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Análise: Garlic (Multi) é um plataforma divertido sobre um alho em busca de sua encantadora ciborgue

Um ótimo game com jogabilidade dinâmica e desafios refinados em meio a uma proposta inusitada.


O mundo dos videogames é notável por sua ampla variedade e diversidade de histórias, propostas e temas. Mesmo um simples jogo de plataforma, um dos gêneros mais antigos da indústria, pode oferecer uma experiência inovadora e cativante. Garlic é mais um bom exemplo disso: em busca de sua amada ciborgue, um homem-alho precisa subir uma torre repleta de desafios divertidos e empolgantes. Partiu mais uma análise repleta de qualidade, bom humor e aquele odor característico?

Não julgue um game pelo título

Lançado originalmente para PC em junho de 2021, o game finalmente chegou aos consoles no dia 7 de julho de 2023, com versões para Switch, PlayStation 4 e 5, e Xbox Ones e Series. O título tem o mesmo nome do protagonista, um homem-alho destemido que precisa escalar uma enorme torre sagrada. O objetivo? Encontrar uma deusa cibernética que concede um desejo ao herói que conseguir chegar ao topo.
Pronto para subir a enorme torre e encarar os seus perigos?
Ao ter um breve contato com a divindade no começo da jornada, o personagem se apaixona por ela, ganhando um incentivo extra para encarar os desafios pelo caminho. Garlic tem como foco o gênero plataforma, exigindo que o jogador se movimente com precisão e timing ao longo das fases. São doze zonas ao total, cada uma delas dividida em dez níveis diferentes.
Amor à primeira vista
Também temos inimigos pelo caminho, sendo que a maioria deles pode ser simplesmente evitada ou, se necessário, derrotada com a habilidade dash do personagem. Já os chefes gigantes não oferecem escapatória, pois é preciso vencê-los para avançar. Embora tais combates sejam exigentes, as reais tarefas ficam por conta dos muros, blocos, espinhos, plataformas móveis, entre outros perigos e elementos que devem ser percorridos.
As mecânicas de jogo à disposição são poucas, mas versáteis: além do já comentado dash, que pode ser executado em oito direções diferentes, temos um pulo normal, a capacidade de escalar e “escorregar” pelas paredes (como em Megaman X e New Super Mario Bros.), e um super-dash que, embora difícil de executar, permite um movimento ascendente interessante.

Muitos dentes no bulbo

As zonas que compõem Garlic têm temáticas variadas – como fábrica, laboratório, usina de força, templo – que afetam tanto os aspectos visuais como os desafios. Por exemplo: na usina temos eletricidade por todo o lado, enquanto na fábrica temos serras afiadas. Nada impressionante, mas é tudo bem feito, realmente dando destaque aos elementos de cada nível.

É preciso ter habilidade e agilidade
Na realidade, essa é uma constante em Garlic: embora nada seja incrível, praticamente todas as partes do game são competentes e originais, demonstrando um bom trabalho no refinamento dos desafios e criação do universo do jogo. Os visuais pixelados são repletos de dinamismo e bom humor, sabendo usar com competência as variações de cores. O som também é digno de destaque, com músicas envolventes e efeitos engraçados e vibrantes.
Deixo um registro especial para os personagens, que, embora não sejam numerosos, são todos carismáticos e divertidos. O protagonista tenta ser sério o tempo todo, mas acaba sucumbindo durante momentos tensos, como nas suas interações com a deusa ciborgue. A divindade, por outro lado, mantém seu ar superior, mas volta e meia deixa escapar alguma expressão mais “humana”.

Nos ombros de gigantes

O game traz várias referências a outros jogos e mídias, sobretudo animes e mangás. Não quero trazer spoilers, pois o legal é conferir as surpresas conforme elas surgem, mas elas incluem Dragon Ball (basta atentar a roupa de Garlic, semelhante à de Picollo, por exemplo) e Jojo’s Bizarre Adventure (com algumas expressões faciais características). Essas referências não comprometem a originalidade do jogo, que é único e carismático.
Prepare-se para dar boas risadas com Garlic
Creio que o correto seja dizer que ele é original, mas fortemente inspirado em grandes sucessos do gênero. Jogadores mais experientes podem notar a semelhança dele com plataformas clássicos como Celeste e Super Meat Boy. Afinal, temos uma aventura com uma grande escalada em busca de um objetivo importante e um protagonista exposto a perigos que podem amassá-lo ou cortá-lo em pedaços.
Muitas jogadas serão no limite
O nível de qualidade não chega a ser o mesmo dos dois exemplos, mas é alto o suficiente para Garlic ser uma ótima aventura. Além de avançar pelas fases, é possível coletar as chamadas Garlicoins, moedas que são usadas de forma esporádica no jogo, sem impactar na jogabilidade básica. Novamente, sem maiores spoilers, elas afetam minigames e algumas das interações entre o alho e a ciborgue, sobretudo mais para o final do jogo.
São vários desafios diferentes que vão aparecer durante a campanha
Falando em minigames, eles aparecem em diversos momentos da campanha e são uma ótima forma de quebrar o ritmo intenso das zonas. Eles incluem joguinhos de nave, apontar e clicar, tiro, luta, música, entre outros. Alguns deles, inclusive, têm o propósito de impressionar a deusa ciborgue, aumentando uma barra de relacionamento que fica no topo da tela.
O caminho do amor é longo e desafiador
A quantidade e variedade dos minigames é ótima, mas admito que seria legal acessá-los no menu principal para disputar com os amigos ou buscar o melhor recorde online. O mesmo vale para variações na jogabilidade, que colocam Garlic em algumas fases diferentes das tradicionais plataformas. O game também tem um modo voltado para os speedrunners, no qual é possível jogar individualmente cada fase na busca do melhor tempo possível.

Faltaram mais temperos

Confesso que eu fui surpreendido pelo título e fiquei com um gostinho de quero mais. Por exemplo, faltou poder usar as moedas para comprar roupas, acessórios, artes, etc., e, assim, expandir o conteúdo de Garlic. O potencial para isso estava lá, com o bom humor único. Falando da jogabilidade sólida, cada morte acontece unicamente pela falta de habilidade ou bom senso ao escolher um caminho. Ou seja, basta o jogador prestar atenção e planejar/executar bem os movimentos, pois os desafios são justos.
Inclusive, o jogador pode rapidamente tentar de novo ao ser vencido por um inimigo, cair em um precipício ou ser derrotado por algum outro perigo. Isso torna a jogabilidade ainda mais dinâmica, sobretudo porque o game tem um sistema de salvamento generoso. Assim, não é preciso percorrer novamente distâncias enormes após algum erro, permitindo uma nova tentativa rápida.
Transições entre os lados da tela estão entre as mais divertidas
Por outro lado, é importante lembrar que o dash do game é restrito a oito direções diferentes. Pode parecer muito – isso era algo comum em jogos mais antigos e, portanto, mais limitados – num primeiro momento, mas algumas fases se tornam muito difíceis justamente por essa limitação. Reforço que nunca encontrei um desafio quebrado, pois sempre bastou analisar a situação para traçar um plano e executá-lo com cuidado para superar tal complicação.
É preciso aprender a lidar com as limitações do game
Essa sensação de limitação também é decorrente da ausência de power-ups e de novas habilidades, visto que Garlic mantém praticamente a mesma jogabilidade do início ao fim (salvo os já comentados minigames e as pontuais variações breves entre as fases). Seja como for, o game se garante mesmo com essa “limitação”, mantendo os bons níveis de diversão e desafio ao longo de toda a campanha. Vale aquela famosa frase “fácil de aprender, difícil de dominar”.
Embora os desafios sejam razoavelmente renovados conforme vamos subindo a torre, mantendo o frescor de cada nova fase, o mesmo não pode ser dito para os visuais. Eu reafirmo o elogio ao charme e originalidade da produção gráfica, mas a sua simplicidade cobra um preço conforme o tempo jogado aumenta, guardando poucas novidades ou momentos marcantes nesse sentido.
Também temos referências a outros jogos, como Metroid
O mesmo pode ser dito do enredo (além da já comentada jogabilidade): apesar da motivação básica (alho+torre+ciborgue) e os poucos acontecimentos ao longo do caminho serem suficientes (e bem humorados) para justificar o jogo, faltaram mais desdobramentos para a história ser realmente interessante. É uma pena, pois esses pontos limitaram uma experiência que poderia ser “épica” a somente “ótima”.

Pra vampiro nenhum botar defeito

Não deixe o nome curioso e a proposta inusitada te assustarem: Garlic é um excelente jogo de plataforma, que faz uso de uma jogabilidade simples para oferecer desafios divertidos e viciantes. Além disso, diversos minigames complementam este game sobre um homem-alho que precisa subir uma torre para encontrar sua ciborgue dos sonhos (não custa lembrar mais uma vez desse enredo único, certo?). Ainda faltou um pouquinho mais para o título ser realmente imperdível, mas ele é sem sombras de dúvida uma ótima recomendação para a sua biblioteca.

Uma aventura radical, bem humorada e divertida

Prós

  • Jogo de plataforma divertido e viciante;
  • História maluca é original e traz vários momentos engraçados;
  • Nível de desafio é afiado e equilibrado;
  • Produção técnica é ótima e com desempenho excelente;
  • Jogabilidade sólida do tipo simples de aprender, difícil de dominar;
  • Os minigames pelo caminho tornam a campanha mais variada e interessante.

Contras

  • Elementos como produção visual e história poderiam ser um pouquinho mais caprichados;
  • Seria interessante ter mais conteúdo na forma de cosméticos e disponibilidade dos minigames.
Garlic — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise redigida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games


é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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