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Análise: Nobunaga's Ambition: Awakening (Multi): assumindo o papel de um verdadeiro senhor da guerra

Entre na pele de um daimiô e concretize o sonho de Nobunaga Oda de unificar o Japão.

Nobunaga's Ambition: Awakening é o mais recente lançamento da franquia de jogos de estratégia iniciada em 1983. O novo título publicado pela Koei Tecmo celebra com maestria o 40º aniversário da série e entrega uma experiência excepcionalmente rica em conteúdo e com uma jogabilidade de altíssima qualidade.

A instabilidade do período Sengoku 

Assim como em seus antecessores, Nobunaga's Ambition: Awakening se passa durante o período Sengoku, uma época marcada por grandes conflitos entre diversos clãs japoneses nos séculos XV e XVI. Neste contexto, o nosso objetivo é unir o Japão sob uma única bandeira. Apesar de Nobunaga Oda ser uma das figuras mais populares desse momento histórico e a origem do nome do jogo, não somos limitados a usá-lo e podemos escolher entre os diversos daimiôs disponíveis. 

Ao iniciarmos a campanha, temos a liberdade de selecionar qual clã desejamos liderar e em que momento iremos adentrar, o que impacta de forma significativa o cenário geral. Para exemplificar, no primeiro ponto, denominado Nobunaga is Here, a família Oda ocupa uma região pequena e dispõe de poucos soldados, enquanto, no período Like a Dream, o mesmo grupo domina quase metade do mapa nipônico. Nesse sentido, a soma dessas duas opções influencia bastante o nível de dificuldade inicial, uma vez que optar por um senhor de terras menos influente tornará mais difícil o processo de unificação do país.

Outro aspecto que está diretamente ligado ao período que escolhemos é a ocorrência dos eventos históricos, que acontecem aos montes durante a gameplay. Esses momentos se desenvolvem por meio de diálogos, de maneira semelhante a uma visual novel, e o jogador é livre para visualizá-los ou não.

É por meio desses episódios que nos mantemos informados sobre o que está ocorrendo no restante do país, como os conflitos internos das famílias e as disputas entre elas, figuras importantes falecendo e alianças sendo formadas e desfeitas. Como muitas dessas circunstâncias são replicações de histórias reais, elas acontecem no jogo em suas respectivas datas, como o falecimento de Nobunaga quando alcançamos o ano de 1582.  

Um daimiô não governa sozinho

Como líder de um clã, em Awakening, devemos desenvolver nossas regiões com o objetivo de fortalecer o exército e conquistar novas terras. Dado que não é muito plausível que um indivíduo administre diversos lugares ao mesmo tempo, podemos atribuir tarefas aos nossos oficiais.

Cada região do mapa é dividida em algumas áreas menores, com cada uma delas abrigando um governante. Dessa forma, apesar de podermos administrar esses locais manualmente, os generais têm autonomia para tomar suas próprias decisões e desenvolver sua jurisdição por conta própria, construindo e aprimorando edifícios, além de gerar mais soldados continuamente.

Este aspecto de gerenciamento torna-se cada vez mais relevante à medida que aumentamos a abrangência do nosso domínio, uma vez que verificar cada um dos territórios demandará muito tempo. Vale salientar que cada indivíduo possui habilidades distintas, com alguns se destacando mais durante os combates e outros no gerenciamento.

Sendo assim, cabe ao jogador avaliar qual aliado se adequa melhor a cada função. É claro que, quanto mais pessoas estiverem ao nosso lado, maiores as probabilidades de uma traição, logo, também devemos nos atentar à lealdade dos nossos subordinados e às tentativas inimigas de persuadi-los. Felizmente, não são apenas os adversários que podem adotar essa estratégia, pois também conseguimos enviar espiões a outros territórios para convencer seus generais a se juntarem à nossa causa.

Outro detalhe positivo é a presença de oficiais femininas, com participações que vão muito além de princesas usadas como moeda de troca para firmar alianças por meio de casamentos arranjados (opção que também está presente no jogo, vale ressaltar). Ainda assim, é uma pena que o número dessas personagens seja muito inferior ao dos masculinos.

Ainda em relação aos aliados, vale mencionar que eles identificam oportunidades e fornecem sugestões que podem ser aceitas ou não pelo jogador. Assim, um general pode indicar a próxima região a ser atacada ou aconselhar uma abordagem sorrateira para reduzir os suprimentos de uma nação e, em seguida, iniciar uma ação direta.

Awakening funciona inteiramente em tempo real, logo, enquanto administramos o nosso território, as outras nações também estão em constante evolução. Além disso, algumas delas podem ser completamente dominadas e dizimadas por outro grupo, deixando de existir.

Por essa razão, não basta prestar atenção apenas ao nosso estado, pois precisamos saber quem estamos enfrentando para poder atacar e se defender. Nessa perspectiva, a ajuda dos oficiais é crucial para conseguirmos ter uma visão mais ampla do mundo. Além disso, a enorme variedade de indivíduos disponíveis é um aspecto extremamente positivo e gera um nível de customização muito amplo.

Batalhas estratégicas em tempo real

Assim como os demais sistemas de Awakening, as batalhas também ocorrem em tempo real, no entanto, podemos congelar o tempo para pensar nos nossos movimentos. Geralmente, os confrontos acontecem diretamente na mesma tela padrão que visualizamos o mapa; no entanto, algumas disputas são mais elaboradas e se apresentam sob uma perspectiva diferente.

No primeiro caso, a situação é um pouco mais simples: os grupos aliados, cada um liderado por um general, partem para cima dos adversários e os números de ambos os lados caem até que um dos clãs seja derrotado. Essas tropas possuem uma quantidade específica e limitada de suprimentos e o esgotamento desse material fará com que os soldados sejam facilmente destruídos.

O segundo tipo ocorre quando selecionamos uma opção específica (que geralmente surge quando uma batalha comum está em andamento) ou realizamos um cerco em um castelo com propriedades defensivas. Neste caso, o confronto assume os contornos de um tabuleiro e o cenário apresenta pontos estratégicos que, se dominados, podem garantir a vitória.

Durante a guerra, temos uma barra de moral que permanece em constante queda. Ao destruirmos uma tropa rival ou dominarmos um posto de controle, esse valor aumenta, porém, se não formos rápidos o suficiente e a barra chegar a zero, perdemos a luta.

Dessa forma, o fato de um exército ser maior que o outro não necessariamente significará a  vitória, especialmente nos momentos de cerco, em que alguns castelos são bem reforçados e conseguem diminuir as tropas adversárias a distância. Em suma, o moral é o ponto central das batalhas, então o lado que consegue se antecipar para aumentar esse valor recebe uma grande vantagem.

Como já foi mencionado, muitos oficiais possuem habilidades específicas para os confrontos. Essas técnicas podem ser ativas ou passivas, sendo esse mais um ponto que pode ser trabalhado de forma estratégica pelo jogador. Outra característica interessante é que, ao triunfarmos em uma guerra, alguns generais são capturados e podemos optar entre liberá-los, recrutá-los ou executá-los.

Muito além do que dá para ser mencionado

Tudo o que foi dito até agora é apenas uma fração do todo e se refere ao modo "padrão" de jogo, com os eventos históricos devidamente ativados. No entanto, Awakening permite que o jogador personalize várias configurações para que a simulação ocorra da maneira que melhor lhe agradar.

Alguns exemplos dessa customização incluem: desativar as mortes por idade e por batalhas; permitir ou não a presença de oficiais femininas; ativar ou não as alianças históricas entre os clãs de cada período; e criar generais do nosso próprio modo, incluindo até mesmo as habilidades mais apelonas.

Além disso, também podemos escolher a dificuldade a qualquer momento, com as opções influenciando principalmente no comportamento da inteligência artificial, na quantidade de recursos adquiridos, no nível de ocorrência de desastres naturais e na agressividade e propensão à guerra que os outros clãs apresentarão.

Além do que foi dito sobre gerenciamento e combate, existem diversos recursos que conferem ainda mais alternativas ao jogador, como presentear oficiais e daimiôs para estreitar relações, fazer suserania e vassalagem, promover os aliados de cargo, criar províncias e estabelecer políticas que criam ainda mais opções administrativas.

Interface efetiva, mas pouco convidativa a iniciantes

Apesar de não ser completamente desconhecida, esta série está muito longe de ser um produto de massa e se limita a um público bastante restrito, mas aqueles que conhecem a franquia Samurai Warriors ou já se aventuraram em Pokémon Conquest podem se sentir familiarizados com alguns personagens. Em nossa prévia, mencionamos que a principal fonte de preocupação com o novo Nobunaga's Ambition se concentrava na interface, pois estamos falando de um título que apresenta muitas mecânicas complexas e que pertence a um gênero que foi majoritariamente pensado para se jogar com mouse.

Felizmente, Awakening não desaponta nesse aspecto e entrega um controle funcional, no qual temos acesso a todos os sistemas de forma prática e intuitiva. Apesar disso, creio que novos jogadores provavelmente se sentiram confusos em um primeiro momento, mas essa é uma característica que acompanha a maioria dos jogos do gênero estratégia.

Nesse sentido, preciso advertir que não se trata de um título tão convidativo para iniciantes e que o aprendizado depende muito da tentativa e erro. Ele até possui tutoriais resumidos que podem dar uma luz inicial, mas, mesmo não contendo todas as informações, muitos desses textos são imensos e podem ser maçantes de ler, principalmente pela falta de legendas em nosso idioma.

Além disso, a progressão é longa e requer dezenas de horas de dedicação. Embora existam desfechos que podem ser alcançados em um período menor e que exigem a dominação de apenas parte do mapa, conquistar todo o Japão é difícil e trabalhoso, mesmo nas dificuldades mais baixas. Assim, há um verdadeiro prato cheio aqui para os amantes de desafios e estratégia.


Alguns aspectos estranhos

A despeito de todos os pontos positivos, duas particularidades chamam a atenção negativamente. Em primeiro lugar, ainda que Awakening esteja todo em inglês, os troféus estranhamente se apresentam em japonês, o que pode ser um impeditivo imenso para os buscadores de platina.

O outro aspecto diz respeito à dublagem, que por algum motivo não dispõe da opção do japonês. Embora as vozes em inglês sejam muito competentes, por se tratar de um jogo desenvolvido e que se passa no Japão e que é constituído por personagens japoneses, também acho curioso que não exista a alternativa do áudio original. O que nos resta é torcer para que esses contratempos sejam resolvidos em futuras atualizações.

Desafiador, rico e viciante

Nobunaga’s Ambition: Awakening cumpre com excelência a missão de reverenciar os 40 anos da série, apresentando inúmeras possibilidades estratégicas dentro de todos os seus sistemas. Para os amantes do gênero, há aqui conteúdo suficiente para se aproveitar por dezenas, se não centenas, de horas. Já para os novatos, é preciso ter ciência de que muitas tentativas podem ser necessárias para se dominar as mecânicas; no entanto, uma vez compreendidas, o difícil será largar o controle.

Prós:

  • A ambientação se passa durante um momento fascinante da história japonesa e fornece muitas informações sobre esse período, apresentando personagens e eventos reais;
  • A liberdade para escolher entre os diversos daimiôs e períodos fazem com que tenhamos muitas formas diferentes de se iniciar uma nova campanha;
  • As mecânicas de gerenciamento são profundas, ricas e complexas, permitindo que o jogador tenha um leque infindável de opções para desenvolver suas regiões;
  • De igual modo, a vasta quantidade de oficiais com talentos diferentes permitem que tenhamos inúmeras alternativas estratégicas, tanto em combate quanto em administração;
  • A possibilidade de selecionar a dificuldade e de alterar configurações que mudam efetivamente a experiência pode ser um aspecto convidativo para as pessoas de fora da bolha da franquia;
  • A interface é efetiva em englobar de maneira prática e intuitiva todas as mecânicas disponíveis;
  • O sistema de moral e as batalhas de cerco fazem com que a vitória em uma guerra não seja reduzida à “simplicidade” de um exército ser maior que o outro.

Contras:

  • Pode ser muito intimidante para iniciantes, e os tutoriais são um pouco maçantes, sendo bem mais prático aprender através da tentativa e erro;
  • Os troféus estão todos descritos em japonês;
  • Ausência de legendas em português;
  • A falta da dublagem em japonês é, no mínimo, estranha, já que o jogo foi desenvolvido e se passa inteiramente no Japão.
Nobunaga's Ambition: Awakening — PC/PS4/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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