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Análise: Volcano Princess (PC) é um imersivo simulador de pai solteiro

Apegue-se a uma filha virtual e ajude a construir seu futuro neste curioso simulador de criação.



Por alguma fatalidade do destino, você é deixado sozinho com uma filha pequena para criar, colaborando em sua educação, orientações de vida e relações interpessoais com outros habitantes do vilarejo em que mora, no intuito de encaminhá-la para que tenha uma boa vida adulta. Essa é a premissa de Volcano Princess, uma espécie de sucessor espiritual de Princess Maker que pode ser facilmente definido como “simulador de pai solteiro”.

Da pré-escola à adolescência, ajude sua filha a evoluir e construir seu futuro!

Volcano Princess se enquadra em um gênero de simulador chamado raising sim, que consiste em propor ações e cronogramas dentro do jogo para que o personagem principal os siga automaticamente e, assim, acabe evoluindo sem que haja interferência ativa por parte do jogador nesse processo, já que o próprio NPC é quem deve treinar combate, estudar, aprender e se desenvolver como um todo — isso enquanto tenta gerenciar diversas variáveis que condicionarão o futuro da nossa rebenta.




Nesse caso, o título tem duas etapas diferentes. A primeira é quando temos que cuidar da nossa filha em idade pré-escolar, estabelecendo alguns fundamentos desde a primeira idade, servindo também como um tutorial introdutório para as mecânicas do game. Basicamente, primeiro é necessário guiar a jovenzinha pela cidade, interagindo com os outros habitantes e ambientes do lugar, para em seguida planejar sua educação, o que leva a um novo ciclo de ações.

Essa primeira fase, por assim dizer, é bem curta e funciona para introduzir um pouco do mundo de Volcano Princess antes de entrarmos no cerne principal da jogabilidade. Uma vez que nossa cria chega na adolescência, ela entra na academia e pode escolher entre três “casas”, cada uma focada em uma habilidade técnica — pense em algo parecido com esses ensinos médios técnicos, que além do básico de uma escola já direcionam para uma carreira.




Dito isso, é necessário começar a se atentar aos atributos básicos que ajudarão a formar a personalidade da nossa garota na vida adulta. Assim, investir em saúde e força poderá facilitar com que ela se torne uma guerreira destemida, do mesmo modo que investir em mente poderá fazê-la se tornar uma verdadeira artista. Paralelamente a isso, a relação que ela vai construindo com os outros personagens poderá fazer com que se casem no futuro.

A graça é que há um leque considerável de combinações e possibilidades diferentes, o que resulta em dezenas de finais distintos. Por sorte, uma única campanha (que dura por volta de seis ou sete horas) pode desbloquear mais de um final de uma vez, bastando apenas recarregar o save e fazer alguns ajustes para conseguir mudar a trajetória.






Não demora muito para que o jogador perceba o quão expansivo e cheio de possibilidades é Volcano Princess. Sob tal aspecto, a primeira jogatina acaba até servindo de teste para se habituar a todas as mecânicas e possibilidades antes de realmente adquirirmos alguma noção do que estamos fazendo e do que queremos para o futuro da filhota.

Aliás, também é possível fracassar como pai, tá? Se não dermos atenção suficiente à garota, deixarmos que ela tome decisões questionáveis para o futuro ou ainda fizermos com que se meta em alguns ambientes barra pesada, a maldade em seu coração — outro atributo mensurável — cresce e seu destino profissional e pessoal pode assumir um rumo bem sombrio.



Seja presente no dia a dia da filhota!

Um dia em Volcano Princess é determinado por uma quantidade específica de pontos de ação que poderão ser utilizados para participar de vários minijogos diferentes e que também têm sua utilidade no crescimento da rebenta. Dentre tais atividades estão: incursões aventurescas por dungeons, nas quais o combate é um sistema bem básico de RPG; apresentações de hipismo que envolvem tanto corrida quanto desfiles; participações em eventos de alta sociedade e como atriz de teatro que dependem da escolha das opções corretas por parte do jogador para que a garota seja bem sucedida, etc.

Adicionalmente, a garota já tem idade para realizar alguns trabalhos, então existem certas formas de ganhar uns trocados, como é o caso das recompensas nas incursões por dungeons, o cachê das apresentações de teatro ou mesmo trabalhando como funcionária em um estabelecimento de banho coletivo.







Também é possível interagir com os outros habitantes e estabelecer laços através de conversas, presentes e encontros em uma dinâmica de amizade que lembra bastante os de outros simuladores como Story of Seasons e Stardew Valley. Embora o jogo pré-estabeleça alguns jovens como pretendentes ideais, nota-se que a maioria esmagadora dos personagens pode ser vista como interesse romântico, até mesmo os mais velhos, como a estilista da aldeia, o bardo que não sai do restaurante ou até mesmo os professores da academia.

Embora os pontos de ação possam ser readquiridos de algumas maneiras que ajudam a estender nosso dia e, por consequência, aumentar o número de atividades que conseguimos realizar ao longo do período, uma hora eles vão se esgotar e é necessário dar o dia por encerrado. É então que abrimos o itinerário da nossa garota e determinamos qual será o cronograma de estudo dela para o resto da semana, algo que se dá de forma automática e rende melhorias em atributos.




Nisso, é importante prestar atenção no equilíbrio. Na minha primeira campanha, eu inconscientemente acabei direcionando todo o potencial da filha (cujo nome é personalizável, então eu escolhi o nome de figuras da mitologia armênia por motivos de ancestralidade) para o combate, o que a deixou com um traquejo social bastante limitado e incapaz de realizar algumas atividades mais simples que exigem tais habilidades.

Para dar uma pausa nesse loop de gameplay, há alguns festivais que servem para trazer um respiro de jogabilidade. Nesses eventos, a filha pode ingressar em alguns concursos de talentos que se baseiam nos atributos principais, como debates, dança e combates e rendem algumas premiações bem bacanas, como equipamentos e sementes especiais para serem cultivadas.




Perceba que, a todo momento, novos elementos de jogabilidade vão sendo citados no texto. Isso é porque, como já constatado, o número de atividades de Volcano Princess é realmente robusto e todas elas acabam tendo seu propósito no fluxo de jogo. Nem todos esses sistemas são equilibrados, mas é interessante como a maior parte deles está lá para complementar ao invés de atrapalhar, uma vez que é possível ignorá-los, caso seja da vontade do jogador.

Como se não bastasse tudo isso, todo o desenrolar do game ainda é embrulhado por uma história que, embora não seja um exemplo de revolução narrativa, ainda é suficientemente sólida para manter a atenção do jogador. Afinal, o que aconteceu com a mãe da garota? Por que ela e o personagem do pai têm sonhos esquisitos? O que é essa doença misteriosa que faz com que penas cresçam nas vítimas e que acometeu a figura paterna em questão? Quais são as histórias individuais por trás dos outros personagens do jogo?





Esse tipo de conteúdo fragmentado tem uma utilidade prática muito positiva na constituição de Volcano Princess, uma vez que justifica começar novas campanhas para desbloquear cutscenes adicionais que não foram vistas nas jogatinas anteriores. E o próprio título ainda concede alguns bônus para tornar a experiência mais ágil e fácil nessas novas incursões subsequentes.

Inclusive, vale a menção à quantidade absurda de conquistas, número que nada mais é do que a simples consequência das possibilidades oferecidas pelo título. Um verdadeiro prato cheio para os entusiastas nesse quesito.



Excesso de texto, maior chance de tropeço

Embora seja uma experiência viciantemente imersiva, há alguns pontos a se considerar em Volcano Princess. O primeiro deles tem a ver com a tradução. Trata-se de mais uma produção cuja localização não teve o cuidado de ser revisada no próprio jogo, causando algumas quebras de linha esquisitas e que dividem as palavras inapropriadamente.

Além disso, a tradução às vezes dá uma tropeçada, mas pela quantidade de texto que o jogo tem ela é bastante sólida, mesmo claramente sendo uma MTL (machine translation, tradução automática por máquina, como o Google Tradutor). Ainda assim, depois da experiência horrorosa que tive com Troublemaker (PC), Volcano Princess até parece alta literatura, muito longe de ser injogável.






Ainda dentro dessa questão textual, senti falta de um log de texto para revisitar rapidamente as telas que já passei, como seria de praxe em uma visual novel, por exemplo.

Também sinto falta de uma interface melhor trabalhada em alguns dos minijogos. O sistema de combate poderia ter mais animações e ser mais claro com o que está acontecendo na tela. Falta um log descritivo de cada acontecimento e indicativos visuais mais evidentes. O mesmo vale para os duelos e debates, cujos textos que passam na tela poderiam contar com alguma regulagem.





Pontualmente, também me deparei com alguns bugs e crashes do sistema, mas os desenvolvedores parecem ainda estar trabalhando pesado no título, uma vez que quase todo dia tive que atualizar o meu game. Isso significa que eles estão assimilando todo o feedback trazido pelos jogadores.

Por fim, achei que algumas opções de personalização da garota poderiam existir. Volcano Princess já tem uma quantidade bem gostosa de conteúdo, mas a possibilidade de personalizar a cor do cabelo ou tipo de rosto da garota, além de seu nome e data de aniversário, seria a cereja desse bolo.



Abrace suas responsabilidades como pai (virtual)

Volcano Princess é um fascinante exemplar de simulador de pai solteiro. Uma vez iniciado, é difícil não perder a noção de tempo com jogatinas longas que duram horas a fio enquanto tentamos provar a nossa filha como a melhor garotinha do reino. Apesar dos tropeços na tradução e com alguns bugs, o vasto mar de possibilidades faz com que o título valha a pena para quem quer uma experiência cativante e imersiva.

Prós

  • Campanha expansiva que com dezenas de possibilidades de conclusão;
  • História consegue amarrar bem a jogabilidade;
  • Sólido fator replay;
  • Ciclo de gameplay simples e viciante;
  • Conquistas de montão.

Contras

  • Tradução tropeça em alguns momentos;
  • Certos sistemas, como o de RPG de turnos, poderiam estar mais maduros;
  • Um pouco intimidador e confuso durante a primeira campanha.
Volcano Princess — PC — Nota: 8.0 
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gamera Games

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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