Castlevania: Rondo of Blood (PC Engine): 30 anos de uma obra-prima dos tempos áureos da Konami

A aventura que introduz Richter Belmont ficou restrita ao Japão por anos, mas sua influência percorreu toda a franquia dali em diante.

em 30/09/2023
Algo comum durante as décadas de 1980 e 1990 eram as diferenças regionais na produção e lançamento de jogos. Muitas vezes, um título japonês não recebia uma versão americana, seja devido às divergências culturais ou à plataforma que rodaria o produto; às vezes ele até chegava ao Ocidente, mas cheio de alterações.


Castlevania: Rondo of Blood foi um desses exemplos que ficaram restritos ao Japão por muitos anos. Lançado para PC Engine CD, um add-on que proporcionava um drive óptico para o console da NEC, o jogo protagonizado por um dos Belmont mais famosos conquistou popularidade aos poucos em todo o mundo e, hoje em dia, é considerado por muitos como o melhor Castlevania clássico, se não o melhor da franquia.

O nobre caçador de vampiros

Rondo of Blood se passa em 1792, apresentando Richter Belmont como o novo membro do clã dos caçadores de vampiros, sucedendo cronologicamente Juste Belmont. Drácula é trazido de volta ao mundo dos humanos por Shaft, um sacerdote das trevas, após um ritual de sacrifício. Livre para espalhar a escuridão, o Conde começa a liberar seus asseclas para aterrorizar vilas na Transilvânia e sequestrar algumas mulheres desses lugares, incluindo Annette, esposa do protagonista.

Como Richter estava longe de casa no momento dos ataques, ele sente o perigo e parte de volta para sua terra natal. Após uma breve luta com a Morte, o jovem Belmont se vê obrigado a deter o Lorde das Trevas e resgatar as pessoas sequestradas, cumprindo o dever de sua família e sua nobreza.

Por curiosidade: essa batalha em específico marcou a última vez que um Belmont enfrentou diretamente Drácula na cronologia da série, até a derradeira batalha de 1999.

Novos recursos contra as trevas

Apesar de ser lançado após Super Castlevania IV (SNES) e seu chicote super maleável, Rondo of Blood seguiu mais os caminhos dos jogos de NES, nos quais o chicote só pode ser usado em uma direção, enquanto as Sub-Weapons são utilizadas através da combinação de cima + ataque.

No entanto, Richter conta com novos truques que podem fazer a diferença durante os desafios. Como em Castlevanias antigos, o pulo do herói é rígido, sem diferenciação de altura e distância. Para proporcionar um pouco mais de controle durante os saltos, é possível executar uma cambalhota para trás ao pular de forma neutra, concedendo um pouco mais de alcance e nos permitindo desviar de potenciais problemas durante o combate.

Outro recurso poderoso de Richter é o Item Crash, um especial devastador baseado na Sub-Weapon coletada no momento. No entanto, isso consome uma quantidade considerável de corações, a clássica munição da franquia. Dessa forma, uma água benta se transforma em uma chuva sagrada de dano contínuo, a adaga se torna uma torrente de lâminas, e até mesmo sem nenhum item no slot, Richter pode usar um poderoso chicote de fogo.

A partir de certo ponto da campanha, é possível desbloquear uma das moças sequestradas, que se torna uma personagem selecionável: Maria Renard. A menina tem salto duplo, maior velocidade de movimento, uma cambalhota que ajuda na mobilidade e diversos animais lendários que compõem seu arsenal, praticamente habilitando um modo fácil no game — mas não menos divertido.
Pequena, mas não menos poderosa.

Expandindo a exploração

A parte que mais se destaca em Rondo of Blood é a forma como as fases são construídas. Cada estágio apresenta algum gimmick ou desafio específico, como batalhas contra subchefes. Isso inclui situações como as caveiras destruindo as janelas de prédios, uma perigosa descida de correnteza num tronco, armadilhas usando equipamentos de tortura e várias outras situações que deixam a aventura sempre variada.

Para complementar ainda mais a jogatina, RoB aprimora o sistema de caminhos alternativos visto em Castlevania III (NES). Em vez de dar a opção ao jogador de escolher para onde ir em pontos específicos, as rotas alternativas estão escondidas dentro das fases. Achá-las resulta em um chefe diferente do caminho regular.

As mulheres sequestradas por Drácula estão escondidas nessas fases, sendo necessário explorar cada pedaço dos cenários para observar algo diferente, como um puzzle ou uma parede suspeita, e é preciso achar todas para conseguir o final verdadeiro.

O poder da mídia ótica

O CD proporcionou novos horizontes a essa aventura em comparação com seus antecessores. Ocasionalmente, cutscenes feitas de vários sprites são exibidas, com dublagem em japonês, e um tratamento de som digno de uma produção cinematográfica. Nunca a narrativa de Castlevania recebeu tanto cuidado até então.

Além disso, aproveitando o poder do PC Engine, temos um dos jogos mais bonitos dessa geração. Os efeitos de parallax e os cenários que compõem cidades em chamas, igrejas, catacumbas, castelos abandonados e outros locais enriquecem o visual de maneira incrível.

Sem dúvida alguma, o aspecto que mais se beneficiou da mídia óptica foi a música. Castlevania sempre teve músicas memoráveis, mas os compositores estavam muito inspirados, resultando não apenas no ápice da franquia, mas também em uma das melhores trilhas sonoras já feitas para um jogo.

Os remixes de clássicos como 'Vampire Killer' e 'Bloody Tears' ganharam nova vida, enquanto músicas inéditas foram adicionadas ao repertório da série, como 'Op. 13', 'Picture of a Ghost Ship', ‘Slash’ e a lendária 'Divine Bloodlines', que se tornou o tema de Richter.

Picture of a Ghost Ship

Divine Bloodlines

Op. 13

Slash

O Rondô de outras formas 

Rondo of Blood só teve um lançamento ocidental em 2007, dentro de Castlevania: The Dracula X Chronicles para PSP. O pacote inclui um remake totalmente em 3D do título, com novos arranjos musicais e dublagem em inglês (de qualidade duvidosa), o game original e uma versão revisada de Castlevania: Symphony of the Night (PS1), um belo conjunto de jogos numa coleção só.


No entanto, ainda nos anos 1990, mais precisamente em 1995, tivemos um vislumbre da jornada de Richter fora do Japão com Castlevania: Dracula X (SNES), que é praticamente uma visão “alternativa” de RoB, com outras fases e elementos gráficos reaproveitados. É uma produção inferior em termos de level design, jogabilidade e conteúdo, mas apresenta boas adaptações musicais para o sistema de 16 bits da Nintendo e visuais belíssimos.

Além disso, a trama de Rondo of Blood foi adaptada para uma série animada da Netflix, chamada Castlevania: Noturno. Ambientada durante a Revolução Francesa, ela fez várias mudanças na cronologia original e, assim como a adaptação da história de Trevor, tomou liberdades criativas significativas com o material em que se baseia — para o bem e para o mal.

Por fim, o jogo também está incluso em Castlevania Requiem (PS4), em um pacote bem modesto junto com Symphony of the Night, sem muitas modificações ou extras.

Uma lenda da quarta geração

Sendo um dos grandes títulos dos anos 1990 que envelheceu bem, Castlevania: Rondo of Blood marcou um ponto de virada na série, tanto em narrativa quanto em jogabilidade, tendo seus eventos referenciados no futuro e gerando resultados ainda mais notáveis. Com uma trilha sonora incrível, jogabilidade que incentiva a exploração e gráficos que aproveitam ao máximo o poder do PC Engine, esta é uma das obras-primas da Konami que merece mais reconhecimento.


Revisão: Davi Sousa
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Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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