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Análise: All Ashes and Illusions (PC): um conto de amor disfuncional

A visual novel traz uma ótima trama; infelizmente, a arte deixa a desejar em boa parte do tempo.


Gosto das visual novels de ebi-hime, porque as tramas sempre conseguem trazer temas relevantes para além do que é abordado no jogo. Foi assim com Salome's Kiss e Blackberry Honey, porém, em All Ashes and Illusions, o romance girls love e a Inglaterra vitoriana são deixados de lado para trazer um conto de amor disfuncional em um Oriente Médio fictício.

O peso da coroa — e da consciência

Quando Yuel, príncipe de Al Farar, tinha seis anos, ele foi obrigado por seu pai, rei Khalil, a assistir à execução de sua mãe, Mariam, em plena luz do dia. A visão foi tão chocante para o garoto, que sua única referência maternal era sua babá, Safiya, a quem o jovem príncipe ficou extremamente apegado.

Safiya contava ao menino diversas histórias, o colocava para dormir e também secava suas lágrimas sempre que necessário. Ela era o porto seguro do rapaz — e também sua paixão velada, da qual o principezinho nunca conseguiu se desvencilhar.


Aos 20 anos de idade, quando o príncipe assume o trono após a morte de seu pai, Yuel precisa lidar com suas responsabilidades de seu cargo e, acima de tudo, seu amor não-correspondido por Safiya, que, agora com 40 anos, tem sua própria família para cuidar.

Contudo, Yuel, obcecado por Saffy, modo como ele sempre se referiu à sua ex-babá, está disposto a fazer de tudo para conquistar seu único — e verdadeiro, segundo o rei — amor. E um dia, em conversa com seu primo, Tavi, Yuel tem uma ideia sórdida para fazer com que Safiya seja finalmente sua.

Um romance ardente e imoral com altos e baixos

Sem entrar no mérito dos spoilers, quero dizer que, até o momento, All Ashes and Illusions supera a narrativa de Salome's Kiss em termos de maturidade. É notório o crescimento de ebi-hime no campo da narrativa, e, acima de tudo, sua capacidade de amarrar um acontecimento no outro, sem deixar a leitura cansativa.

Ao longo das aproximadamente dez horas de jogo, além dos conflitos pessoais e interpessoais de Yuel e Safiya, temos também abordagens que trazem discussões bem atuais como a diferença de idade em um relacionamento; a influência do rei sobre seus súditos; e o papel da mulher em uma sociedade claramente machista.

Também quero ressaltar que All Ashes and Illusions conta com um patch 18+, como é de praxe em muitas visual novels de ebi-hime; enquanto opcionais, arrisco dizer que as passagens sexuais são importantes para entender a personalidade e a obsessão de Yuel por Safiya como um todo.


Porém, quero abrir parênteses aqui e chamar a atenção para a qualidade textual das cenas sexuais: em comparação às de Blackberry Honey e de Salome's Kiss, a relação carnal do protagonista com seu interesse romântico traz uma escrita um tanto quanto fraca, com algumas passagens que lembram os livros eróticos vendidos em bancas de jornal nos anos 1990 e 2000.

Além disso, também achei as artes um pouco aquém das apresentadas em outras obras de ebi-hime, não só nos perfis dos personagens, como também nas CGs. Inclusive, em determinados momentos, os próprios desenhos se contradizem com o texto — em especial, o design de Safiya é um pouco incômodo, pois a personagem mais parece uma jovem em seus 20 e tantos anos que uma mulher de 40 anos que já deu à luz uma vez.

De resto, a ambientação audiovisual é prazerosa e casa bem com o cenário trazido na narrativa. All Ashes and Illusions também traz uma interface agradável que conta com todas as qualidades de vida que uma visual novel deve ter, como velocidade do texto, e uma galeria com as CGs e músicas — mas esta, vale ressaltar, é desbloqueada apenas ao completar o jogo.

Quase uma noite nas Arábias

All Ashes and Illusions é mais uma prova de que ebi-hime melhora, a cada jogo lançado, a sua contação de história. Embora as cenas de sexo hétero deste jogo em específico não tenham uma escrita aprimorada em relação às obras girls love da autora, a trama é envolvente, com temas atuais e pertinentes, e a ambientação é bem-elaborada; a única pena, a meu ver, é ver artes cuja estética não faz jus à qualidade textual da visual novel.

Prós

  • Trama madura e instigante que, mesmo com contexto de fantasia, traz temas atuais e pertinentes;
  • Ambientação audiovisual condizente com o cenário trazido pela história;
  • Patch 18+ opcional, mas que ajuda a entender os comportamentos de Yuel.

Contras

  • Artes não condizentes com a qualidade textual, tanto nos retratos quanto nas CGs;
  • A caracterização artística de Safiya não respeita sua descrição;
  • As cenas de sexo poderiam ser melhor escritas;
  • Sem português ou outra língua latina como opção de idioma.
All Ashes and Illusions — PC — 8.0
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital adquirida pela redatora

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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