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Análise: Rhapsody II: Ballad of the Little Princess (PC) traz um clássico da NIS pela primeira vez ao Ocidente

Sequência de Rhapsody chega ao Ocidente pela primeira vez 24 anos após o seu lançamento no Japão.

Lançado também para PS5 e Switch dentro do pacote Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles, Rhapsody II: Ballad of the Little Princess é um RPG que narra as desventuras de Kururu. Mais do que um simples relançamento de um jogo do PS1, temos a chegada inédita do título ao Ocidente e uma reparação histórica por ele ter sido deixado apenas no Japão.
 
Rhapsody II foi originalmente lançado no Japão em 1999, um ano após o original, mas um ano antes do lançamento ocidental de Rhapsody, que foi um dos últimos jogos publicados pela Atlus USA no console antes de migrar totalmente para a então nova geração do PS2. Nessa época, a NIS America ainda não existia e a Nippon Ichi Software dependia totalmente desses contratos com terceiros para poder lançar seus títulos fora do Japão.
 
Como resultado dessas circunstâncias, os jogos haviam ficado exclusivos da Terra do Sol Nascente. Porém, agora, finalmente, a oportunidade de reviver a franquia Marl Kingdom chegou em meio a seu projeto de resgate de clássicos iniciado em Prinny Presents NIS Classics Vol. 1 (Switch) com o retorno de Soul Nomad e um port da edição de PC de Phantom Brave.

A garota só quer se divertir

Rhapsody II conta a história de Kururu, princesa filha de Cornet e Ferdinand do primeiro jogo. Tendo conhecimento do passado de sua mãe, a menina sonha em um dia encontrar um príncipe encantado, mas sabe que não conseguirá alcançar os seus desejos se não tomar a iniciativa. Por conta disso, mesmo nova, ela sempre foi do tipo que escapa do castelo e dá trabalho para os guardas e a família real.
 
Na busca pelo rapaz ideal, Kururu irá encontrar várias figuras excêntricas e vivenciar uma jornada fantástica. Em especial, a personagem conta com a ajuda de sua amiga de infância Crea (filha de Etoile do primeiro jogo) e o cavaleiro Randy (que costuma ficar ao seu lado mesmo contra outros membros da ordem), mas também há vários outros aliados e inimigos curiosos que impactam o seu crescimento pessoal.
De forma geral, o mundo de Rhapsody é como um grande conto de fadas. Toda a narrativa é bem charmosa com personagens carismáticos e um foco na experiência da protagonista aos poucos aprendendo sobre o amor e vários aspectos da vida. Há também um destaque para o aspecto musical da experiência, com as personagens cantando em certos momentos para demonstrar mais explicitamente suas personalidades, sentimentos e desejos.
 
Trata-se de um jogo realmente pensado para um público feminino que carrega traços de um estilo shoujo antigo de mangá e anime. Para fazer uma comparação que talvez seja mais simples de entender aqui no Brasil, a obra é como se fosse uma Chiquititas medieval, carregando um carisma forte em sua apresentação de valores humanos e sentimentos.

Brincando de boneca

Assim como em Rhapsody, Kururu consegue conversar com bonecas espalhadas pelo mundo e usar o seu trompete para dar vida e força a elas. Conforme exploramos o mundo, encontramos vários aliados que serão fundamentais para a jornada. Porém, ao contrário do primeiro jogo, o sistema de party é focado em aliados humanos e as marionetes se tornam equipamentos.
 
Todos os personagens podem equipar armas, escudos e acessórios, mas Kururu e Crea possuem uma camada extra de configuração graças a essas marionetes. Elas afetam tanto os atributos das personagens como também a lista de habilidades que elas podem utilizar em combate, desbloqueando magias elementais, poderes de cura e suporte, e vários outros tipos de golpe. O resultado é que temos uma grande maleabilidade estratégica para as builds.
O uso constante das marionetes implica no aumento do seu nível assim como os humanos, aumentando a sua capacidade de combate. Vale destacar que alguns inimigos podem se tornar marionetes após serem derrotados, dando ao jogo uma perspectiva de captura de monstrinhos, algo que também estava presente no antecessor.
 
Rhapsody II possui três níveis de dificuldade (fácil, normal e difícil), o que ajuda o jogador a escolher de que forma prefere a experiência e tende a oferecer bem mais desafio do que o primeiro jogo. Mesmo retirando o aspecto de movimentação territorial do original e optando por um sistema mais tradicional de turno, há um balanceamento muito melhor da dificuldade, exigindo mais esforço para derrotar os inimigos.
Outras mudanças significativas incluem o fato de que temos apenas a barra de HP em vez de ter um medidor de MP. Para usar magias e habilidades das bonecas, curiosamente é necessário gastar dinheiro, aumentando a importância desse recurso no jogo. Já os poderes especiais de cada membro da party consomem HP, o que faz com que seja necessário ter muita cautela para usá-los.
 
Conforme Kururu usa as marionetes, temos também o preenchimento de uma barra musical que pode ser consumida para ativar os Rewards. Esses golpes especiais envolvem geralmente a invocação de guloseimas gigantescas como panquecas, flans e bolos que esmagam os inimigos, causando altos danos de acordo com a quantidade de barras consumidas.

Uma aventura engraçada e charmosa

Uma parte importante da trilogia Rhapsody é o seu humor. Embora tenha aspectos sociais e pontos bem emocionantes, a história é uma grande comédia em que essas personagens lidam com situações estúpidas, usam panquecas para brigar com gatos imbecis, entre outros detalhes. O tom de palhaçada é uma parte intrínseca do charme da série, que é cheia de diálogos engraçados.
 
Rhapsody II foi traduzido agora pela primeira vez em inglês e consegue manter vivo o espírito do seu original, mesmo tendo chegado 23 anos depois do primeiro. Isso transparece nas gracinhas da protagonista, nas cartas que ela recebe dos pais, nas tramoias da sua melhor amiga para ajudá-la por ser a pessoa que melhor entende a personagem, e no povo do castelo já cansado de ter que lidar sempre com a mesma situação.
Porém, é importante destacar que Rhapsody II é um pouco desigual no aspecto dublagem. O primeiro jogo foi originalmente traduzido pela Atlus no PS e teve um grande esforço de dublagem e de recriar o aspecto mágico da experiência musical em inglês, apostando em um estilo “filme da Disney” que é extremamente charmoso apesar do baixo orçamento que a equipe devia ter na época.
 
Já em Rhapsody II temos apenas a dublagem de cenas de diálogo, deixando as músicas apenas em japonês. A qualidade da trilha se mantém como no original e, felizmente, a NISA manteve um dos grandes acertos do original que era ter legendas com a letra traduzida e a transliteração dos termos em romaji, o que serve como uma espécie de “karaokê” para o jogador acompanhar o que está sendo cantado.
Ainda faz falta ter a opção de alternar entre as duas dublagens para as canções e é especialmente estranho que alguns trechos musicados ocorrem durante os próprios diálogos, deixando o jogador sem nenhuma legenda ou ajuda para entender as falas. Por exemplo, Kururu e Crea possuem um bordão musicado que fala “Nós duas estamos sempre juntas” em japonês, mas não há nenhum indicativo na tela do que elas estão falando, mesmo isso sendo um complemento importante para o contexto do diálogo.
 
Outro elemento negativo do jogo é que, assim como no primeiro, as áreas, embora muito bonitas e interessantes, usam ilustrações repetidas. Como resultado, o jogador pode ficar facilmente perdido explorando os lugares porque não consegue distinguir onde está.
 
Por fim, vale destacar que enquanto remasterização, o jogo não adiciona grandes vantagens em relação ao original. Há apenas filtros gráficos simples (imitando scanlines ou tirando o aspecto pixelado das bordas) e no PC uma variedade de opções de display e ajustes de controle. Porém, como o primeiro lançamento ocidental do título, na prática não existe outra opção para quem não sabe japonês.

A balada da princesa

Rhapsody II: Ballad of the Little Princess
é um RPG encantador que nos permite voltar a Marl Kingdom e ver novamente esse mundo carismático e fascinante. Trata-se de uma reparação histórica tê-lo finalmente disponível em inglês e um jogo que fãs do gênero podem aproveitar se não tiverem medo de se deixar tocar por um universo mais feminino do que o usual do mercado.

Prós

  • Mundo charmoso de conto de fadas com personagens cheios de carisma;
  • Traduzido pela primeira vez para o inglês, o jogo mantém o humor alto que era característico do seu antecessor;
  • Sistema de equipar marionetes adiciona maleabilidade estratégica às builds;
  • Curioso sistema de usar magias gastando dinheiro reforça a importância da economia;
  • Três níveis de dificuldade ajudam a modular a experiência.

Contras

  • Áreas muito similares entre si tendem a deixar o jogador perdido durante a exploração;
  • A dublagem em inglês se resume às falas em batalha e da história principal;
  • Alguns trechos de canção no meio de diálogos ficam sem tradução, deixando o jogador sem entender o que está acontecendo;
  • Enquanto remasterização, o jogo adiciona pouco valor à experiência, tendo apenas filtros gráficos simples.
Rhapsody II: Ballad of the Little Princess — PC — Nota: 8.0
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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