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Análise: Ugly (Multi) encanta com beleza e genuinidade, apesar do nome feio

Um garoto feio, uma história sinistra e puzzles desafiadores são os elementos que tornam este título engajador e intrigante.


Ugly
é um puzzle platformer que nos convida a explorar os obscuros segredos de um nobre atormentado que confronta os traumas do passado. Com um enigmático espelho mágico em mãos, nossa missão consiste em empregar astúcia para solucionar quebra-cabeças desafiadores e derrotar imponentes chefes, enquanto buscamos descobrir a horrenda verdade por trás desta história.

Um conto sombrio sobre um garoto feio

Sem textos ou diálogos, Ugly se apresenta como um conto de fadas de tom sombrio e, por vezes, perverso, onde as aparências enganam. No papel de um jovem de origem nobre, nossa tarefa é explorar os cantos desolados de sua mente, representados como um imenso casarão arruinado e abandonado.

A única habilidade desse jovem reside em um fragmento de espelho mágico, capaz de criar um reflexo de si mesmo e conceder-lhe a capacidade de alternar a posição de seu corpo com sua imagem para resolver enigmas enquanto investiga os inúmeros cômodos do local. A jornada está repleta de segredos e memórias trágicas de seu passado, muitas vezes refletindo, de forma literal, a história de sua vida trágica e melancólica.

Refletindo para resolver enigmas intrigantes

O espelho mágico desempenha um papel central na jogabilidade. Nosso objetivo é utilizar essa habilidade mágica para solucionar quebra-cabeças nas diversas salas do casarão, a fim de obter chaves que abrirão o caminho para as próximas áreas do local. Ao concluir cada seção de salas, enfrentamos uma batalha contra um chefe, cada uma delas singular e desafiadora, o que nos permite avançar na narrativa silenciosa, mas cativante, de Ugly.

Quando ativamos o espelho, um reflexo sombrio é criado e move-se em sincronia com os movimentos do garoto. Um segundo comando permite que ele e sua imagem refletida troquem de lugar, possibilitando o acesso a áreas que normalmente seriam inacessíveis de forma convencional.
O espelho precisa ser usado de forma inteligente para se obter êxito na resolução dos enigmas
Dominar essa técnica e compreender sua lógica é crucial para o sucesso na jornada, uma vez que, ao longo do tempo, desafios mais criativos e inusitados exigirão que exploremos sua capacidade de maneiras cada vez mais engenhosas para progredir no jogo. Em seções posteriores, a física do movimento deve ser combinada com a habilidade de troca de posição para resolver algumas das charadas intrigantes da casa.

À medida que avançamos, os quebra-cabeças se tornam verdadeiramente perspicazes e, por vezes, até desafiadores, levando-nos a coçar a cabeça por minutos a fio e a tentar diversas abordagens para resolvê-los. A técnica de reflexão, aliada às diversas situações nas quais devemos aplicá-la para superar obstáculos e adquirir as chaves das áreas subsequentes, é estimulante, deixando os entusiastas de quebra-cabeças, como eu, satisfeitos e ansiosos para o que virá a seguir.

Em algumas ocasiões, encontramos obstáculos que restringem o movimento de nosso reflexo ou a capacidade de trocar de lugar com ele, enquanto em outras devemos utilizar a física do movimento em conjunto com a troca de posição para alcançar locais específicos. Objetos que interagem com a habilidade reflexiva do garoto também fazem parte dos elementos que compõem algumas das cenas enigmáticas que precisamos desvendar.

A experiência ganha profundidade com a narrativa lúdica que se desenrola de forma sutil, por meio dos elementos que compõem o cenário e das dezenas de memórias que o garoto e seu reflexo desbloqueiam durante a jornada. Cada uma dessas lembranças revela, de maneira não linear, a história do garoto, adicionando um elemento de mistério ao já envolvente desafio de decifrar os enigmas das salas do casarão. É uma narrativa sombria e macabra que lança luz sobre as origens da feiura do protagonista.

Beleza oculta

Apesar do nome feio, Ugly apresenta uma direção de arte impressionante. Como mencionado anteriormente, os cenários desempenham um papel fundamental na introdução da narrativa do jogo. Embora nem tudo seja imediatamente óbvio, à medida que avançamos na história, gradualmente montamos esse intrigante quebra-cabeça narrativo.

As memórias que contribuem para a narrativa são desbloqueadas quando o personagem e seu reflexo estão posicionados em locais específicos das salas. Para identificar esses locais, geralmente indicados de maneira sutil graças ao alto nível de detalhes nos elementos do cenário, é necessário prestar atenção nos pequenos pontos que se destacam quando o espelho está ativado.
Memórias sinistras revelam mais sobre a história triste do jovem
No entanto, como nem tudo é perfeito, há momentos de frustração em relação ao desafio, que às vezes parece consideravelmente elevado. Muitas vezes, principalmente após a primeira hora de jogo, encontrei puzzles que me levaram a puxar alguns fios de cabelo enquanto tentava encontrar a solução.

O uso do espelho mágico como mecânica central do jogo é uma ideia criativa e bem executada. Isso adiciona profundidade aos quebra-cabeças, à medida que o jogador aprende a dominar a técnica de reflexão e compreende suas nuances. No entanto, essa abordagem desafiadora pode se tornar frustrante em alguns momentos, especialmente para jogadores menos experientes no gênero.

Uma função de dicas, mesmo que bem básica, seria bem-vinda para dar uma pequena agilidade na resolução dos puzzles e também auxiliar jogadores não muito experientes, ou mesmo experientes, neste gênero. A dedicação, inclusive, favorece a revelação de um novo final, de acordo com o número de segredos descobertos pelo jogador. Um desafio extra com uma recompensa tão interessante quanto a experiência geral do jogo.


No geral, a jornada de Ugly por desafios cada vez mais complexos e instigantes, combinada com uma narrativa que aguça nossa curiosidade, faz deste título uma ótima escolha para minha lista de recomendações no gênero, ou mesmo para quem procura algo diferente para jogar.

De feio só o nome

Ugly é uma obra que surpreende pela sua capacidade de combinar um nome que sugere algo desagradável com uma direção de arte visualmente impressionante. A primeira impressão é de que há uma dissonância entre o título e a experiência proporcionada pelo jogo. Isso, no entanto, acaba sendo uma estratégia inteligente, pois chama a atenção do jogador, instigando-o a explorar o que está por trás dessa aparente contradição.

Em suma, Ugly é um título que vai além das expectativas criadas por seu nome, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e narrativamente intrigante. Apesar de desafios consideráveis, sua jornada por quebra-cabeças instigantes e uma narrativa sutilmente construída o tornam uma recomendação valiosa para os entusiastas do gênero e para aqueles em busca de algo novo e diferente para jogar.

Prós

  • A ambientação é favorecida pela direção de arte e trilha sonora cativantes;
  • A narrativa intrigante e sinistra instiga a curiosidade do jogador;
  • A mecânica do espelho mágico é criativa e bem executada;
  • Os desafios são crescentes, ideais para entusiastas de quebra-cabeças;
  • Uma abordagem que desafia o jogador a explorar e experimentar por conta própria;
  • Mais de um final.

Contras

  • Alguns quebra-cabeças podem se tornar frustrantes, especialmente para jogadores menos experientes no gênero;
  • A ausência de uma mecânica de dicas pode dificultar a progressão para alguns jogadores;
  • A dificuldade do jogo pode não ser adequada para todos os públicos, afastando jogadores em busca de uma experiência mais casual.
Ugly — PC/XBO/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Graffiti Games

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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