Jogamos

Análise: Fate/Samurai Remnant (Multi) transporta o mundo de Fate para a era dos samurais em um RPG de ação impactante

RPG de ação nos transporta para um drama de época dentro do universo de Fate.

Fate/Samurai Remnant
é um RPG de ação desenvolvido pela Omega Force (conhecida pela série Musou de hack 'n' slash) com base na franquia Fate criada por Kinoko Nasu da Type-Moon. Transportando o contexto da guerra dos Mestres e Servos para um período do Japão feudal, abrem-se as cortinas para um novo conflito.

Em busca de paz

A história de Fate/Samurai Remnant acontece em 1651, o quarto ano da Era Keian. Nesse período, o jovem Miyamoto Iori é um ronin, um samurai sem mestre, e usa sua técnica com espada para se sustentar. Um dia, ele acaba sendo atacado por uma figura sombria misteriosa e acaba se vendo no meio de um grande conflito chamado de Waxing Moon Ritual (Ritual da Lua Crescente).

A ideia dessa disputa é basicamente a de uma Guerra do Santo Graal que possui algumas pequenas variações. Assim como na história de Fate/Stay Night, temos sete Mestres e seus Servos, figuras lendárias, lutando por um receptáculo capaz de conceder desejos. A principal diferença para o original é que várias figuras sem afiliação também são invocadas para a guerra, sendo possível formar alianças estratégicas com elas.

Apesar de não ter um desejo para si, Iori vê a situação como algo imoral que precisa ser impedido para manter a paz de Edo. Junto com um servo categorizado como Saber, ele decide participar do ritual e logo se vê em um jogo de alianças, inimizades e artimanhas.

Assim como outras obras da franquia, o desenvolvimento da trama não segue uma linha simples de conflitos honrados entre os oponentes. Não vou entrar em detalhes para não dar spoilers, mas a história logo se desvirtua para algo mais complexo e tortuoso.

Em geral, a narrativa é bem-executada e consegue fazer jus à ambientação proposta. Porém, há também alguns detalhes da trama que são introduzidos de forma pouco convincente. Da mesma forma, há alguns raros casos em que o texto em inglês traz pequenos erros de escrita ou não soa natural. Felizmente, esses defeitos são pequenos diante da proposta como um todo e é fácil ignorá-los.

Os recursos de combate de um samurai

O conceito de Fate/Samurai Remnant é o de um RPG de ação cuja base vem da franquia Musou/Warriors. Embora não seja um jogo nos mesmos moldes, é nítida a influência tendo em vista o controle dos personagens, que segue uma preocupação especial no encadeamento de combos de ataques fracos com a possibilidade de encaixar um golpe forte como finalizador. A combinação de botões pode levar à execução de movimentos bem diferentes.

O protagonista, Iori, é um espadachim adepto de um estilo de duas espadas chamado Niten Ichiryu. Treinado por seu pai adotivo, Miyamoto Musashi, um aspecto importante do seu combate é a capacidade de adotar posturas diferentes de combate. Conforme avançamos na história, desbloqueamos novas opções, sendo possível intercalar entre o estilo mais defensivo da terra; o poder ágil da água; foco em magia (vento); ataque cuja potência aumenta com baixo HP (fogo); e movimentos ágeis que se tornam vulneráveis quanto mais dano o jogador tiver tomado (“vazio”).

Todas essas posturas possuem condições de uso especiais que as valorizam mais em detrimento de outros casos, embora seja possível focar no estilo que agrade mais ao jogador. Além de Iori, temos a capacidade de controlar vários personagens em momentos específicos da trama e trocar para Saber ou outro servo aliado gastando uma barra de afinidade. Essas opções ajudam a dar uma boa variedade ao combate e manter o jogador ativo na experiência e investido nas tramas que não incluem Iori.

Além dos golpes físicos já mencionados, podemos usar os poderes mágicos de Iori que consomem cristais (um recurso limitado e que não é reposto como HP) e as habilidades especiais dos servos (que consomem afinidade). Temos também itens regenerativos que podem ser obtidos em batalha ou comprados em barracas de comida pelos distritos de Edo.

Em particular, chama a atenção que o jogo conta com um sistema de contra-ataque chamado Riposte. A ideia é se desviar, no momento preciso, de um ataque e se manter na área de alcance daquele inimigo. Caso o jogador consiga fazer isso, terá a chance de retaliar, quebrando a guarda desse oponente e causando um dano maior do que o usual.

Curiosamente, esse timing não é intuitivo, testando a capacidade do jogador de só agir na hora exata que seria ideal para o contra-ataque, seguindo a linha de raciocínio de que os samurais precisavam encontrar brechas na guarda dos inimigos para explorá-las em um momento único e preciso.

Embora haja inimigos mais fracos e suscetíveis aos golpes, vários deles possuem defesa e alguns ainda mais poderosos, como os próprios servos, recebem pouco dano de Iori quando estão com a guarda ativa. Para quebrá-la, será necessário abusar das várias mecânicas que mencionei anteriormente, até que a barra de defesa deles seja quebrada, permitindo danos massivos.

De forma geral, temos um combate de ação sólido que permite ao jogador explorar vários recursos para derrotar os inimigos. Todos esses sistemas contribuem para um formato dinâmico e altamente recompensador, mas que é, ao mesmo tempo, confortável para quem não tem tanta familiaridade com o gênero, já que Fate/Samurai Remnant também conta com a opção de dificuldade fácil e a possibilidade de abusar de itens regenerativos a qualquer momento pausando o jogo.

Vencendo a batalha e a guerra

Fora dos combates, podemos usar os pontos obtidos ao subir de nível (ou por meio de itens especiais) para desbloquear novas habilidades passivas e ativas para os personagens em um sistema similar ao Sphere Grid de Final Fantasy X. Determinados nós dessa rede de poderes desbloqueáveis só poderão ser acessados cumprindo requisitos como “derrotar certo número de inimigos usando tal estilo de combate” ou “alcançar uma pontuação específica em um atributo”.

Podemos também ajustar o equipamento de Iori, fortalecendo os seus atributos básicos de ataque, defesa, magia e técnica. Esses itens podem ter efeitos secundários bem diversificados, indo da valorização de estilos específicos à regeneração de vida, causando dano ao oponente e vantagens contra uma espécie específica de inimigo. Embora seja possível realizar a compra de novos itens nas lojas, os equipamentos são obtidos de forma aleatória devido a esses benefícios passivos variáveis.

Outras submecânicas disponíveis incluem limpar as lâminas para ganhar mais experiência nos próximos combates, criar estátuas de budas para obter experiência e dinheiro, fabricação de gemas e várias outras coisas. Além da trama principal, o jogo oferece uma gama de sidequests e objetivos secundários como “fazer carinho em gatinhos e cachorrinhos de rua” e lutar contra monstros e ronins que estão praticando crimes em Edo.

Chama a atenção em Fate/Samurai Remnant o fato de que alguns momentos-chave da experiência não são apenas batalhas contra grupos específicos de inimigos, mas disputas territoriais. A ideia é que o jogador e uma equipe de inimigos disputem pelo domínio das leylines, linhas de energia espiritual que conectam as áreas de Edo e que são fundamentais para o fortalecimento dos servos.

Nesses momentos, o jogador deve comandar Iori e outros personagens pelo mapa em busca de alcançar novas áreas do mapa em segurança. Para fazer isso, será necessário escolher com cautela por onde seguir no mapa e abusar de itens especiais, chamados de códigos místicos de suporte, que alteram a lógica de movimentação dos personagens pelo mapa. Também faz diferença ter pontos de afinidade sobrando para enviar Saber até a posição de um inimigo invasor ou para liberar mais aliados que poderão auxiliar nessa expansão.

Esse sistema é bem interessante e muda o formato do jogo para uma proposta mais estratégica temporariamente. Entretanto, há poucas disputas dessa natureza, fazendo com que o sistema seja subdesenvolvido. Boa parte deles, inclusive, envolvem apresentação de novas mecânicas e uma sensação forte de não estar no pleno controle da experiência, já que somos impedidos de realizar algumas ações ruins.

Uma viagem ao passado

Em termos da ambientação, é louvável a representação do Japão feudal feita no jogo. Os cenários, o figurino dos vários personagens e os diversos elementos gráficos e sonoros de Fate/Samurai Remnant reforçam uma visão bem nítida de elementos tradicionais do país.

Embora tecnicamente seja possível questionar alguns detalhes de polimento, a direção artística é marcante e sempre presente. É nítido o quanto a equipe é apaixonada por essa ambientação e se esforçou em fazer com que cada cena pudesse ter um impacto significativo em seus enquadramentos e usos de cores. Isso se estende até mesmo para a gameplay padrão e o uso de efeitos especiais, como o utilizado ao eliminar o último inimigo de um grupo.

Os próprios personagens também são bastante expressivos. Seja pelas suas ilustrações 2D presentes nas caixas dos diálogos ou pelos modelos 3D, todos possuem movimentações bem fluidas. É o tipo de trabalho cuja estilização faz uma diferença enorme para manter a experiência coesa e agradável.

No PC, podemos ajustar vários detalhes gráficos, começando pelo básico tamanho da tela e modo full screen, janela ou sem bordas. Caso o jogador não queira pensar muito, é possível simplesmente escolher as opções de qualidade gráfica entre alto, médio e baixo.

Porém, também é possível fazer o ajuste mais específico da qualidade de terrenos, gramas e sombras, efeitos visuais de profundidade, antialiasing, oclusão, bloom, partículas de luz e névoa volumétrica. Com isso, é possível fazer ajustes customizados para manter a melhor experiência de gráficos e performance em um computador que não esteja apto a rodar tudo no máximo.

Um RPG de ação imperdível

Fate/Samurai Remnant transforma a guerra do Santo Graal (aqui chamada de Ritual da Lua Crescente) em um fascinante conflito de época inspirado em elementos tradicionais japoneses. Tanto para quem já mergulhou profundamente na série quanto para quem só está em busca de um bom RPG de ação, trata-se de um título imperdível.

Prós

  • Combate de ação envolvente e dinâmico cheio de recursos para explorar;
  • A mecânica de Riposte recompensa o domínio do timing da esquiva;
  • O sistema de leylines oferece um desafio bem curioso e diferente do usual;
  • A possibilidade de controlar outros personagens em certos pontos da trama ajuda a variar um pouco a experiência e dar mais imersão aos momentos de conflito sem o protagonista;
  • Bela direção artística em todos os aspectos da experiência, dando vida a um rico contexto de Japão feudal e a personagens bastante expressivos;
  • Configurações gráficas bem detalhadas no PC.

Contras

  • Alguns detalhes da trama acabam soando um pouco forçados;
  • As disputas por território poderiam ser mais exploradas para valorizar a estratégia do jogador;
  • Pequenos e raros erros de tradução.
Fate/Samurai Remnant — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google