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Análise: Dr. Fetus’ Mean Meat Machine (Multi) é um puzzle que vai te divertir e te estressar em quantidades cavalares

Ajude o principal inimigo do Meat Boy a concluir sua mais ambiciosa experiência: um clone perfeito do herói.

Um vilão frustrado pode fazer coisas muito loucas, e sorte a nossa que isso rende um jogo novo. Dr. Fetus’ Mean Meat Machine traz a frustração do antagonista da série Meat Boy após mais uma derrota, em um plano que muda o enfoque do plataforma para o puzzle. Mas essa não é a primeira vez que um vilão perde as estribeiras e tenta bolar algo genioso.

De cientista e louco, todo vilão tem um pouco (muito)

Antes de mais nada, vamos voltar 20 anos no tempo. Dr. Robotnik, após ter sido humilhado por Sonic diversas vezes, ganhou seu primeiro título como protagonista, o Dr. Robotnik’s Mean Bean Machine. Nesse jogo estilo Tetris, eliminamos grupos de quatro ou mais “feijões” da mesma cor. Não vou entrar no mérito da história envolvida, pois na verdade é só uma roupagem ocidental para um título já existente da própria Sega, Puyo Puyo. Voltando para os dias atuais, o nome é uma clara homenagem ao vilão do porco-espinho azul, bem como à jogabilidade de seu jogo.

Por motivos peculiares , Dr. Fetus decide criar a sua própria versão do pequeno cubo de carne. Então começam as incontáveis experiências em seu laboratório, e é isso que norteia o jogo. O jogador deve superar o desafio de cada etapa, preenchendo o medidor que está na lateral do visor. Para isso, são necessárias algumas combinações de quatro ou mais criaturinhas.

A dificuldade absurda característica dos jogos de plataforma da franquia foi trazida para este título. Quem gosta e acompanha a saga de Meat Boy vai adorar o nível de desafio proposto. As fases se modificam com o tempo, adicionando diversas armadilhas, como serras móveis, fantasmas que se movimentam aleatoriamente pelo espaço, blocos de TNT, entre outras arapucas que tornarão a conclusão bem mais difícil. Elas podem eliminar qualquer criatura que já esteja colocada, mas, se formos pegos enquanto nossa “peça” ainda está descendo pelo espaço, aí temos que recomeçar a tarefa.

Para sobreviver por mais tempo, a estratégia ideal é realizar combos. Quanto mais longa a cadeia de sequências, mais tempo de invulnerabilidade seus experimentos terão e as armadilhas ficarão congeladas pelo mesmo período.

Ao todo são 120 fases, o que é conteúdo de sobra para quem quer ajudar o Dr. Fetus a criar seu próprio cubo de carne. Entretanto, a sensação de repetitividade começa a aparecer após algumas horas de jogo e, caso você queira só um puzzle animado, mas sem grandes frustrações, a dificuldade se alia a esse fator e torna a experiência um pouco mais arrastada.

Também há as batalhas contra os chefes de cada área, que fazem os obstáculos iniciais se tornarem uma brincadeira de criança. Elas sim conseguem se destacar muito bem, pois as suas exigências por um lado misturam tudo pelo que já passamos em outros cenários, mas de uma maneira que sempre nos pega desprevenidos nas primeiras das inúmeras vezes que tentamos passar por elas.

Outro aspecto que poderia ter sido melhor utilizado são os próprios cubinhos do jogo. Ao todo temos quatro cores: roxo, amarelo, vermelho e verde. Como toda aberração criada em um laboratório do mal, elas evoluem e mudam seu formato, mas mantêm o seu estranho carisma com seus sorrisos e caretas de desespero. É uma pena que isso não seja aproveitado para recompensar quem está jogando, pois essa mudança é meramente visual.

Seria totalmente dentro da proposta do jogo adicionar algum tipo de poder ou vantagem a cada evolução, pois combinaria com a mutação das criaturas, mas infelizmente parece que elas realmente só foram criadas para serem exterminadas logo em seguida.

Para quem estiver sofrendo muito com a dificuldade, é possível utilizar a sempre bem-vinda invencibilidade, e transformar a destruição de bloquinhos em algo mais tranquilo. Só que essa benesse vem com o custo de não ser possível conseguir as tradicionais notas A+ após a conclusão dos estágios, mesmo batendo o tempo estabelecido. Usem com sabedoria.

Sanguinário e animado

Apesar da mudança drástica de gênero e de ser considerado um spin-off, Dr. Fetus’ Mean Meat Machine traz a continuação direta da história vista em Super Meat Boy Forever. Logo, o visual de desenho animado foi mantido e essa estética é uma escolha acertadíssima. O que ficou fazendo falta foram algumas cenas entre cada uma das seis áreas gerais que dividem as fases, pois aqui só há uma animação para a abertura e outra para o encerramento.

Comparando com o tanto de cenas que o já citado Super Meat Boy Forever trouxe, é simplesmente um pecado não terem criado pequenos enxertos só para ilustrar o que se passava na cabeça do Dr. Fetus enquanto bolava seus experimentos.

Se na parte visual houve economia, a parte sonora se mantém muito bem planejada. A volta do músico Ridiculon, que além de ter composto os temas de Super Meat Boy Forever também assina a trilha do clássico indie The Binding of Isaac, traz uma mudança sutil que nos mostra que este é um jogo diferente, mas sem perder os tons que caracterizam a franquia.


Desde as primeiras fases na floresta, até os perigos da fábrica de sal e o próprio inferno, as canções conseguem trazer uma adrenalina inesperada para um jogo que se esperava ser menos frenético que os plataformas da série.

Carne moída de primeira

Passar raiva com a dificuldade de Dr. Fetus’ Mean Meat Machine é algo que vem com o pacote, e com certeza tem quem adore e quem odeie isso. O fato é que conseguiram colocar o mesmo espírito dos jogos de aventura em um Tetris-like, fazendo com que ele se torne muito atrativo para quem gosta do universo do cubinho de carne encrenqueiro. Essa não é uma tarefa fácil, mas que este jogo conseguiu cumprir muito bem.

Prós

  • 120 níveis com nível de dificuldade característico da série;
  • Ótimas boss battles;
  • Visuais cartunescos mantêm o carisma tanto do vilão quanto dos bloquinhos de carne; 
  • A trilha sonora é boa o bastante para dar personalidade a um gênero que seria tradicionalmente mais “parado”.

Contras

  • O jogo torna-se um pouco repetitivo e cansativo depois de um tempo;
  • A dificuldade dos obstáculos pode afastar jogadores mais casuais;
  • Poderiam ter usado cutscenes em momentos pontuais além da abertura e do encerramento.
Dr. Fetus Mean Meat Machine — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Headup Publishing

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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