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Análise: Dead Island 2 (Multi) compensa a espera com combate brutal e direção de arte primorosa

Envolta de muito ceticismo, a sequência chega quase 10 anos depois de seu anúncio original e entrega gameplay divertido e viciante.



Todo mundo consegue pensar em algum jogo que demorou anos para sair, teve polêmicas ou trocas de equipe e desenvolvimento conturbado. Geralmente essas obras acabam chegando ao mercado como um verdadeiro monstro de Frankenstein, incompletas, quebradas, sem foco ou brilho em suas propostas. 

É pensando nesse cenário que os jogadores estavam com um certo ceticismo com o lançamento de Dead Island 2 (Multi). O game, anunciado em 2014, prometia ser a sequência que os fãs esperavam, com um dos trailers mais famosos da história recente (sim, aquele do cara correndo na praia de Venice Beach), sendo parodiado até pelo hilário Goat Simulator 3 (Multi).

Com todas as fichas contra a Dambuster, empresa que ficou responsável por entregar o produto depois de outras três desenvolvedoras terem passado pelo projeto, os devs conseguiram manter a cabeça fria e entregar uma experiência divertida e competente, sem querer ser mais do que um jogo de esmagar crânios e rir um pouco.

O último voo de Los Angeles



Em DI2 somos apresentados a seis personagens jogáveis. Cada um deles tem sua própria personalidade, com dublagem única e habilidades específicas. O jogo começa com o sobrevivente escolhido, e outros personagens, tentando sair de uma Los Angeles apocalíptica e quarentenada pela praga zumbi. Obviamente o voo não é tão tranquilo como nosso protagonista esperava, e rapidamente estamos de volta ao chão para começar a ação.

Vamos começar com o que há de pior em Dead Island 2 para mim: a história. Por mais que a lore encontrada em áudios e textos pelos mapas seja super engraçada e bem escrita, a história principal deixou a desejar. A escrita parece faltar foco, mudando o tema constantemente. Estamos em busca da cura? Agora só queremos sair da quarentena? Espera, então agora queremos lutar contra os vilões? Então quer dizer que agora vamos só ajudar as pessoas?




Os personagens trocam de motivações tão rapidamente quanto explodem as cabeças de zumbis. A história central é bem tolerável até sua metade, depois começa a mudar de foco constantemente e acaba em um terceiro ato que só pode ser descrito como “desanimador”. Existe um claro esforço da equipe de esse jogo ser também um reboot, com pontas soltas deixadas propositalmente para uma sequência. A história não é horrível, só é esquecível e facilmente engolida pelo gameplay. Mas confesso que estou curioso com o futuro da franquia e como vão lidar com o que este game estabeleceu de lore.

A terapia de esmagar crânios



De longe o que mais brilha no game são o combate e o sistema de deterioração corporal carinhosamente chamado de FLESH (Fully Locational Evisceration System for Humanoids), que pode ser traduzido para “Sistema de Evisceração Totalmente Locacional para Humanoides”. 

FLESH é o responsável por trazer uma imersão absurda ao combate do game. Como já citado no nosso texto de primeiras impressões, o sistema cria com precisão cada corte, pancada, dano e desmembramento dos inimigos. Desde os zumbis comuns até os chefões, cada golpe que o jogadores desfere contra seus inimigos é brutal, visceral e violento.




É viciante experimentar cada nova arma, cada novo combo, para ver o estrago que você consegue causar nos mortos-vivos. Eu pessoalmente me afeiçoei às armas cortantes e sua capacidade de desmembrar e decapitar. Mas as armas contundentes, como marretas e bastões, também têm sua cota de destruição corporal. Os efeitos como choque, fogo e ácido também enchem os olhos com peles chamuscadas, tostadas ou literalmente só os ossos perambulando depois que um zumbi toma um banho químico de ácido verde. 

Buildando como um bom RPG



O sistema de cartas de habilidade utilizado aqui não é novo. Você já viu ele em diversos jogos. E tudo bem! Ele funciona perfeitamente. Sem aqueles upgrades de 10% naquilo, 5% naquilo como no Dead Island original. Aqui as cartas têm espaços limitados, mas são amplas o suficiente para te deixar brincar com diferentes builds.

Fazendo minha campanha com Jacob, eu tinha foco em ataques rápidos e em sequência, aproveitando bastante a defesa certeira para recuperar sangue (uma carta de habilidade tem esse efeito), mas, com o avanço do jogo e a introdução das cartas de autofagia, minha gameplay mudou completamente para um modo berserker: alto dano, alto risco. Eu basicamente matava zumbis para ganhar fúria e a usava para destruir tudo ao redor, um ciclo de combate extremamente prazeroso e viciante.




Tive a curiosidade de testar também os outros personagens para ver como o combate mudava, e de fato muda. Depois de Jacob, Dani foi a minha favorita, com alto controle de grupos de inimigos e um ótimo bônus para ataques pesados. Outros personagens também brilham, mas vai depender bastante do estilo de cada jogador. Até a dublagem de cada um deles pode fazer você gostar ou odiar a campanha. Eu pessoalmente adorei o estilo debochado e piadista do Jacob. Vai do gosto pessoal mesmo. 

DI2 também apresenta um modo multiplayer co-op para até três jogadores, o que pode deixar a jogatina mais divertida ainda, mas na build que jogamos esse recurso ainda não estava disponível.

Belo e datado



Pelo seu longo tempo de desenvolvimento, não é difícil perceber que Dead Island 2 é um game datado em certos aspectos. Mundo aberto? Não. Aqui temos o clássico “cenários fechados interligados por telas de carregamento”. Algo bastante comum nos jogos do começo dos anos 2010. Existe uma certa linearidade que pode incomodar as audiências atuais. Você recebe a missão, entra numa área, mata zumbis, faz alguns favores e se move para a próxima localização. Basicamente esse é o loop de gameplay da campanha. 

Obviamente existem alguns elementos que tornam essa repetição agradável: o já falado divertidíssimo sistema de combate, além de sidequests, personagens, armas, esquemas, colecionáveis, segredos, portas e cofres trancados. Tudo isso faz a experiência de explorar e revisitar os locais bem fluida e divertida.




Um aspecto que me agradou bastante dentro dessa linearidade é a escolha da direção de arte para cada local. Inicialmente se pode ter a impressão de que tudo será mansões de socialites e praias. Mas a verdade é que cada cenário é bem único, com seus próprios padrões de cores, arquitetura e até as roupas e tipos de zumbis que andam por lá. Você passa por casas luxuosas, praias infestadas, parque de diversão macabro e até uma sequência inteira na calçada da fama, local do game que tem uma belíssima referência ao gênio por trás dos zumbis modernos: George A. Romero. No local do Oscars, os desenvolvedores colocaram um prêmio fictício chamado de Romeros, com uma mão de zumbi dourada no lugar da estatueta.

Sem reinventar a roda



Dead Island 2 é uma experiência alucinada, frenética e divertida. É possível perceber a influência dos trabalhos anteriores de James Worrall, diretor criativo do game que já trabalhou em GTA. Diversas cenas e diálogos são hilários, dignos do jogo da Rockstar. Até a forma como os chefões são postos é comédia pura: temos noivas monstruosas ao som de um rock casamenteiro, temos bombados com músicas que falam sobre odiar Los Angeles, etc. Todo boss do jogo é acompanhado de uma trilha sonora marcante. Uma pena que essa trilha está ausente durante a maior parte da jogatina.




O game foca no que nos faz amar videogames: a sensação de aventura e diversão descompromissada. Em meio a tantas grandes obras, com roteiros perfeitos, cutscenes que parecem cinema, Dead Island 2 só quer que você pegue o controle, amasse uns crânios, arranque alguns membros e tenha uma jogatina divertida e empolgante, sem se comprometer a explorar novos ares para a franquia, fazendo o papel que um reboot teria no cinema moderno, reintroduzindo antigos elementos e apresentando para novas audiências. De fato, uma grata surpresa neste ano.

Prós

  • Combate envolvente e divertido;
  • Amplo sistema de crafting de armas;
  • Bom conjunto de habilidades;
  • Cenários belíssimos;
  • Humor no ponto.

Contras

  • História fraca e esquecível;
  • Linearidade datada;
  • Bugs ocasionais irritantes;
  • Falta de uma trilha mais presente.
Dead Island 2 — PS4/PS5/PC/XSO/XBX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Deep Silver


Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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