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Análise: Shotgun King: The Final Checkmate (Multi) transforma xadrez em um inventivo roguelike

Atire cuidadosamente para sobreviver neste título indie que, apesar de criativo, é bem desbalanceado.


Shotgun King: The Final Checkmate é um jogo de xadrez com uma modificação inusitada: controlamos somente o rei, que atira nos oponentes com uma escopeta. Essa alteração, em conjunto com elementos de roguelike, resulta em uma interpretação ágil e interessante do clássico de estratégia. Porém, ao contrário de sua inspiração, este título indie tem muitos aspectos aleatórios que atrapalham a experiência.

Um rei e sua escopeta contra um exército

Em sua essência, Shotgun King é como o xadrez tradicional; ou seja, precisamos derrotar o monarca inimigo para vencer a partida. Porém, em vez de um exército, controlamos somente o rei, que é equipado com uma escopeta: destruímos as outras peças atirando. A arma lança projéteis em um arco amplo, então precisamos mirar com cuidado para acertar os alvos. Agir com atenção é importante, pois só podemos executar uma única ação por turno.


Assim como no jogo clássico, o rei move-se um espaço por vez. Porém, aqui há um curioso recurso de locomoção. Ao derrotar alguma peça, coletamos a sua alma, o que permite usar seu padrão de movimento uma única vez. Aproveitar esse sistema é essencial, pois basta um pouco de desatenção para sermos cercados em um xeque-mate. Escudos nos impedem de executar erros e entrar em situação de xeque, porém o número deles é bem reduzido — planejar é a melhor opção.

Ao final de cada andar, precisamos escolher um par de cartas. Uma delas oferece uma melhoria para o nosso rei, como recuperar munição ao derrotar unidades específicas, aumentar o alcance do movimento caso um cavalo esteja no tabuleiro ou atirar automaticamente após andar. Já a outra ativa uma vantagem para o exército inimigo; ou seja, precisamos pesar com cuidado as opções para conseguir avançar.



Reimaginando um clássico da estratégia

Ao meu ver, o maior trunfo de Shotgun King é sua interpretação ágil e impactante de xadrez. É divertido e empolgante mirar e atirar, pois traz um aspecto de ação e perícia às partidas — como a munição é limitada, é essencial apontar corretamente para maximizar o dano. Além disso, ao mesmo tempo que atiramos, tentamos evitar situações perigosas que podem resultar em xeque-mate.

O mais curioso é que as partidas são mais complexas e táticas do que parecem, mesmo com esse elemento de ação. O exército oponente usa estratégia para cercar nosso rei, então agir de qualquer jeito resulta em derrota. Perdi inúmeras vezes por não prestar atenção, então fui forçado a pensar cuidadosamente para prosseguir, usando os poderes das peças derrotadas para conseguir escapar de enrascadas. Assim como no xadrez tradicional, é imprescindível entender as habilidades de cada unidade.


Os cartões de habilidades trazem variedade às partidas com seus efeitos diversos. Nas minhas tentativas, encontrei várias coisas diferentes, como uma espada para golpear peças próximas, uma técnica para saltar por inimigos e uma carta que criou obstáculos em certos espaços. Como o exército inimigo também se fortalece, a dificuldade é crescente: nos últimos estágios de uma campanha, prepare-se para enfrentar inúmeras peças poderosas, como peões que golpeiam em todas as direções ou rainhas que aparecem de surpresa. As partidas duram por volta de 20 minutos e mais conteúdo é liberado aos poucos, como novos modos, cartas e armas.



Muitas ideias interessantes, porém de execução mediana

Shotgun King é inventivo e consegue trazer uma roupagem interessante ao xadrez. Porém, infelizmente, o jogo tem falhas significativas que atrapalham muito a experiência. Para começar, a curva de dificuldade não é nada amigável. Não há tutorial ou mesmo instruções básicas, então é necessário apelar para tentativa e erro. Acontece que a complexidade do xadrez está presente nas partidas, então é comum acabar encurralado e ser derrotado quando não prestamos atenção. Há também alguns picos de dificuldade irritantes.


Outro problema é a falta de equilíbrio das mecânicas. Os cartões são interessantes para trazer variedade às partidas, no entanto a seleção é desequilibrada: frequentemente recebemos habilidades ruins associadas a desvantagens pesadas. Conforme a campanha avança, os inimigos ficam tão poderosos que, para vencer, é necessário ser praticamente perfeito. Por causa disso, chega um momento em que a sorte acaba sendo mais determinante que a tática. Para piorar, não há variedade o suficiente de situações, o que deixa as partidas repetitivas.

Por fim, algumas decisões duvidosas atrapalham o aspecto tático do jogo. Muitas vezes erramos tiros por causa da grande abertura da escopeta, mesmo atirando contra peças próximas. Algumas habilidades com ativação aleatória, como projéteis perfurantes ou que empurram oponentes, são capazes de nos colocar em situação de perigo ou derrota. E, para piorar, algumas regras inconsistentes deixam as coisas ainda mais difíceis, como o rei inimigo nos colocando em xeque, mas não podemos fazer o contrário.



Um tiroteio tático digno, apesar de suas falhas

Shotgun King: The Final Checkmate vira o xadrez de cabeça para baixo com sua ideia inusitada de colocar uma arma na mão de um rei. Mirar e atirar traz dinamismo às partidas, e cartões com habilidades para os dois exércitos criam situações imprevisíveis. Mesmo com elementos de perícia, o título mantém o aspecto tático do xadrez, com direito a jogadas coordenadas das peças inimigas.

Apesar de criativo, o jogo tem inúmeros problemas, como grande curva de aprendizado, picos de dificuldade e aleatoriedade tão acentuada a ponto de atrapalhar os elementos táticos. Faltou também variedade, já que as partidas ficam repetitivas rapidamente. Ao menos há vários modos e dificuldades adicionais para explorar.

Simultaneamente criativo e problemático, Shotgun King: The Final Checkmate é uma experiência que instiga.

Prós

  • Conceito principal único que reimagina as regras básicas de xadrez de forma interessante;
  • Partidas com bom equilíbrio entre as ações de mirar, atirar e agir de forma estratégica;
  • Modificadores de habilidades do rei e dos inimigos tornam cada partida única.

Contras

  • Curva de aprendizado acentuada e com vários picos de dificuldade;
  • Elementos aleatórios atrapalham os aspectos táticos das partidas;
  • Muitas das mecânicas carecem de balanceamento e variedade.
Shotgun King: The Final Checkmate — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela PUNKCAKE Delicieux

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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