Jogamos

Análise: With Eyes of Ice (PC): um romance para esquentar o inóspito inverno islandês

O jogo traz uma das melhores narrativas de ebi-hime até o momento, mesmo que o cenário possa não ser o mais agradável para jogadores não europeus.

A criadora independente ebi-hime já é conhecida por suas visual novels com temática girls love, mas vez ou outra a autora se arrisca em outras demografias. No caso de With Eyes of Ice, ebi tentou aplicar o conceito de títulos otome em um romance que se passa no início do século XIX na gélida Islândia, e, embora o jogo não possa ser totalmente considerado como uma visual novel otome, entrega uma das melhores narrativas da autora até o momento.

Uma noite gélida e reminiscências do passado

A história começa com uma garota em fuga no meio de uma noite invernal assolada pela neve que, consumida pelo frio e cansaço, acaba desmaiando. Pouco tempo depois, a moça se vê sendo cuidada por um rapaz chamado Pétur e descobrimos que ela é a protagonista da história, Gréta.

O solícito rapaz logo pergunta à moça o porquê dessa atitude e Gréta começa a narrar os acontecimentos de sua vida até o momento presente. Descobrimos então que a protagonista vivia com sua avó materna, Ragna, em Reykjahlíð, um pequeno vilarejo islandês, porém as duas não eram bem-vistas pelos habitantes locais.


Descobrimos também que, além de órfã, o único amigo de Gréta era ninguém mais ninguém menos que o próprio Pétur. Contudo, por pertencerem a classes sociais discrepantemente distintas — ela, pobre; ele, herdeiro de uma família abastada —, os dois amigos acabaram se distanciando conforme o passar dos anos.

Aos 18 anos, quando Gréta pensava que tudo estava indo bem em sua vida, ela perdeu sua avó para uma grave doença. Frente a isso — e ao fato de a população não gostar da menina —, o pai de Pétur propôs que ela fosse trabalhar como governanta na casa do médico Nataníel, em Mýrakot, um vilarejo ainda mais remoto do que Reykjahlíð.

A partir daí, Gréta acabou se envolvendo de maneiras diferentes com quatro pessoas: Steina, a esposa de Nataníel, os irmãos Kai e Kristófer, e o próprio Nataníel, mas termino a sinopse aqui para não acarretar spoilers.

Uma ótima ambientação — com algumas ressalvas

O esquema narrativo de evocar acontecimentos passados a partir de uma situação no presente é explorado muito bem na visual novel, ajudando a instigar a curiosidade no decorrer da leitura. A ambientação, assim como de praxe das visual novels de ebi-hime, também ajuda de maneira ímpar a situar o jogador sobre os locais nos quais a narrativa se passa.

Pessoalmente falando, alterar a ambientação da história é sempre um elemento bem-vindo, até porque a autora consegue transitar por diversas localidades de forma praticamente natural, tamanhas são as pesquisas que ela faz sobre os mais diferentes países e costumes. Porém, desta vez eu realmente senti dificuldade em pronunciar, mesmo que mentalmente, os nomes dos personagens e lugares, devido ao fato de a Islândia ser um país nórdico; sendo assim, essa questão acabou pesando negativamente na minha experiência com a visual novel como um todo.


Além disso, como se trata de uma trama pautada em costumes nórdicos, senti falta de explicações sobre certos pratos culinários e até mesmo figuras folclóricas da região — em vários momentos me vi pesquisando no Google o que era o que, o que quebra totalmente a imersão. Desse modo, arrisco dizer que a falta de localização para o português ou outro idioma latino pode deixar a leitura ainda mais custosa para quem não tem tanta familiaridade com o inglês.

Outro aspecto que quero apontar é que, apesar de contar com elementos da demografia otome (isto é, uma garota protagonista e diversos interesses românticos), With Eyes of Ice não pode ser classificada como uma visual novel otome. Isso se dá, principalmente, pela história ser linear, ou seja, não apresentar escolhas que determinem com quem Gréta terminará ao final da narrativa; sendo assim, é mais correto dizer que o jogo flerta com elementos da demografia em questão, mas não pertence a ela.

Mesmo com essas ressalvas, os temas abordados na visual novel são bem trabalhados e incluem, sem apelar para exageros, drama, romance e alguns momentos de comédia, com a construção dos personagens (tanto em visual quanto em personalidade) e a trilha sonora contribuindo positivamente para isso. Arrisco dizer, inclusive, que With Eyes of Ice é uma das melhores narrativas de ebi-hime até o momento — e uma das minhas favoritas, ao lado de Salome’s Kiss.

Mais um romance de qualidade

With Eyes of Ice, embora não sendo uma visual novel otome ao pé da letra, é mais uma excelente narrativa de ebi-hime, que não poupou esforços para explorar cenários e costumes diferentes daqueles que a autora está acostumada a escrever. Mesmo que a cultura nórdica da Islândia (em especial os nomes) possa causar certa estranheza a jogadores não europeus, a trama é sólida o suficiente para prender o interesse do início ao fim, ainda mais com o suporte de uma excelente apresentação audiovisual e caracterização dos personagens.

Prós

  • Excelente apresentação audiovisual, em especial a trilha sonora;
  • A escolha pela Islândia traz novos ares à narrativa, já que a autora tem predileção pelo cenário inglês/anglo-saxão;
  • Os temas abordados incluem drama, romance e elementos de comédia, sem apelar para exageros;
  • Personagens bem construídos, tanto em visual quanto em personalidade.

Contras

  • Visual novel erroneamente classificada como pertencente ao gênero otome, já que se trata de uma narrativa linear;
  • Sem localização para o português ou outra língua latina;
  • Falta de contextualização de certos elementos culturais nórdicos, como pratos típicos e folclore;
  • Nomes de personagens e locais de difícil compreensão para jogadores não europeus.
With Eyes of Ice — PC — Nota 8.0
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida por ebi-hime

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google