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Análise: Dragon Quest Treasures (PC/Switch) oferece um prazeroso mergulho em um mundo de aventuras e tesouros

Com uma atmosfera de jornada infantil, o jogo traz uma experiência focada em exploração.

Originalmente lançado no Switch, Dragon Quest Treasures chegou ao PC no dia 14 de julho em um lançamento surpresa sem anúncio prévio. O spin-off da tradicional série de JRPGs mergulha em vários elementos da série para levar o jogador a um fascinante mundo de mistérios e tesouros.

Dois irmãos em busca de aventura

Dragon Quest Treasures conta a história dos irmãos Erik e Mia, personagens já conhecidos pelos fãs da franquia por fazerem parte do elenco de Dragon Quest XI. Ainda crianças, eles ficaram órfãos e foram criados com um grupo de vikings, mas um dia decidiram partir em uma grande aventura por conta própria para conseguir os seus próprios tesouros.

Após um encontro fortuito com duas criaturas aladas misteriosas, a gata Purrsula e o porco Porcus, eles encontram duas adagas especiais e vão parar em um outro mundo. Em ilhas flutuantes coletivamente conhecidas como Draconia, eles começam sua aventura, criando uma gangue de aventureiros em busca de tesouros lendários. Em particular, entre todos os itens que podem encontrar, há Pedras do Dragão que são desejadas por seus parceiros alados.

No caminho, o jogador terá várias missões para fazer, mas a ordem das coisas é bem aberta. Mesmo no que tange o centro da narrativa, temos uma boa dose de liberdade, descobrindo áreas com tesouros conforme melhoramos o ranqueamento do nosso bando.

Tesouros, tesouros e mais tesouros

Tudo em Dragon Quest Treasures gira em torno do desejo por descobertas e tesouros. Próximo do início do jogo, nossos protagonistas encontram a sede de uma antiga companhia ferroviária que ligava as ilhas celestiais de Draconia e passam a usá-la como base, mantendo seus tesouros bem protegidos por lá.

Conforme o jogador vai derrotando monstros, pode recrutar alguns deles como aliados pagando uma certa quantidade de recursos que pode variar bastante mesmo dentro de uma mesma espécie. Além de servir como seus guarda-costas, essas criaturas poderosas têm como função carregar tesouros que você pode escavar em vários pontos dos mapas.

Mesmo tendo sempre a mesma estrutura física, as ilhas estão em constante transformação no quesito tesouro. Toda vez que voltamos para a base, a próxima visita a uma área vai ter novas recompensas, cujas tendências são indicadas pelo sistema de Treasure Forecast (“Previsão de Tesouro”). Para melhorar as suas chances de encontrar artefatos raros, é necessário escolher bem os aliados já que cada indivíduo possui afinidade com categorias diferentes de itens (como bonecos de personagens, armas ou “itens-chave”).

Vale destacar que os tesouros coletados podem atrair gangues rivais que virão atrás do jogador para roubá-los enquanto ele está atravessando o mapa. Os aliados também podem perder o tesouro em batalha, o que é especialmente comum se eles morrerem porque o jogador estava enfrentando inimigos muito acima de seu nível de força ou em caso de descuido.

Uma vez coletados os tesouros, é necessário levá-los até a base para que sejam avaliados e adicionados ao cofre da equipe. Quanto mais artefatos coletamos, mais a equipe acumula riqueza e esse patrimônio agregado é o que define o ranqueamento da gangue, uma parte fundamental da experiência e que traz vários benefícios de gameplay ao jogador, incluindo o desbloqueio de uma dungeon chamada The Sharl com batalhas consecutivas contra monstros e recompensas que indicam o paradeiro das Pedras do Dragão.

Esforço e recompensa

De forma geral, os sistemas são muito bem casados para oferecer a sensação de que vale a pena explorar bastante. Em vez de ficar parecendo que o jogador precisa ficar se esforçando demais para avançar, o progresso é sempre nítido. É bem prazeroso encontrar recompensas valiosas que aumentam os números do patrimônio rapidamente.

Para além dos tesouros, o mundo de Draconia é verdadeiramente vasto com localidades bem diferentes e cujo terreno convida o jogador a escalar montanhas, pular de grandes alturas, nadar, tomar cuidado com a lava, entre outras coisas. Para explorar isso, temos acesso também a poderes especiais dos monstros como pular para alcançar lugares mais altos, planar por um tempo limitado, correr, se esgueirar nas sombras para fugir de monstros e escanear os arredores em busca de itens.

Esses poderes possuem grande utilidade no campo, mas são infelizmente apenas essas cinco categorias. Em pouco tempo, essa limitação já reduz consideravelmente as opções do jogador. Junta-se a isso o fato de que o jogador tem uma capacidade muito limitada de gerenciamento da equipe. Embora o jogo possa lembrar alguns jogadores da subsérie Dragon Quest Monsters, a capacidade de controle da equipe é muito inferior, sendo apenas uma questão de recrutamento de aliados com parâmetros já definidos.

A única forma de customização de build vem da escolha desses aliados e das medalhas que equipamos no protagonista escolhido e nos monstros. Como esperado de equipamentos em RPGs, as opções afetam os parâmetros dos aliados e afinidades com alguns elementos, mas são geralmente efeitos pequenos.

Em batalha nosso controle também é restrito a atacar com o protagonista enquanto os monstros são controlados por IA e podemos apenas pedir que eles se aproximem de nós ou dos inimigos. Como Erik e Mia são consideravelmente mais fracos que seus aliados, boa parte do combate não depende tanto do jogador.

Isso não significa que o jogador não tenha um bom leque de opções em batalha. Além de atacar inimigos com adagas, desviar de golpes e afetar a localização da equipe no combate, podemos: roubar itens, desferir um golpe furtivo forte antes da batalha começar, gastar energia para ativar os ataques especiais dos nossos aliados, recuperar HP com magia, reviver aliados mortos e usar um sistema de Catapult.

Com esse item, que na prática é um estilingue, podemos arremessar bombas especiais nos inimigos e aliados. Os efeitos são bem variados, podendo ser focados em dano, golpes elementais para abusar das fraquezas dos oponentes, cura para aliados, buffs e debuffs. Há até mesmo itens focados em aumentar a chance de que um inimigo se junte à equipe após ser derrotado. Esse elemento é, de fato, uma parte muito boa do combate, tendo em vista que acabamos tendo pouca agência sobre nossos aliados monstros dentro e fora de campo e faz diferença especialmente no combate contra chefes.

Um mergulho histórico

Um elemento que eu não posso deixar de mencionar é como Dragon Quest Treasures é um grande tributo ao que a série já construiu. Boa parte dos tesouros são advindos de jogos anteriores da franquia, valorizando essas peças de experiências passadas como obras de arte. Da mesma forma, a trilha sonora é composta por músicas que nos remetem à série e a maior parte dos monstros também são figuras conhecidas que reforçam a sensação de que estamos sim jogando um Dragon Quest, mesmo que o formato de combate e experiência geral seja diferente do usual.

Outro ponto que precisa ser valorizado no jogo é a forma como ele consegue introduzir os sistemas de forma fluida. Cada avanço no jogo parece parte de uma estrutura orgânica, mesmo que alguns elementos de repetição e limitação do controle do jogador sobre a build da equipe possam incomodar. Dragon Quest Treasures embala tudo isso com um charme de jornada infantil que não apenas é consistente com a proposta do jogo, mas também uma demonstração da atmosfera geral que a série mantém ao longo dos anos.

Por fim, gostaria de destacar dois pequenos defeitos de experiência que me incomodam bastante. Primeiramente, o jogo só possui espaço para um save e um autosave, sendo o segundo gravado bem esporadicamente caso o jogador explore livremente em vez de se preocupar em ficar descansando constantemente nas fogueiras espalhadas pelas ilhas. Como a morte do personagem do jogador leva a um game over, isso é um inconveniente bem grande.

Outro defeito menor é a ausência de um log para registrar as falas, o que significa que se o jogador acabar passando um diálogo rapidamente perderá totalmente aquele texto. Como não há ajuste da velocidade do texto, que é bem lento, é fácil acabar passando do ponto na hora de apertar o botão para agilizar a leitura. Ter que esperar cada tesouro tocar a musiquinha antes da sua avaliação é outro problema para quem gostaria de experimentar o jogo um pouco mais rápido.

Em termos específicos da versão de PC, vale destacar que o jogo inclui opções detalhadas de configuração gráfica e de controles (teclado e gamepad). O jogador pode escolher entre configurações de baixa, média ou alta qualidade de desempenho, que acompanham um aumento progressivo de custo computacional, ou editar especificamente características como anti-aliasing, detalhamento de sombras e texturas, oclusão de ambientes, densidade de folhagens, reflexões e bloom.

Uma jornada épica com o olhar de criança

Dragon Quest Treasures é um RPG de ação carismático que consegue refletir o brilho de uma grande aventura com o olhar inocente de uma criança. Ele é recomendado para quem gosta de jogos focados em exploração e pode render centenas de horas de diversão sem compromisso.

Prós

  • Sistemas que giram em torno de encontrar tesouros oferecem uma grande sensação de recompensa;
  • Mundo verdadeiramente vasto, cheio de localidades para explorar e tesouros que variam toda vez que o jogador volta para a base;
  • Aproveita com louvor muito da riqueza da franquia na escolha de tesouros, monstros e músicas;
  • O sistema de estilingue é um recurso curioso que, se bem usado, pode impactar significativamente o limitado combate;
  • Uma experiência charmosa em que todos os elementos do jogo são bem consistentes com a proposta de aventura infantil.

Contras

  • A capacidade de customização das builds dos aliados é bem limitada;
  • Os poderes que podem ser usados no campo são pouco variados;
  • Com raras exceções, o combate acaba não dependendo tanto da ação do jogador;
  • A limitação a apenas um save e o autosave bem esporádico podem ser inconvenientes;
  • Ausência de log e de ajuste de velocidade do texto.
Dragon Quest Treasures — PC/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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