Jogamos

Análise: Mia and the Dragon Princess (Multi) é uma amostra de que temos FMVs melhores fora dos games

Em uma película interativa, devemos “controlar” a narrativa para saber se poderemos ajudar uma pirata a encontrar o seu tesouro escondido.

Um gênero curioso de jogos que vira e mexe tenta buscar alguma notoriedade é o dos FMVs. A sigla, que significa Full-motion video, se refere a jogos que têm diversas cenas gravadas e organizadas de acordo com alguma interferência nossa, através da escolha de alternativas. Alguns exemplos recentes são Late Shift  e Who Pressed Mute on Uncle Marcus?, da britânica Wales Interactive.

Não surpreendentemente, Mia and the Dragon Princess é mais um FMV desenvolvido por eles que entra na onda dos filmes interativos.

Você Decide

A trama se desenrola em torno de Mia, uma garçonete de um pub que encontra uma mulher se escondendo da polícia em um beco. A fugitiva é Marshanda, uma pirata, parceira da lendária Red Kat, que teve seu corpo congelado e descoberto por um grupo de pesquisadores.

Marshanda possui um bracelete que pode indicar onde está o tesouro escondido de Red Kate, mas ele precisa de três chaves para acioná-lo. Uma está com ela, a segunda está perdida e a terceira está com o vilão Walsh, que manda seu grupo de capangas atrás da pirata. Agora cabe a Mia ajudá-la a encontrar o que a companheira de Marshanda escondeu.

No elenco temos alguns nomes conhecidos, como Paul McGann (Doctor Who, Os Três Mosqueteiros), MyAnna Buring (The Witcher, Amanhecer - Parte 2) e Brian McCardie (Tempo, Filth - O Nome da Ambição). Mesmo assim, não devemos esperar um primor de atuação, já que toda a película tem aquela vibe de sessão da tarde.

À medida que a história vai desenrolando, devemos fazer uma escolha entre duas opções. Em alguns momentos, nossa decisão irá resultar apenas em uma cena nova, mas há momentos-chave que levam a diferentes finais. Ao todo são oito, sendo quatro bons e quatro ruins.

A grande questão é que, por ser um FMV, não há muito o que ser esperado. Nada de enigmas ou algum tipo de charada que exijam resposta elaborada. Para fazer 100% no “jogo”, basta passar por todos os quadros possíveis da árvore narrativa. Isso implica em assistir toda a história mais de uma vez.

A primeira vez dura cerca de uma hora e meia, pois temos que assistir toda a sequência de cenas. Da segunda em diante, podemos pular os momentos que já aconteceram em outros caminhos, então dura bem menos. Ao todo leva em média umas três horas para conseguir assistir todos os takes possíveis.

Não é empolgante e a história não tem grandes reviravoltas, além de ter momentos de humor questionável e efeitos especiais de baixo orçamento. Nem mesmo os finais positivos são tão díspares assim, já que eles têm conclusões bem próximas entre si.

Por mais que a proposta esteja clara desde o começo, seria mais interessante ter alternativas que apelassem para a atenção de quem está no controle, prestando atenção na história, além de só escolher uma ou outra ação. 

Gravado na torradeira

Já que Mia and the Dragon Princess é praticamente um filme, não dá para analisar os gráficos e a jogabilidade. Entretanto, não dá para deixar passar despercebida a baixa qualidade das cenas.

Partindo do ponto que já existem diversas tecnologias que conseguem até revitalizar produções antigas para resoluções altas, é impressionante como a qualidade da imagem cai em determinados momentos. Eu me senti nos nada gloriosos momentos de tentar assistir a um vídeo de 2 minutos no YouTube quando tinha internet discada, com a qualidade oscilando entre 240p e 480p.

Outra coisa estranha está na edição das sequências de cenas. Dá para perceber nitidamente que algumas linhas têm mais fluidez do que outras, mesmo nos momentos em que só temos que assistir.

Pelo menos algumas das cenas de lutas tem coreografias interessantes, com uma boa demonstração de artes marciais. Para quem quiser fazer uma live de Mia and the Dragon Princess, ele conta com um “Modo Streamer”, que nada mais é do que tirar o timer das escolhas, deixando a tela congelada enquanto o controlador toma a decisão.

Durante o período que analisei este FMV, ele contava somente com áudio e legendas em inglês. Após uma atualização recente, novos idiomas foram adicionados, incluindo o português brasileiro. Isso serve de consolo para quem ainda assim quer tentar a sorte.

Era melhor ter ido ver o filme do Pelé

Estamos em uma geração em que as plataformas de streaming já oferecem produções interativas e de qualidade. Logo, Mia and the Dragon Princess fica muito aquém do que poderia ser. Por mais que sua proposta seja menos dinâmica do que demais gêneros afora, ainda assim a experiência oferecida de “controlar um filme” poderia ser bem mais rica e elaborada.

Prós

  • Algumas boas sequências de luta;
  • Mais de um desfecho para o jogador explorar todos os caminhos possíveis;
  • Apesar de tudo, é uma platina bem fácil.

Contras

  • A história conta com momentos de atuação risíveis, efeitos especiais fracos e humor questionável;
  • A resolução da imagem cai drasticamente diversas vezes;
  • Algumas transições de cena são bruscas e estranhas
  • Ter sempre que escolher apenas entre duas ações impede que o jogador busque algo criativo ou que a história seja melhor explorada.
Mia and the Dragon Princess — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Wales Interactive

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google