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Análise: Super Dungeon Maker (PC/Switch) mostra que nem só de dungeons deve viver um jogo

Sem traços narrativos para conectar a experiência, o título da FIRECHICK deve entreter somente os entusiastas mais radicais de sua proposta.

Com os lançamentos para lá de bem-sucedidos de Super Mario Maker (Wii U) e Super Mario Maker 2 (Switch) anos atrás, a Nintendo fez o que muitos acreditavam ser impossível: concedeu as chaves criativas de sua maior franquia para os fãs. 


Assim, de repente, jogadores de todas as partes do mundo podiam brincar de ser Shigeru Miyamoto, construindo, compartilhando e jogando níveis bidimensionais tão criativos, rápidos e livres que poderiam facilmente ter saído de dentro das paredes da empresa japonesa.

A ideia, logicamente, fez um sucesso estrondoso, a ponto de muitos se perguntarem se um “Zelda Maker”, com criação e compartilhamento de dungeons e mapas, seria o próximo game a ser lançado. Como você e eu sabemos, infelizmente a proposta nunca veio à fruição. Mas, como em todo vácuo do mercado existe uma oportunidade de negócio, Super Dungeon Maker surgiu para preencher essa lacuna no Switch e nos computadores. 

Ostentando um extenso criador de níveis com diversos recursos, compartilhamento online e belos cenários em pixel art, a obra da FIRECHICK realmente parecia preencher todos os requisitos para se tornar o editor que a Nintendo provavelmente nunca nos dará. Infelizmente, nesse processo, Super Dungeon Maker também nos mostra que nem só de dungeons deve viver um jogo — por mais que elas sejam as melhores possíveis (o que também nem sempre é o caso).

Um elo com o passado

Como as capturas de tela do jogo entregam, Super Dungeon Maker é claramente baseado nos jogos de The Legend of Zelda das eras 8 e 16-bits , embora seu visual modernizado em pixel art o deixe mais próximo graficamente das obras 32-bits, ao estilo do clássico The Minish Cap (GBA).

Aliás, começando pelos elogios, visualmente o título com certeza agrada, com sprites bem animados e um aspecto retrô charmoso que torna todo o universo de Fink, o galinho protagonista, convidativo. O mesmo pode se dizer da trilha sonora, que também segue o estilo da série da Nintendo, causando uma ótima primeira impressão. 

Ao iniciar a aventura, você será recepcionado com uma dungeon simples, feita pelos criadores do título para servir tanto como um cartão de boas-vindas quanto como uma oportunidade de se acostumar com os controles de Fink.

Ao finalmente sair dela, será possível transitar por uma vila que também funciona como uma espécie de menu in-game. Nessa localidade, você pode selecionar as opções de construir sua dungeon, navegar pelo catálogo online de criações da comunidade ou experimentar outros dois labirintos feitos pelos desenvolvedores.


E… é isso. Somente isso. Ao contrário do que a quantidade considerável de personagens espalhados pela vila insinua, nenhum deles possui algo relevante a comentar, e praticamente todas as outras estruturas são apenas um enfeite visual no mapa. 

Assim, sem qualquer tipo de narrativa ou progressão, restará a você de fato fazer as suas dungeons ou jogar as feitas por outras pessoas, e é nesse exato momento que todo o feliz encanto inicial com esse pequeno universo começa a ruir.

Limitações que empobrecem a experiência

Pelo lado positivo, criar uma dungeon em Super Dungeon Maker é um processo bem intuitivo, especialmente no PC, onde é possível usar mouse e teclado. Escolha o tema — neve, floresta, tecnológico, caverna ou noturno —, espalhe o terreno e os inimigos pelos andares, e em menos de dez minutos você provavelmente já terá uma experiência jogável para compartilhar com os seus amigos ou com a comunidade. 

Apesar de bem-vinda, essa facilidade também exibe um dos problemas do jogo: até o momento, existem poucos recursos disponíveis para uso. Só estão à disposição seis andares para criação, há apenas três “chefões”, e itens que alteram a jogabilidade, como bombas e ganchos, também são escassos — exatamente cinco, se você contar com o escudo.

Assim, com a ausência de equipamentos marcantes, como o arco e flecha ou as lanternas, após o encantamento dos minutos iniciais, é difícil não ser tomado pela sensação de que falta algo em Super Dungeon Maker — um ponto sério de questionamento, considerando que o jogo foi lançado inicialmente em acesso antecipado.

Essa impressão incômoda também é reforçada quando se começa a experimentar os mapas criados pela comunidade. Com escassa variação de ferramentas, são poucos os níveis que realmente se destacaram na minha experiência com o título; a maioria, recriações de níveis clássicos da série Zelda, como o primeiro calabouço de Link’s Awakening (Switch).

Jogar as recriações de estágios consagrados, por mais divertido que seja, acabou me alertando sobre outro problema: na ausência de uma narrativa ou de qualquer tipo de progressão entre os desafios, jogar uma dungeon após outra acaba sendo uma experiência desconexa e pouco motivadora em si.

Embora os calabouços sejam com certeza um elemento-chave da série Zelda, seu impacto nesses jogos é amplificado pelo fato de que há quase sempre um item ou outro avanço permanente a ser obtido, recompensando o esforço do jogador. 

Por outro lado, aqui, ao acabar uma dungeon, caso você não sinta vontade de criar algo, suas únicas opções são voltar e escolher a próxima ou perambular pela pequena vila inicial, cujo encanto a essa altura provavelmente já terá se esvaído.

Honestamente, a não ser que você seja um completo apaixonado pela proposta, é, a meu ver, muito pouco para merecer uma recomendação mais ampla. Uma pena, pois Super Dungeon Maker possui uma base sólida, com diversos elementos necessários para se tornar algo verdadeiramente especial, como o carisma e a eficaz conectividade online. 

Tal conectividade, porém, não se sustenta sozinha, sendo este jogo um exemplo claro de que o que torna algo grandioso é a soma de suas partes. O que temos aqui é como um corpo funcional — falta a alma, a força que faz tudo ter um propósito e valer a pena.

Os problemas da ausência de uma lenda

Sem qualquer esboço de narrativa ou outra forma de conectar a experiência e com menos ferramentas à disposição que o esperado, Super Dungeon Maker, infelizmente, acaba decepcionando mais que entretendo. 

Os entusiastas mais radicais de sua proposta certamente encontrarão divertimento em criar suas próprias estruturas e jogar as dungeons alheias, mas, até que novas atualizações adicionem mais conteúdo ao jogo, todos os outros jogadores estarão melhor servidos com as lendas que já existem há bastante tempo em outras obras.

Prós

  • Visualmente charmoso e convidativo;
  • Editor de níveis é intuitivo, especialmente no PC;
  • É fácil compartilhar suas obras e jogar as criações alheias;
  • Tem potencial de se tornar algo especial a partir de mais atualizações e do que a comunidade produzir.

Contras

  • Catálogo pequeno de inimigos e itens;
  • Não conta com diversos equipamentos similares aos clássicos da série que o inspira;
  • Ausência de qualquer tipo de narrativa ou progressão torna a experiência de navegar entre dungeons alheias desconexa e pouco motivadora;
  • Poucas dungeons realmente legais até o momento.
Super Dungeon Maker — PC/Switch — Nota: 6.5 
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Raquel Nascimento
Análise produzida com cópia digital cedida pela FIRECHICK

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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