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Análise: Silent Hope (PC/Switch) combina RPG, roguelite e criação de itens em uma experiência viciante, mas repetitiva

Novo jogo da Marvelous nos coloca no controle de sete personagens para explorar o abismo.

Anunciado no Nintendo Direct de junho, Silent Hope é um novo RPG de ação desenvolvido pela Marvelous. A obra, que se passa no mesmo universo da franquia Rune Factory, tem como proposta uma experiência mais focada no combate e em sistemas de melhoria contínua para que o jogador possa ir aos poucos desbravando um grande abismo.

A queda do reino

Como em um conto de fadas, era uma vez um reino muito próspero em que todos viviam de forma feliz e tranquila. Um dia, porém, o rei roubou as palavras de todos os moradores, deixando-os sem a capacidade de se comunicar, e mergulhou em um profundo abismo.
A tristeza da situação fez com que a princesa chorasse tanto pelo que ocorreu com seu pai até que suas lágrimas se transformassem em um enorme cristal. Muitos anos se passaram desde então, mas sete guerreiros envoltos em luz surgiram do abismo e decidiram ajudar a princesa em sua busca.

Conforme exploramos o abismo, descobrimos mais sobre o que realmente aconteceu no passado em pequenos diálogos da princesa. Porém, o foco real do jogo é na gameplay e ele deixa isso bem claro ao fazer com que mesmo essas falas curtas sejam opcionais.
A princesa também interage com o jogador durante o trecho de preparação para explorar a dungeon, mas o que deveria ser um momento fofo acaba sendo incômodo e até atrapalhando na visualização de menus. Felizmente, é possível desligar tanto as legendas (para não afetar a interface) quanto as falas em si, mas é uma pena que não haja um meio-termo menos tagarela.

Um ponto curioso para quem acompanha outros títulos da Marvelous é que o jogo é baseado em Rune Factory. Isso pode ser percebido de várias formas, sendo especialmente notável que vários itens são compartilhados entre Silent Hope e a franquia de simulador de fazenda com elementos de RPG. Porém, até mesmo a jogabilidade conta com vários elementos que fazem com que a obra pareça uma “versão mais ação de Rune Factory”.

Um fluxo de constante melhoria

Silent Hope é um RPG de ação com elementos de roguelite e crafting. O conceito do jogo é baseado em um loop de atividades, forçando o jogador a equilibrar a exploração do abismo e a criação de itens e equipamentos. Vamos, pouco a pouco, ficando mais fortes e aptos a mergulhar mais fundo graças ao ganho de níveis ao derrotar inimigos, aos equipamentos que desbloqueamos e à nossa melhoria pessoal em reflexos e coordenação de timing.

Em termos básicos, a exploração do abismo envolve se movimentar pelos mapas gerados aleatoriamente em cada área. Como se fossem mundos próprios associados a estações do ano, encontramos neles inimigos e armadilhas com afinidade elemental àquele ambiente (gelo no inverno, fogo no verão e assim por diante).
Cada um dos sete personagens jogáveis conta com um estilo de arma diferente, sendo alguns mais ágeis, mais destrutivos ou tendo a capacidade de atacar a distância. Podemos alternar entre eles na área inicial onde a princesa está ou dentro do próprio abismo, ao interagir com cristais que só podem ser usados uma única vez e também servem como um retorno seguro à base sem perda de itens. Mudar de personagem leva a benefícios passivos, como mais ataque e agilidade ou resistência a efeitos como queimadura, valorizando o jogador que consegue intercalar entre personagens diferentes.

O funcionamento básico do combate inclui um botão de esquiva, um ataque básico cuja cadência de golpes varia de acordo com o personagem e duas poções de cura. Caso o jogador seja eliminado pelo inimigo, mas ainda tenha poções sobrando, ele será revivido automaticamente, mas terá uma recuperação muito menor de HP, sendo mais vantajoso saber usá-las no momento certo. Também vale destacar que os personagens possuem suas próprias poções, então alternar entre eles muda a reserva disponível. Fora da dungeon, esse estoque é reposto automaticamente para todos.
Porém, os sistemas não param por aí. Conforme avançamos pelo abismo, ganhamos experiência e níveis, cristais que funcionam como moeda no jogo e materiais para a criação de itens. Toda nova tentativa ajuda o jogador a ir cada vez mais fundo, sendo possível encontrar fogueiras que servem como checkpoints em alguns andares específicos.

Ao ganhar um novo nível, podemos desbloquear ataques especiais que variam de acordo com o personagem. Ao chegar ao nível 15 e após terminar a campanha, abrimos classes avançadas, melhorando nossos atributos e adicionando mais habilidades ao leque de opções. Os poderes incluem golpes focados em dano, buff, debuff e outros benefícios alinhados à proposta de cada classe.

A melhor parte é que os pontos gastos para liberar os poderes podem ser retirados a qualquer momento para testar outras possibilidades. Ou seja, temos um senso de progressão constante e liberdade de explorar o que quisermos para encontrar a melhor opção para lidar com as situações à nossa frente.

O poder dos materiais e do crafting

Conforme exploramos os mapas, conseguimos materiais que servem como a base para a criação de itens. A base em que a princesa fica conta com várias instalações que transformam esses itens das dungeons em materiais avançados ou em itens realmente úteis, como equipamentos novos ou comidas. No abismo, também encontramos memórias de equipamentos e receitas de comidas em vez dos itens em si e precisamos desses recursos para torná-los realidade.

Além das habilidades, os equipamentos fornecem avanços significativos para as builds. Eles não apenas melhoram o ataque e defesa dos personagens, como também podem ter efeitos especiais dependendo da memória utilizada. Mesmo um item do mesmo tipo pode ser muito melhor dependendo desses poderes passivos. Inclusive, alguns desses equipamentos de melhor qualidade podem ser customizados com gemas, adicionando ainda mais habilidades à lista e uma afinidade elemental.
Já as comidas são uma forma de benefício temporário que só será válido para a próxima visita ao abismo. Você pode aumentar a experiência ganha, atributos como ataque, defesa e HP, entre outros elementos. Caso o jogador seja derrotado ou decida voltar à área inicial, perderá esses bônus.

Outro elemento interessante é que existem missões opcionais para recompensar o jogador pelo seu domínio das mecânicas. Dentro do abismo, é possível encontrar estátuas com Trials que rendem experiência e cristais adicionais se o jogador fizer o que for pedido dentro daquele andar. Temos também as missões da princesa que podem render várias recompensas como cristais e itens.

Uma forte tendência à repetição

Apesar de todos os elementos que mencionei acima, o jogo tem um grande gargalo no fato de que a experiência fica bastante repetitiva rapidamente. As estruturas das fases não variam significativamente, sempre tendendo a seguir os mesmos padrões. Junte a isso o fato de que os ambientes são bastante genéricos e o resultado são mapas sem vida que mereciam ter um design melhor concebido para que o jogador sinta vontade de explorar várias vezes o abismo.
 
Isso não significa que os mapas não possuam elementos interessantes. Temos, em especial, a disposição das armadilhas no caminho e formas de isolar inimigos pelo mapa, dando a oportunidade para o enfrentamento de criaturas muito poderosas mesmo se o jogador estiver em nível muito inferior. Porém, mesmo essas táticas rapidamente se tornam uma estrutura com potencial de parecer maçante.

Nesse sentido, também ajuda na repetição a estrutura de crafting que depende de ciclos de coleta e cujas instalações só funcionam enquanto o jogador explora o abismo, já que a mecânica está associada à quantidade de inimigos derrotados. Conforme avançamos no jogo, liberamos mais slots para produção dos itens, mas, até lá, pode ser necessário um planejamento bem moroso na escolha dos materiais que devem ser criados. Eu ainda diria que o saldo geral é bem positivo, mas é importante ter esses detalhes em mente.

Uma experiência viciante

Silent Hope
mistura RPG de ação, roguelite e crafting para criar uma experiência viciante, embora rapidamente repetitiva. Construído em bases sólidas, o jogo é facilmente uma boa indicação para quem gosta de experiências de ação e quer passar horas e mais horas enfrentando hordas de monstros no abismo.

Prós

  • Loop potencialmente viciante de combate e crafting;
  • Grande capacidade de customização das habilidades com opção de realocá-las a qualquer momento;
  • Poder usar as armadilhas do mapa contra os inimigos permite estratégias inteligentes para sobreviver a grandes desafios;
  • Os bônus de alternar entre os personagens valorizam o jogador que consegue equilibrar os níveis de força de todos os bonecos;
  • Missões adicionais dos Trials valorizam o domínio do jogador sobre os sistemas do jogo.

Contras

  • Tendência forte à repetição;
  • Ambientes genéricos e poucas variações significativas na exploração;
  • Embora possam ser desativadas por completo, as falas da princesa não relacionadas à história são muito frequentes e incômodas. 
Silent Hope — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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