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Análise: Let's! Revolution! (PC) transforma Campo Minado em um inventivo puzzle estratégico

Use da lógica e da intuição para avançar pelos desafios deste simpático título indie.


Os reinos de Let’s! Revolution! estão sendo ameaçados pelo excêntrico e ganancioso rei de Beebom, então heróis decidem impedi-lo. A jornada é uma mistura curiosa entre o clássico campo minado, puzzle e roguelike, o que resulta em uma experiência única e interessante. Além de boas ideias e variações nas mecânicas, o jogo cativa com sua atmosfera charmosa e agradável repleta de cores suaves, apesar da simplicidade incomodar a longo prazo.

Perseguindo uma majestade esquiva  

A aventura de de Let’s! Revolution! é estruturada em estágios cujo objetivo é encontrar o rei, que está escondido em algum ponto do mapa. O andamento é por turnos e em cada um deles podemos executar uma única ação, como mover ou ativar uma habilidade. O detalhe importante é que os espaços do tabuleiro ocultam todo tipo de coisa, como estradas, inimigos e tesouros, então precisamos avançar com cuidado, pois os heróis são frágeis.

Informações nos quadrados nos auxiliam a fazer escolhas conscientes. O conceito lembra o clássico Campo Minado: os números nos quadrados indicam quantas estradas existem nos espaços adjacentes. O rei e seus lacaios estão localizados unicamente nas estradas, então com observação e lógica podemos inferir onde perigos e objetivos podem estar. Revelar espaços de qualquer jeito não é uma boa opção, pois recebemos dano ao tentar ir para um quadrado já ocupado e oponentes descobertos nos atacam após alguns movimentos.

Os heróis não são indefesos e contam com habilidades úteis. O Combatente é especializado em força física, podendo atacar vários inimigos de uma vez com um golpe giratório ou acertar alvos distantes com flechas; o Sombra prefere a furtividade com suas técnicas que o permitem ocultar a si ou aos inimigos; já a pequena Oráculo é frágil e usa diferentes feitiços para viajar longas distâncias enquanto evita perigos. Pelo caminho, os personagens podem melhorar suas habilidades ou adquirir novas técnicas.


As partidas do título, que apresenta elementos de roguelike, são ágeis, durando aproximadamente 20 minutos. Cada uma delas é única, pois características como mapas, eventos e habilidades mudam entre as tentativas. Conteúdo adicional é liberado conforme jogamos, como versões alternativas dos personagens, novos itens e técnicas e níveis de dificuldade adicionais.

Em um esconde-esconde envolvente

Fiquei muito intrigado quando conheci o conceito principal de Let’s! Revolution!, pois nunca tinha imaginado encontrar uma mistura tão inusitada de gêneros. No começo achei meio estranho, mas quando dei por mim já estava completamente envolvido na jornada.


Usar os números nos espaços para identificar possíveis espaços com estradas é intuitivo, bastando alguns poucos turnos para conseguir entender o conceito. A graça do jogo está nas outras mecânicas, que adicionam camadas de complexidade. As habilidades, por exemplo, parecem bem poderosas por nos permitirem revelar muitos espaços simultaneamente ou ir para pontos distantes enquanto evitamos perigos. Já os inimigos nos forçam a mudar de tática constantemente ao bloquear caminhos ou ao atacar em conjunto.

No entanto, logo as coisas ficam complexas e precisamos pensar com cuidado como usar os recursos disponíveis. Nos estágios mais avançados, é comum ver mapas repletos de oponentes, mas dificilmente temos energia suficiente para derrotá-los ou evitá-los — a diversão é justamente dar conta de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Além disso, é necessário visão a longo prazo, pois precisamos estar preparados para o confronto com o rei na fase final. O resultado é um puzzle que combina estratégia e pensamento lógico de modo elegante.


Os três heróis surpreendem com seus estilos distintos. O Combatente é fácil de jogar, pois seus ataques acertam grandes áreas e sua energia pode ser recuperada com facilidade. A Oráculo exige uma abordagem diferente: no início da jornada ela não tem ataques, então utilizamos seus feitiços para encontrar o rei enquanto evitamos inimigos. Já o Sombra tem jogabilidade complexa com golpes que só acertam inimigos ocultos e recompensas por terminar os estágios revelando o mínimo possível de espaços — tarefa difícil em muitos casos. Os personagens são tão únicos que tive a sensação de estar jogando três jogos diferentes.



Tropeçando em problemas pelo caminho

Let’s! Revolution! usa conceitos de roguelike, como mapas gerados proceduralmente e diferentes habilidades, para deixar as partidas diferentes. Isso funciona até certo ponto, porém faltou um pouco de diversidade: mesmo com todos esses elementos, há uma sensação de mais do mesmo entre as tentativas. O problema é que os mapas são similares e não há grande variedade de habilidades para tornar cada jornada única.

Outra questão é a presença de tentativa e erro. A mecânica principal foca em considerar as opções e inferir onde estão possíveis tesouros e perigos, porém nem sempre há informações suficientes para escolhas conscientes, o que gera situações frustrantes e aleatórias. Isso fica ainda mais aparente ao jogar com os personagens Sombra e Oráculo, cujas habilidades nos incentivam a revelar o mínimo possível de espaços. Com o tempo aprendi a contornar isso, mas não deixa de ser um pouco irritante.


Alguns recursos tentam compensar esses pontos negativos. As dificuldades adicionais, por exemplo, são bem interessantes, pois a maior complexidade de desafios nos força a agir com ainda mais cuidado. Há também versões alternativas dos personagens que mudam sensivelmente o andamento das partidas. A longo prazo não há variedade suficiente, mas é uma ótima opção para partidas curtas de 30 minutos.

Uma viagem por reinos estonteantes

Uma das melhores características de Let’s! Revolution! é a sua elaborada ambientação. O jogo abre com uma belíssima animação que mostra os heróis enfrentando o rei maligno e o visual impressionante não para por aí: a jornada é repleta de belos cenários, personagens desenhados à mão e uma agradável paleta em tons pastéis. Cada região é visualmente marcante, como as dunas alaranjadas de Phlox, a metrópole festiva de Beebom e a mística cidade voadora de Saffron — uma trilha sonora suave complementa a montagem das localidades.

Além disso, o universo esbanja carisma com personagens visualmente expressivos que parecem saídos diretamente de um desenho animado matinal, como a durona dona de uma academia e o exótico vendedor de itens. O rei de Beebom, em especial, se destaca com sua caracterização excêntrica e com suas falas constantes repletas de bravatas. O jogo está completamente em português e a adaptação é razoável, salvo alguns termos erroneamente traduzidos.



Uma revolução inusitada e divertida

Let’s! Revolution! transforma as ideias de Campo Minado em um puzzle estratégico singular. Explorar mapas repletos de espaços ocultos é envolvente, pois é necessário intuição e experimentação para conseguir avançar ileso. Heróis com diferentes estilos de jogo, habilidades diversas e múltiplas técnicas fazem com que cada partida seja bem única. Além disso, a atmosfera caprichada cativa com os visuais coloridos e música suave.

Mesmo com boas mecânicas, alguns problemas atrapalham as partidas. Às vezes as informações disponíveis não são suficientes, criando irritantes momentos de tentativa e erro. Além disso, a variedade de conteúdo é um pouco limitada, o que pode deixar as coisas um pouco repetitivas a longo prazo. Ao menos as partidas são ágeis, o que minimiza os pontos negativos.

Criativo e adorável, Let’s! Revolution! é uma experiência que vale a pena.

Prós

  • Mescla única de puzzle, estratégia e roguelike, com interpretação criativa dos conceitos de Campo Minado;
  • Personagens com características distintas mudam significativamente o ritmo das partidas;
  • Ambientação agradável com ótimo visual desenhado à mão e trilha sonora suave.

Contras

  • Momentos de tentativa e erro quebram o aspecto estratégico das partidas;
  • Variedade de conteúdo limitada a longo prazo.
Let’s! Revolution! — PC — Nota: 8.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Hawthorn Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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