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Análise: Cross Tails (Multi): vivenciando os dois lados de um mesmo conflito

Embarque na guerra entre o reino canino de Ranverfurt e a república felina de Hidiq.

Desenvolvido pela Rideon e publicado pela KEMCO, Cross Tails é um RPG estratégico que oferece uma notável liberdade de customização ao jogador. No entanto, apesar de seus pontos fortes, o título falha em alguns aspectos e deixa escapar a oportunidade de se destacar mais dentro do seu gênero.

Entre Cães e Gatos

Em Cross Tails, somos imersos em um mundo que está em constante conflito entre o reino canino de Ranverfurt e a república felina de Hidiq. Ao começarmos a campanha, podemos escolher entre dois protagonistas: Felix, um jovem líder de pelotão do exército de Ranverfurt, e Shaimaa, a filha única do líder de um renomado clã de Hidiq.

O que torna a experiência interessante é que a história, de fato, permite que o jogador veja o conflito por meio de duas perspectivas diferentes, no qual a escolha do personagem inicial também molda o enredo que iremos acompanhar. Dessa maneira, o jogo demonstra um grande acerto ao disponibilizar duas campanhas distintas, nos fornecendo uma boa razão para terminá-lo mais de uma vez.

Embora o roteiro siga padrões já vistos em outras produções relacionadas a guerras, testemunhar as evoluções e desafios enfrentados pelos dois protagonistas, assim como suas nações, é o suficiente para nos manter envolvidos e interessados ao longo de toda a história. Infelizmente, não podemos desfrutar disso em português, que não está entre as opções de legendas.

Liberdade para personalizar

A estrutura do mapa de Cross Tails é assertivamente simplificada, pois não precisamos atravessar os territórios enfrentando batalhas aleatórias pelo caminho. Em vez disso, temos a liberdade de seguir diretamente para o próximo ponto principal ou participar de confrontos opcionais nas regiões já visitadas.

Essa escolha é muito positiva, pois evita que os jogadores mais apressados se envolvam em confrontos desnecessários para a progressão da trama. Além disso, beneficia aqueles que gostam de aprimorar seus heróis, possibilitando que escolham facilmente qualquer cenário desbloqueado para lutar quantas vezes desejarem.

Para enriquecer ainda mais esse aspecto, o jogo oferece uma opção que faz os personagens agirem automaticamente, com escolhas individuais para a inteligência artificial de cada um. Como exemplo, conseguimos configurar um indivíduo para atuar como um tank, enquanto outro se concentra inteiramente em atacar, e um terceiro assume o papel de fornecer buffs e curas.

As batalhas seguem o formato tradicional dos RPGs táticos: o território é dividido em quadrados nos quais podemos nos mover e atacar durante nossos turnos, que são diretamente influenciados pela agilidade. A maioria das missões exige que derrotemos todos os inimigos como condição de vitória, mas ocasionalmente somos desafiados a eliminar apenas adversários específicos.

A posição dos personagens também é relevante e possui um grande impacto no aumento ou diminuição do dano. Como exemplo, ataques pelas costas tendem a ser mais eficientes, enquanto arqueiros demonstram um desempenho aprimorado quando posicionados em terrenos íngremes.

Para aqueles que apreciam experimentar diferentes sinergias, Cross Tails é um prato cheio, pois oferece uma grande variedade de jobs e possibilita a mescla de habilidades de três áreas distintas em um único personagem. Nesse sentido, cada indivíduo possui uma classe primária fixa e pode assumir outras duas ao mesmo tempo. Além disso, somos capazes de equipar talentos passivos, mesmo que provenientes de uma profissão que não estamos mais utilizando. 

Com um leque de possibilidades tão vasto, a liberdade para criar builds é enorme; no entanto, poderia ser ainda maior, pois algumas classes apresentam aptidões similares, o que acaba restringindo um pouco as alternativas. Ainda assim, a procura por uma combinação poderosa permanece empolgante e a sua conquista é satisfatória.

É importante mencionar que novas classes são desbloqueadas ao atingirmos determinados níveis com outras jobs. Um exemplo disso é a Magic Swordsman, que tem como requisito o nível três de Knight e Wizard. As habilidades, por sua vez, são adquiridas através da compra em uma árvore de skills, mas, por se apresentarem em uma cadeia, algumas aptidões mais poderosas requerem a aquisição prévia de outras mais comuns.

Outro detalhe positivo é que cada protagonista tem os seus próprios aliados, ou seja, os parceiros de Felix são uns e os de Shaimaa são outros. Somado a isso, o título acertadamente permite que utilizemos todos os amigos em combate, uma vez que a maioria dos confrontos oferece mais espaço do que o necessário para que possamos usar todos.

Finalmente, Cross Tails também disponibiliza a criação de soldados genéricos, porém, nesse caso, a qualidade é inferior, uma vez que, ao contrário dos aliados principais, esses indivíduos apresentam modelos idênticos, variando apenas nas roupas das diferentes classes.

Alguns aspectos impedem que o título salte mais alto

Apesar de possuir grandes méritos, é lamentável dizer que Cross Tails deixa muito a desejar em seus aspectos sonoros. Isso não se deve apenas à total ausência de vozes para os personagens, mas também à quantidade extremamente limitada de faixas que compõem a trilha sonora.

Embora seja verdade que muitos bons jogos desse gênero não possuem dublagem durante os diálogos, a variedade musical costuma compensar essa falta. Um exemplo notável é Final Fantasy Tactics, que, além de apresentar vozes para os gritos dos indivíduos derrotados, possui uma trilha sonora incrivelmente rica, com melodias que se encaixam perfeitamente nos diversos momentos de tensão e drama.

Infelizmente, além de utilizar praticamente a mesma música na maioria das batalhas e uma outra nos momentos de diálogos, Cross Tails não possui sons que consigam gerar impacto nos ataques desferidos pelos personagens, o que acaba resultando em batalhas menos empolgantes.

Embora seja injusto fazer comparações com um dos jogos mais importantes do gênero, menciono-o para destacar o potencial que vejo no título da KEMCO e como creio que ele poderia ter se beneficiado demasiadamente de um cuidado maior em relação à parte sonora.


Apesar das ressalvas, um bom exemplar de RPG tático

Com uma jogabilidade bastante sólida, é evidente que Cross Tails tinha o potencial para brilhar ainda mais. Contudo, a falta de atenção aos detalhes sonoros acaba sendo uma lacuna que impede o jogo de atingir todo o esplendor que seria capaz de alcançar. 

Apesar dessa questão, trata-se uma boa opção para os apreciadores de RPGs táticos, pois, além de possuir um roteiro interessante que se divide em duas campanhas distintas, ele oferece uma grande variedade de classes e permite que o jogador explore a sua criatividade para construir as mais variadas builds.

Prós:

  • As duas campanhas diferentes permitem que os jogadores experimentem o conflito a partir do ponto de vista de cada um dos protagonistas e de suas respectivas nações;
  • Liberdade para personalizar os personagens, possibilitando que os jogadores escolham múltiplas habilidades e desenvolvam sinergias entre diferentes classes;
  • A abordagem escolhida para o mapa nos viabiliza optar por participar de batalhas livres ou seguir diretamente para os pontos principais, podendo agradar tanto a quem prefere não perder tempo em confrontos opcionais quanto a quem aprecia a prática de grinding.

Contras:

  • A falta de vozes para os personagens, somada a quantidade limitada de faixas que compõem a trilha sonora, limita o potencial do título;
  • Algumas classes apresentam habilidades similares, o que restringe um pouco a variedade de customização;
  • Ausência de legendas em português.
Cross Tails — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela KEMCO

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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