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Análise: Everhood: Eternity Edition (Multi) traz a loucura e psicodelia da aventura do boneco de madeira para os consoles

Ajude Red a recuperar seu braço roubado em uma jornada musical com figuras estranhas em um universo peculiar.

Lançado primeiramente em 2021 para PC e Switch, Everhood cativou um grande público pela por trazer uma proposta criativa e psicodélica, misturando elementos de RPG com batalhas musicais. Agora chegou a hora dos donos de consoles da Sony e da Microsoft curtirem essa distopia musical com Everhood: Eternity Edition.

Entendendo a história toda

Logo de cara, um dos pontos positivos deste lançamento é a localização dos textos para português; inclusive, a falta desse elemento foi um dos contras listados pelo meu colega Alan Murilo na análise da versão para PC. RPGs comumente têm quantidades cavalares de diálogos, e tê-los no nosso idioma é sempre muito bem-vindo.

Ainda assim, nota-se que não houve um cuidado com os termos escolhidos, pois comumente encontrei palavras sobrepostas nos menus e caixas de diálogos, por serem grandes demais e não caberem na mesma área. No mais, vale um elogio para o time de localização, que adaptou diversas piadas, trocadilhos e expressões para o contexto brasileiro, sem ter traduzido tudo ao pé da letra.

Everhood conta a história de Red, um boneco de madeira que tem seu braço roubado por um larápio chamado Azuladrão, a mando do Porco d’Ouro. Claro que a história vai bem além desse plot inicial, transformando o protagonista, antes um salvador, em causador da discórdia, mas não darei spoilers a quem ainda não jogou. 

A questão é que tudo se desenrola com diversas sutilezas e referências a outros milhares de clássicos, como Earthbound e Undertale, e até trechos inspirados em Dungeons and Dragons e Mario Kart dão as caras. Tudo isso apoiado em um visual pixel art colorido e personagens carismáticos, que sempre te deixarão curioso para saber o que eles têm a dizer — eu mesmo sempre sabia o que o Vanspirro ia falar, mas continuava conversando com ele só pelo fato do espirro aleatório ser engraçado.

Mesmo que às vezes o caminho a ser seguido não seja óbvio, sempre aparecerá algum indício do que fazer ou para onde ir. Everhood consegue condicionar a curiosidade do jogador em saber o que há por trás de cada porta ou diálogo para que assim ele vá cada vez mais longe em direção ao clímax, que não é nada óbvio.

A eternidade não é para todos

Como já era sabido por quem jogou o primeiro lançamento, e eu pude testemunhar agora, a trilha sonora de Everhood é absurda de boa. Ela tem de tudo um pouco, indo de Synthwave a Heavy Metal de maneira a encaixar direitinho com cada situação. É impossível não balançar a cabeça no ritmo do tema de cada batalha e até mesmo repeti-la instantaneamente só para ouvir a música de novo — eu fiz isso mais de uma vez.

Sim, as batalhas são musicais e este é o diferencial aqui. Em uma pista segmentada em cinco faixas, similar a Guitar Hero, Red tem que esquivar e pular as notas e acordes disparados pelos chefes e chegar até o fim da música para vencê-los por exaustão, pelo menos de início.

Depois de determinada parte da história, o boneco de madeira também consegue absorver três notas de uma mesma cor e convertê-las em um projétil. Zerar a barra de vida do chefe pode terminar a batalha antes do fim da canção e também nos dar a vitória.

À medida que progredimos, as lutas ficam mais complexas, com notas piscantes e trajetórias curvas, que não respeitam o limite das faixas e nos pegam desprevenidos, barreiras e até cenários que giram, invertendo nossos comandos por um breve período de tempo. Ao todo são cinco níveis de dificuldade, que vão do fácil ao extremo, mas também há um mais brando, focado em quem quer curtir apenas o desenrolar da trama sem as punições e recomeços gerados por uma falha.

Dito isto, vamos à discórdia. Quando lançado em 2021, Everhood já trazia uma exclusividade para o PC: a oportunidade de criar faixas musicais com o recurso Oficina Steam. Nisso, a versão de Nintendo Switch ficou a ver navios; por sua vez, PS4, PS5, XBO e XSX trazem as Eternity Battles, que são canções originais escolhidas a dedo pela BlitWorks e criadas por membros da comunidade.

Elas são tão boas quanto as que estão no jogo base, com a dose certa de desafio e psicodelia que fazem parte do DNA de Everhood. Elas são liberadas à medida que progredimos na história e podem ser jogadas já no menu principal quando quisermos, sem interferir na narrativa,

Entretanto, se por um lado os jogadores dos consoles não têm a opção de criar e compartilhar faixas autorais, os donos de PC não podem expandir o conteúdo já existente, pois as Eternity Battles são exclusivas dos consoles. E no fim disso tudo, o Switch é o menos privilegiado de todos, pois também ficou fora dessa adição.

Por mais que os estúdios envolvidos já tenham se pronunciado, dizendo ser inviável adicionar a opção de criar músicas nos consoles, não vejo por que não dar a opção para jogadores de PC e Switch poderem comprar as batalhas extras, uma vez que elas passaram pelo crivo dos desenvolvedores. Isso leva à desconfortável verdade de Everhood não ter uma versão absoluta em nenhuma plataforma, o que é um crime se levarmos em consideração o quão bom é o novo conteúdo.

Charmoso, psicodélico e criativo

Everhood: Eternity Edition finalmente coloca no radar dos donos de consoles um excelente RPG, que sem sombra de dúvidas tem tudo para virar um clássico cult dentro de alguns anos. As legendas em português são um ponto alto, assim como as novas músicas, mas não tornar globais as novas opções é uma grande mancada para quem já possui o título em outras plataformas.

Prós

  • História envolvente e divertida;
  • Diversas referências implementadas de maneira criativa;
  • A trilha sonora não se prende a um gênero musical e é fantástica;
  • O pixel art colorido combina com os ambientes e até torna os personagens mais carismáticos;
  • As legendas em português ajudam muito na compreensão da história;
  • As músicas novas das Eternity Battles não devem nada às do jogo base, trazendo um charme único.

Contras

  • Algumas palavras ficaram amontoadas nos diálogos e menus;
  • Não há possibilidade para os jogadores de PC expandirem seu conteúdo ou os de console criarem suas próprias canções.
Everhood: Eternity Edition — PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5 
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Blitworks

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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