Jogamos

Análise: The Last Hero of Nostalgaia (Multi) é um soulslike que não se leva a sério, e isso é muito bom

Para quem sempre quis experimentar o gênero, mas não é fã de dificuldade, o game é a pedida certa.


Como um improvável herói feito de varetas de pixel, entre no mundo de um jogo abandonado que está sofrendo com “despixalização”. Caberá a você enfrentar as ameaças e salvar Nostalgaia dessa corrupção. E se os inimigos já não fossem problema suficiente, será preciso lidar com um narrador que não gosta de você e que fará o possível para dificultar o seu caminho. Essa é a premissa básica de The Last Hero of Nostalgaia, um soulslike diferente que procura fazer piada com o gênero como uma carta de amor aos jogos da From Software.


Na comunidade gamer, o soulslike é sinônimo de dificuldade, e por mais que TLoN seja um, podemos considerá-lo uma porta de entrada para quem nunca experimentou o gênero. Isso se dá graças à curva de dificuldade do jogo, que se inicia bem mais branda, mas ainda permanece desafiadora. Outro ponto pertinente ao gênero é a narrativa ambiental, onde aprendemos mais sobre a história e mundo do jogo através dos itens encontrados, diálogos com NPCs e afins. O fato de termos um narrador nos acompanhando e apresentando um pouco desse mundo não invalida esse ponto, já que ele funciona muito mais como um personagem com personalidade própria.

Será que ficou parecido comigo?

Reforçando a pegada de “soulslike de entrada”, o jogo precisa de pouco mais de 12 horas para ser finalizada a campanha principal, podendo chegar a 16 horas com o DLC The Rise of Evil. Agora, se você é daqueles jogadores complecionistas, com cerca de 25 a 30 horas pode realizar todas as conquistas. Uma duração bem menor se comparada a média de 30 a 40 horas exigidas só nas campanhas principais dos títulos da série Dark Souls. 

Não seja bem-vindo a Nostalgaia

Mais do que uma ameaça a ser enfrentada, a “despixalização” que corrompe Nostalgaia chama a atenção pelo efeito de objetos e inimigos mudando de 2D para 3D devido à “corrupção digital”. E o efeito visual serve não apenas para encher os olhos, mas também está ligado diretamente à jogabilidade, já que certos itens e passagens não podem ser usados e acessados com a corrupção ativa. Para contornar essas situações, você precisará purificar a área ou os itens encontrando os altares que servem de “bonfires” do jogo. Somente através delas você poderá salvar Nostalgaia. Você terá que salvar uma terra de nostalgia dos games na qual você não é bem-vindo, e tanto o ambiente como o narrador deixam isso claro desde o início. 

Não existe amor por heróis em Nostalgaia

E claro, tratando-se de um jogo do gênero souls, a ambientação pesada e lúgubre de um mundo maldito se faz presente, assim como outros elementos tirados da franquia de Miyazaki, como os cartões pelo chão, que dão orientações ao jogador e apresentam um pouco mais deste mundo.

Cenários fechados, passagens estreitas, inimigos desmorfos e gigantes também fazem parte do pacote. Porém, tudo muito bem equilibrado com o tom jocoso e satírico do jogo. O lado cômico já se apresenta logo de cara na hora de customizar o personagem. Várias opções são dadas ao jogador, como estilo de combate, tamanho do corpo, cor do personagem, etc; mas tirando o primeiro citado… não servem de nada! Você é apenas um boneco de varetas, se acostume (mas ao menos as armaduras coletadas durante a gameplay produzem alguma mudança visual ao cobrir o personagem, relaxa…).

Até um boneco de palitos fica bem de armadura



Como a narrativa acaba sendo mais ambiental através de documentos, textos de itens, diálogos diretos com NPCs e as interações com o Narrador, a ambientação acaba sofrendo uma perda significativa para quem não é fluente em outros idiomas, já que o jogo não está disponível em português brasileiro. 

Combate à la Dark Souls

Por mais que a curva de dificuldade seja mais gentil que a dos demais jogos soulslike, o game ainda exige atenção e paciência do jogador. Saber utilizar a mecânica de parry e memorizar a movimentação dos inimigos ajudarão a evitar mortes por besteira contra os chefes e mini-chefes do jogo. Inimigos mais básicos vão morrer com dois ou três golpes da sua arma principal, mas se não tomar cuidado, eles podem tirar um pouco da sua vida, o que com certeza deve atrapalhar mais para frente.

Como já foi citado, The Last Hero of Nostalgaia é bem receptivo para jogadores novatos que querem experimentar o gênero antes de se aventurar nos “parentes” mais velhos. Mas como ele lida com jogadores mais experientes nas mecânicas de combate? Bom, veteranos de Demon’s Souls e Bloodborne podem achar o início fácil demais, ou até maçante, mas vão ser recompensados adequadamente ao avançar no jogo. Principalmente no DLC The Rise of Evil que falaremos mais a frente. 

Alguém chama o Samu, provavelmente pra mim... 

Outro ponto que vai agradar é o mapeamento dos botões, sendo praticamente igual ao de Dark Souls II, então a adaptação não será um problema. Os gatilhos superiores do controle utilizam a arma equipada na mão correspondente, os direcionais laterais trocam as armas das mãos, e os de cima e baixo alternam as magias. Apenas vá lá, esquive, dê parry, bata quando tiver a oportunidade e se cure caso precise, você se sairá bem. Mas lembre-se, há estamina, então planeje seus movimentos.

E caso não queira se aventurar por Nostalgaia sozinho, é possível aproveitar a jornada em co-op online, o que torna a experiência mais divertida e até recompensadora para ambos os jogadores, já que o que seu amigo coletar no seu mundo, ele poderá levar para o próprio jogo.  

Pequenos problemas, com boas soluções

Há dois pontos que podem desagradar alguns jogadores de início, ambos relacionados à configuração padrão da gameplay: manter o analógico esquerdo pressionado para correr, e o stun irritante ao ser acertado por algum inimigo (que pode custar um reinício ao jogador, além da perda de coletáveis preciosos). Ambos podem ser resolvidos rapidamente ao acessar as configurações, desativando o stun de acerto adversário, e mapeando a corrida do personagem ao apertar um botão. 

Todo herói precisa descansar

Já um problema sem solução até o momento está justamente relacionado ao que costuma ser a salvação e respiro durante as gameplays souls: os altares onde podemos descansar. Eles cumprem a função básica muito bem: permitem a atualização do personagem e seus equipamentos, elevando seus atributos, e a recuperação de HP ao descansar, restaurando os inimigos na área. Mas o jogo acaba pecando em outra função importante: o fast travel. Quando você marca um altar, seu personagem só poderá viajar para ele e, caso faça isso, ficará restrito a esse altar até encontrar outro. O que levará a muitas caminhadas, algo tedioso mesmo em um jogo com mapa tão interconectado.

Acha que acabou? Então encare a Ascensão do Mal!

Depois de salvar Nostalgaia, o que fazer? Salvar a terra da Nostalgia novamente! Essa é sua missão no DLC The Rise of Evil. A expansão adiciona 3 novos chefes – dos quais um é secreto –, inimigos e uma variedade de novas armas e armaduras, que serão necessárias para explorar as profundezas de Nostalgaia. 


Apesar de bem curta, oferecendo até 4 horas de gameplay adicionais, o DLC mantém o humor satírico do jogo e amarra algumas das pontas soltas da campanha principal. Mais referências são apresentadas através de áreas completas baseadas nos jogos da From Software

Porém, algo que faz falta é o Narrador. Não ter o “companheiro mal-humorado” faz falta após termos seus comentários mordazes e peçonhentos ao longo do jogo base.

Venha para Nostalgaia

Para quem gosta de retro games, soulslikes e uma boa dose de humor, The Last Hero of Nostalgaia é a escolha perfeita. Para quem não conhece o gênero, mas tem curiosidade e quer começar devagar, também! Com um combate bem ritmado, controles padronizados dentro do gênero, além de visuais extremamente bem trabalhados, o jogo é uma ótima pedida tanto para veteranos quanto para novatos. É um pecado a falta do New Game+, restando apenas a opção de rejogar o título em dificuldades mais altas. 

Prós

  • Curva de dificuldade bem receptiva;
  • Excelente porta de entrada para o gênero soulslike;
  • Referências bem-humoradas a outros soulslike;
  • Variedade de Armas e Armaduras;
  • Mapa interconectado, com diversos atalhos.

Contras

  • Sistema de Fast Travel confuso;
  • Falta de localização para o português brasileiro;
  • Problemas de conexão no modo cooperativo;
  • Falta de um New Game+.
The Last Hero of Nostalgaia - PC/PS4/PS5/XBO/XSX - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut 
Análise publicada com cópia digital cedida pela Coatsink

Jornalista e aficcionado por jogos e quadrinhos. Aproveita a profissão para falar do que gosta. Atualmente, é redator aqui no GameBlast e colaborador no Mapingua Nerd.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google