e os diversos elementos de personalização do seu combate. Caso ocorra alguma atualização corrigindo os seus problemas, é uma recomendação certa.

Prós

Os sprites e cenários são belíssimos, combinando brinquedos com itens do mundo real;
A localização para português está excelente;
Há uma boa variedade de personagens, equipamentos e habilidades que podemos combinar para criar estratégias de combate.

Contras

A colisão do protagonista com os elementos do cenário e sua lentidão interferem muito na exploração;
Os quebra-cabeças são simples e não oferecem muitos desafios.