Disney’s Hercules (PS/PC): no Olimpo dos games, sempre há espaço para mais um bom platformer

Conheça este jogo que trouxe as hercúleas aventuras do filme da Disney para os videogames de uma forma divertida.

em 08/07/2023
A relação entre os videogames e a Disney é bem antiga: os primeiros games baseados em personagens e histórias do estúdio datam do início da década de 1980. De lá para cá, mais de uma centena de jogos foi lançada, não se restringindo apenas aos personagens dos desenhos clássicos, mas também envolvendo os filmes de animação que foram exibidos desde então.

Os jogos da Disney baseados nesses filmes até hoje têm uma reputação muito boa, sobretudo os platformers desenvolvidos na década de 1990: apresentam desafios na medida certa e conexões inteligentes entre os fatos dos filmes e as aventuras propostas, garantindo muita diversão ao jogador. É nesse contexto que, em 1997, é lançado Disney’s Hercules Action Game (PS/PC), jogo que bebe diretamente da fonte de sucessos como The Lion King (1994), mas que, à época, sofreu um pouco com a comparação com seus antecessores.

Provando ser um herói

O enredo de Disney’s Hercules é semelhante ao apresentado pelo filme cujo game é baseado (Hercules, 1997): Hades, governante dos mortos, destitui os poderes divinos do filho de Zeus, Hercules; este, para provar que é um verdadeiro herói e recuperar sua imortalidade, terá de enfrentar diversos desafios e monstros até confrontar seu nêmesis, podendo assim voltar ao convívio com os deuses no Monte Olimpo.

Dentre os adversários enfrentados por Hercules estão o Minotauro, a Hidra, as aves do Lago Estínfalo, a Górgona e o próprio Hades.

No jogo, os desafios de Hercules são apresentados em capítulos sequenciais, tendo seus cenários modificados para representar a passagem na história que se refere àquele trecho do game, sendo apresentados cenários diversos, como florestas, cidades, pântanos, cavernas, dentre outros.

O controle do personagem pelo jogador é realizado como um platformer 2D tradicional na maior parte das fases, porém com algumas diferenças possibilitadas pelo poder gráfico das plataformas de 32-bits. A maior parte dos adversários e o personagem principal são renderizados como sprites, mas os cenários são tridimensionais e permitem ao jogador movimentar o filho de Zeus para o fundo ou para a frente do cenário em determinados pontos.

Já em alguns estágios, o jogador deverá controlar o herói em sequências de corrida sem a possibilidade de atacar os adversários, desviando de obstáculos para chegar ao final da fase em segurança.

Força e destreza

Para auxiliar Hercules em sua jornada, o game oferece inicialmente uma espada para que ele possa lutar contra os inimigos, além de outros tipos de armamento e proteção disponíveis pelos cenários, como lança-chamas, lança-raios e capacetes. O protagonista pode, também, utilizar sua descomunal força, desferindo golpes fortíssimos para destruir obstáculos.

Determinados adversários (sobretudo os chefes de final de fase) só podem ser vencidos por Hercules de formas não triviais, como utilizando um tipo de armamento específico ou realizando alguma ação adicional: na batalha contra o Centauro, por exemplo, o herói só conseguirá vencê-lo se aproveitar os momentos correto para montar no monstro e, assim, diminuir suas energia.

É interessante a possibilidade de modificação dinâmica de elementos do cenário pelo uso desses golpes pelo jogador, podendo destruir colunas, pedras e plataformas com a força de seus braços e pernas e, assim, revelando novos caminhos.

Alguns dos objetos coletáveis pelas fases são frascos de bebidas, que reabastecem a barra de energia do herói, letras que compõem o nome HERCULES, concedendo continues ao jogador, bonecos do Hercules, que aumentam a capacidade da barra de energia, vasos de cerâmica, que podem conceder passwords ao jogador, e moedas.

Ao final de cada fase, um ranking da performance do jogador é apresentado, baseado na quantidade de moedas coletadas no estágio. Caso colete uma porcentagem grande de moedas, um vaso adicional é concedido ao jogador.

No total, o jogo apresenta dez fases em três níveis de dificuldade: Beginner (fácil), Medium (intermediário) e Herculean (difícil), sendo os dois últimos estágios disponibilizados apenas para quem joga na dificuldade intermediária ou difícil.

Fiel às suas origens

A atmosfera do jogo representa muito bem o espírito do filme a qual se baseou: os personagens, ilustrações, telas de loading, itens de composição da interface e até os menus parecem ter sido transportados diretamente das telas do cinema, pela presença constante de elementos da animação na composição.

No início da aventura, entre os estágios e no término do jogo, são apresentadas pequenas cutscenes animadas e dubladas, contando mais detalhes da história do filme e ajudando na contextualização dos desafios até para quem não viu o desenho previamente.

Até o sistema de passwords parece ter vindo da Grécia antiga: Meg, par romântico de Hercules no filme, gira alguns vasos que contêm ilustrações sobre a aventura, e as senhas disponibilizadas durante a jogatina são justamente essas gravuras, que devem ser informadas pelo jogador na tela correspondente.

Apesar do charme e da graça desses detalhes, existe a possibilidade de salvar e carregar o jogo por meio do uso de Memory Card, no PlayStation, ou de arquivos, no PC.

Um olhar em retrospecto

Disney’s Hercules apresentou muitas das características presentes em jogos de sucesso de suas franquias animadas para a geração de 16-bit, como Disney's Aladdin (1993) e The Lion King (1994). No entanto, o que pode ser avaliado como a continuidade de uma fórmula de sucesso, à época não foi visto dessa forma por todos.

Enquanto em análises de publicações como a Electronic Gaming Monthly e a GameSpot foram ressaltados os pontos positivos dessa abordagem, considerando Disney’s Hercules como uma evolução da fórmula clássica dos platformers da Disney, publicações da Next Generation, por exemplo, avaliaram negativamente o título como sendo “mais do mesmo” já visto em jogos da geração anterior.

Essa visão dividida pode ter sido causada pelo impacto substancial no mundo dos videogames causado pela presença maciça de novos jogos majoritariamente tridimensionais na geração 32-bits.

Olhando em retrospecto a experiência apresentada pelo jogo Disney’s Hercules, pode-se perceber que a abordagem realizada pelos desenvolvedores foi acertada, pois games com a jogabilidade deste título são aclamados até hoje pela diversão proporcionada e não apenas pelos seus gráficos que, na aventura de Hercules em específico, também podem ser considerados um ponto positivo, ao trazer uma quantidade grande de referências diretas e ambientação característica de seu filme de origem.

Adaptações e legado

Além da aventura desenvolvida para PlayStation e PC, uma versão também foi criada para Nintendo Game Boy. O jogo é um platformer baseado nos desafios apresentados pelo filme, mas com grandes adaptações realizadas em relação ao jogo para console de mesa e PC devido às características do console portátil que ainda apresentava o mesmo hardware e capacidade gráfica 2D em preto e branco desde 1989.
 
Disney’s Hercules mostrou ter seu público e apelo comercial: a receita de vendas do jogo na Europa já havia passado 15 milhões de euros em 1999, se aproximando da vendagem de clássicos como Grand Theft Auto e Age of Empires. Inclusive, a versão para PlayStation foi relançada em março de 2011 como um PSOne Classic na PlayStation Store, e a edição para PC está disponível desde 2019 via Steam e GOG.com.

Jogos como Disney’s Hercules apresentam como legado e ensinamento às novas gerações de desenvolvedores de games que existe sempre a oportunidade de se conciliar avanços técnicos e melhorias proporcionadas por novas plataformas com fórmulas clássicas de jogos sem prejuízo à diversão. E, em se tratando do quesito diversão, podemos reservar um bom lugar no Monte Olimpo dos games para Hercules e sua turma, pois seu game venceu o desafio do tempo.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

Entendo videogames como sendo uma expressão de arte e lazer e, também, como uma impactante ferramenta de educação. No momento, doutorando em Sistemas da Informação pela EACH-USP, desenvolvendo jogos e sistemas desde 2020. Se quiser bater um papo comigo, nas redes sociais procure por @RodrigoGPontes.
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