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Análise: Killsquad (Multi) é ok para um looter de ação genérico e precariamente portado para os consoles

Com praticamente nenhum atrativo interessante, somente os mais entusiastas do gênero vão realmente encontrar diversão aqui.


Graças a alta competitividade do mercado dos videogames, novos lançamentos precisam trazer elementos inéditos e interessantes para garantir o seu espaço. Obviamente, é preciso também proporcionar uma experiência estável e com boa jogabilidade básica. Killsquad, novo lançamento para os consoles PlayStation, sofre em ambos quesitos e, embora divertido até certo ponto, precisa de mais para ser realmente desejável, conforme vamos conferir nesta análise.

Chegando para novos públicos

O game chegou no formato acesso antecipado em julho de 2019 para PC, sendo lançado oficialmente em outubro de 2021. Somente em julho de 2023 é que ele foi portado para o PlayStation 4, com direito a retrocompatibilidade para o PS5. O jogo é do tipo looter de ação, com alguns elementos de RPG e foco em partidas multijogador.
A proposta de Killsquad é colocar o jogador no controle de um caçador de recompensas, membro de uma equipe com o mesmo nome do título, para realizar toda sorte de missões diferentes. A jogabilidade mistura elementos shooter e hack and slash; ou seja, temos ambos personagens com mecânicas de combate à curta e a longa distância. 

Quem já experimentou games como League of Legends ou Diablo tem uma boa ideia de como funcionam os controles. Os combates são o foco central, mas os objetivos vão além de só destruir os inimigos, incluindo também escoltar cargas, caçar criaturas e defender zonas. Até quatro jogadores participam das partidas, que podem ser disputadas de forma privada (somente quem receber convite) ou aberta (com qualquer jogador disponível).

A jogabilidade é simples e funcional, com direito a um ataque simples, uma esquiva, itens consumíveis e habilidades especiais com cooldown. Apesar de ser um jogo voltado para a ação, Killsquad conta com elementos de RPG na customização dos personagens e alguns quebra-cabeças/desafios fora dos combates. Também é possível encontrar itens e recursos espalhados pelos mapas em meio as missões.

Uma proposta simples

Como comentado anteriormente, as duas formas básicas de jogar são com tiros ou golpes diretos. Embora competentes, nenhuma das duas formas é particularmente empolgante, sendo que gostei mais da primeira por ser menos suscetível aos ataques inimigos e os seus combos por vezes não terem impacto suficiente. Em outras palavras, o combate a curta distância muitas vezes leva a mortes injustas e não proporciona tanta competição ao ser travado.

São apenas cinco personagens disponíveis para utilizar nas partidas: Troy, atirador de elite com habilidades de clonagem; Kosmo, o tradicional tank que faz uso de uma marreta gigante; Cass, uma guerreira equipada com uma espada e dotada de poderes espirituais; Zero, um robô que mistura disparo energéticos e habilidades médicas; Ekaar, um alienígena baixinho equipado com drones, escudos e armas variadas.
 
Embora os heróis tenham visuais agradáveis e condizentes com a proposta alienígena-tecnológica, confesso que fiquei com uma sensação genérica, como se já tivesse visto eles outras vezes. Killsquad fez pouco para tentar se destacar com o uso de elementos batidos como “grandão forte”, “assassina misteriosa”, “baixinho esperto”, “atirador descolado”, etc. Existem skins para customizar os personagens, mas elas são básicas e pouco variadas.

As missões ocorrem em cenários que pertencem somente a cinco planetas diferentes, então prepare-se para encontrar paisagens semelhantes com frequência. Além disso, os inimigos comuns são em geral repetitivos e feios, aparecendo do nada e sem maior contexto. Felizmente as missões e os chefes são interessantes, contando com habilidades e visuais únicos de forma que as batalhas são mais divertidas e desafiadoras.

Desafios realmente desafiadores

Killsquad faz uso de um sistema de níveis que reinicia a cada nova partida. Somente as habilidades e os equipamentos são carregados ao longo das jogatinas. Em particular, o número chamado Vector é determinado pelos equipamentos do personagem. Aqui a parte looter do game se torna clara, pois é a cada partida (principalmente nas vitórias) que recebemos armas, talismãs, dispositivos, entre outros itens.
Eles também são obtidos via loja (mais sobre ela em breve) e podem ser melhorados usando materiais e dinheiro. Existem seis elementos diferentes para as armas, formando um sistema de fraquezas e resistências teoricamente interessante. Infelizmente, na prática é difícil saber exatamente qual deles é melhor usar durante os combates, então ficamos na famosa tentativa e erro.

Aliás, prepare-se para usar bastante dessa política. Killsquad tem problemas sérios de conexão, com partidas que caem com alguma frequência. Pior do que isso, a base de jogadores não é significativa, mesmo com o game prometendo crossplay com os PCs. Portanto, além de demoradas para começar, é comum perder o progresso ao ver o host saindo da sala ou surgir algum outro problema.

Uma vez eu fui jogado para fora em meio a batalha, apertei para começar uma nova partida e acabei voltando para a mesma anterior. Esse é um exemplo claro da instabilidade e da falta de jogadores. Por isso, além de ser mais divertido, é interessante ter amigos para jogar e garantir um time completo e mais estável. Para piorar, o game faz uso de um sistema dinâmico de criação das fases, por vezes oferecendo desafios consideráveis e praticamente invencíveis caso o time seja desfalcado em meio a partida.
Vale lembrar que os (só) cinco personagens possuem classes como tanque e cura, desempenhando papéis fundamentais para garantir o sucesso nas missões. Como o game não limita repetições de heróis e cada partida pode ter até quatro jogadores, a chance de vermos peças repetidas é grande. Como nem todos são legais de jogar – estou olhando para você, Cass – as coisas podem ser ainda piores.

Faltou munição no pente

Se mesmo em 2019, quando surgiu no mercado, Killsquad já não foi uma grande novidade, agora em 2023 o seu impacto é ainda menor. Um dos problemas graves do título é uma espécie de bola de neve: caso um game online não seja bom o suficiente, ele não consegue angariar jogadores, o que por consequência dificulta as partidas de quem ainda está investido no game. Esse público acaba se desmotivando, deixando o jogo de lado e assim o ciclo negativo continua.
As partidas são em geral pouco recompensadoras, mesmo desconsiderando as questões anteriores. Como os personagens não sobem de nível permanentemente e os itens obtidos não são chamativos, dificilmente saímos com a sensação de uma grande e valorosa vitória. As melhorias contínuas ficam por conta das habilidades ativas e passivas, adquiridas com pontos Tecs obtidos ao concluir missões.

Embora as habilidades sejam legais e úteis, a quantidade delas é relativamente limitada e não permite uma customização significativa, algo que seria relevante frente ao pequeno número de personagens. Mesmo assim, nas vezes em que as partidas foram estáveis e organizadas o suficiente, me diverti driblando os inimigos e disparando ataques em hordas monstruosas.

Ter a pele salva por um colega me revivendo no último segundo ou desferir o golpe final num chefão são alguns dos bons momentos em Killsquad. Porém, conforme o tempo passou, o ineditismo diminuiu e os problemas do game foram ficando mais evidentes. Outro deles (e grave) foi o desempenho do port para o PlayStation, que traz visuais inferiores ao PC e ainda conta com demora no carregamento das texturas.

Boas qualidades aqui e ali

Depois de um certo número de missões, passamos do nível recruta para veterano e temos acesso a desafios mais significativos. A questão é como penamos para chegar lá pelas razões já expostas. Não quero deixar parecer que o game é injogável ou um desastre técnico e de conteúdo. É possível conferir esmero da equipe em coisas como dublagem dos diálogos e o códex que detalha o universo do game.
Isso e os demais pontos positivos, entretanto, não são fortes o suficiente para elevar o título a patamares mais altos. Por fim, quero registrar um elogio a um dos grandes prós do game. A loja de Killsquad é um oásis em meio aos demais lançamentos do mercado: enquanto mesmo jogos pagos têm nas suas lojas itens compráveis somente com dinheiro real, aqui tudo pode ser adquirido somente com a moeda adquirida no game. 

Ainda que os produtos sejam progressivamente mais caros e a captação de recursos um pouco lenta – sobretudo considerando os problemas de conexão e dificuldade comentados anteriormente –, é louvável vermos uma proposta dessas na atualidade. Com um pouco mais de variedade e desempenho melhor, certamente eu teria razões suficientes para continuar a jogar o título por um longo tempo.

Legal, mas longe de ser letal

Os anos não foram bondosos para Killsquad: se quando lançado originalmente ele já não era ótimo, agora a sua chegada aos consoles é apenas ok. Os maiores problemas ficam por conta da conexão e da criação de times, sem contar a proposta um pouco genérica no geral. Existe diversão nos combates e nas missões, sobretudo entre amigos, e com recompensas que não dependem de loot boxes, mas nada que justifique um investimento a longo prazo. Fica a sugestão somente para quem realmente for amante do gênero ou já tinha conferido o título no PC e quer tê-lo no console.

Prós

  • Game looter de ação com elementos de RPG e boa produção geral;
  • Estilo geral do jogo é bonito e coerente;
  • Combates são fáceis de aprender e divertidos de disputar, sobretudo com os amigos;
  • Todos os elementos podem ser desbloqueados e comprados dentro do game, sem microtransações ou loot boxes;
  • Boa quantidade de itens, equipamentos e missões para jogar.

Contras

  • Conexão é instável e existem poucos jogadores online;
  • A versão para consoles tem problemas de desempenho como loadings longos e texturas que demoram para carregar, além de visuais inferiores ao PC;
  • Proposta geral por vezes é um tanto genérica.
Killsquad — PC/PS4/PS5 — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise redigida com cópia digital cedida pela Novarama


é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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