Blast from the Trash

The Cyber Shinobi (Master System): Um título esquecido dessa clássica franquia ─ e com razão

Enquanto o Mega Drive e os fliperamas recebiam ótimos Shinobi, o Master System teve o pior que podiam oferecer.

O Shinobi de 1987 foi um dos grandes clássicos dos anos 80 nos fliperamas. A primeira aventura de Joe Musashi contra a organização criminosa ZEED chamou bastante atenção do público. A partir daí, nasceu uma nova franquia para a Sega, que, dois anos depois, criou a continuação: The Revenge of Shinobi, mudando os conceitos e trazendo um jogo de plataforma e ação que se tornou um marco no até então novíssimo Mega Drive.


Já o Master System, o 8-bits queridinho do Brasil, recebeu um port bem honesto do primeiro Shinobi em 1988 e não demorou muito para receber outro jogo. Porém, não uma versão de The Revenge of Shinobi, e sim The Cyber Shinobi, uma das maiores atrocidades da biblioteca da plataforma.

O futuro e… roubo de plutônio?! 

Ignora esse "Shinobi Part 2" aí, eles não sabiam o que estavam fazendo.
Vale lembrar um detalhe desse game antes de falar a desculpa para a história dele: não é canônica para a série. Tudo bem, a franquia não é conhecida por sua narrativa, mas é válido dizer isso pelo quão bizarro é o enredo desse jogo — a começar pela audácia de se considerar a continuação direta de Shinobi.

The Cyber Shinobi se passa muitos anos após o Shinobi original, já com a paz restaurada. Porém, a ZEED retornou com o nome de Cyber Zeed e roubou uma quantidade de plutônio equivalente a 100.000 Megaton de explosivos (ou seja, 100.000.000.000 toneladas). 

Organizações mundiais mandaram seus melhores homens para impedir uma grande catástrofe, já que a Cyber Zeed usaria o plutônio como poderio nuclear, mas a organização sobrepujou todos. É aí que entra o neto de Joe Musashi — chamado Joe Musashi, um belo exemplo de criatividade —, um ninja com implantes cibernéticos e o único homem que pode lidar com esse absurdo todo.

Saídas nada elegantes para limitações

Também joguei isso numa TV de tubo pequena aqui e a HUD consegue ser ainda mais problemática.
Antes de falar de como é controlar o protagonista daqui, a primeira coisa que o jogador deve reparar ao começar o jogo é o fato de a HUD pegar uns 30% da tela. Era comum, nos consoles 8 e 16-bits dessa época, ter alguma barra para economizar processamento do hardware, com essa barra podendo ser apenas uma parte vazia da tela ou ser usada para informações do jogador. O caso de Cyber Shinobi é o segundo, mas o espaço tomado por essa interface é bem exagerado, principalmente pelos sprites serem grandes.

Isso pode fazer alguém pensar que essa economia é benéfica para o visual do game, mas definitivamente não é o caso. Os desenvolvedores até tentaram dar um visual mais detalhado para o background em algumas fases, mas a repetição de elementos de cenário e o péssimo uso de cores destruíram todas as tentativas.


Outro problema visual do game é o uso da camada de background para alguns inimigos e outros elementos que ficam bem destacados em tela, como as pedras que caem na quarta fase, os inimigos atiradores e alguns chefes. É uma limitação da forma como o Master System e outros consoles 8-bits funcionavam, contudo, até jogos que saíram antes, como Space Harrier, tiveram soluções mais criativas a esses problemas.
Um colírio para os olhos.



Um jogo absurdamente engasgado em todos os aspectos

The Cyber Shinobi roda absurdamente mal. A rolagem de tela é nada suave, a movimentação de Joe e dos inimigos é desengonçada, o pulo do protagonista é difícil de controlar, o input delay é bizarramente alto, e caixa de colisão de tudo é inconsistente, já que os ataques do shinobi e dos inimigos pegam a centímetros de distância do que deveria, enquanto os atiradores e chefes só podem ser eliminados se o ninja estiver bem colado neles.

Alguns itens podem ser achados para, teoricamente, auxiliarem o jogador, como três armas acumulativas que não podem ser trocadas, upgrades de poder que não funcionam, já que o protagonista não fica mais forte, e os ninjutsus característicos da franquia, onde todos eles têm a mesma função de destruir todos que estão em tela ou dar algum dano em chefes. Nem mesmo a animação dessas técnicas é boa pois, além de nada empolgantes, duram uns 20 segundos, já que tiveram a brilhante ideia de fazer o nome do ninjutsu rolar da esquerda para direita toda vez que é executada, em uma velocidade torturante.
 

O jogo tenta se estende para compensar a falta de conteúdo, mas, no geral, sua duração é bem curta. São seis fases que ficam parando o tempo todo, pois é necessário eliminar todos os adversários em uma área para continuar a progressão, como em um beat ‘em up.

As duas primeiras até tentam ter algum level design interessante, mas são completamente destruídas com chãos que caem sem nenhuma indicação, exigência de pulos precisos quando o jogo nem dá o controle necessário para isso e becos sem saída. Da terceira fase em diante, é apenas uma linha reta com obstáculos e inimigos, acabando com qualquer resquício de criatividade.
A proporção desse chefe é tão questionável quanto o jogo.
Para completar essa atrocidade disfarçada de jogo, nem o som se salva: as músicas vão de esquecíveis a irritantes loopings de 10 segundos, um ultraje ao ótimo histórico de composições da série Shinobi.

Uma desonra aos ninjas

A Sega apenas ignorou a existência de The Cyber Shinobi, não relançando o game em nenhuma coletânea, mas a TecToy insistiu em colocá-lo na memória de vários modelos de qualidade duvidosa do Master System. É um produto que não acerta em nada do que propõe, sendo apenas uma mancha no legado de uma franquia tão querida e icônica dos videogames.
Um grande "até nunca mais".
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

Estudante de enfermagem de 24 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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