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Análise: Cassette Beasts (PC) mostra criatividade e personalidade em uma aventura inspirada em Pokémon

Explore uma ilha misteriosa e encontre uma forma de voltar para casa.


Cassette Beasts
é um RPG produzido pela Bytten Studio e publicado pela Raw Fury, e consiste em uma aventura muito similar à que conhecemos da série Pokémon. Após ficarmos presos em uma ilha misteriosa lotada de monstros, precisamos explorá-la para encontrar uma forma de voltar para casa. Para isso, uma estranha tecnologia que utiliza fitas cassetes nos permite copiar as habilidades dos monstros e utilizá-las em batalhas.

Perdido em uma ilha recheada de monstros

Ao acordar em uma praia deserta, nosso protagonista — que pode ser nomeado e personalizado de diversas formas — percebe estar em um lugar isolado e estranho de sua realidade. Após sermos confrontados por um estranho caranguejo com um cone de trânsito nas costas, recebemos o auxílio de Kayleigh, uma moradora local. Ela nos dá um tocador de cassete e oferece duas opções de fitas — gótica e fofa — que definirão qual será nosso monstro inicial.




Com o toca-fitas, passamos a ter a habilidade de nos transformar em monstros para batalhar. Após o conflito, Kayleigh nos explica a situação: aquela ilha é um local desconhecido que pessoas de várias realidades diferentes caem sem motivo aparente. Como ninguém nunca conseguiu sair, passaram a construir casas e estabelecer uma vida por lá mesmo. A cidade principal é Vilancoradouro e ela será nossa casa durante a aventura.

A ilha, chamada de Nova Murta, é habitada por diversas espécies de monstros, assim como o estranho caranguejo — o Trafeguejo — que enfrentamos. Alguns desses monstros causam problemas para os humanos, mas, com a estranha tecnologia da fita cassete, somos capazes de copiar as habilidades desses monstros e nos transformar neles. Dessa forma, foi criada uma equipe de vigilantes para conter os problemas criados por eles.




Com o objetivo de sair da ilha, devemos explorar cada canto do mapa para encontrar alguma pista que nos ajude a voltar para casa. Além disso, vamos atuar como aprendiz de vigilante, já que é a melhor forma de evoluir nossas habilidades de transformação e facilitar nossa vida naquele local.

Cassette Beasts possui uma estrutura muito semelhante à vista na série Pokémon. Tanto na história quanto no combate, é possível ver as diversas referências e inspirações que os monstrinhos de bolso tiveram no desenvolvimento deste título. Podemos coletar, treinar e evoluir monstros, enfrentar vigilantes e vilões, explorar um mapa com vários biomas e preencher um bestiário com todas as espécies de monstros.




No entanto, o jogo possui uma série de mecânicas e particularidades que o tornam único, as quais eu explicarei posteriormente. Portanto, é importante ressaltar que ele não é apenas “uma cópia de Pokémon”. Se você curte os jogos da Game Freak, já adianto que Cassette Beasts é uma excelente alternativa caso você não possua algum console da Nintendo. Por enquanto ele está disponível apenas para PC, inclusive no Game Pass, mas em breve estará presente em todas as plataformas.

Um novo mundo de aventuras

A história de Cassette Beasts possui três frentes principais. Kayleigh é apenas um dos seis companheiros que encontramos em Nova Murta, os quais possuem linhas narrativas próprias e bem construídas. A estrutura de missões principais e secundárias utilizada fez com que esse emaranhado de histórias se desenvolvesse de forma mais orgânica, pois, no fim das contas, tudo estará ligado ao seu objetivo final de sair da ilha. Com isso, o jogo motiva o jogador a fazer até as missões secundárias mais simples.




A história gira em torno da nossa motivação de voltar para casa. Logo no início do jogo, ainda acompanhado de Kayleigh, descobrimos que os Arcanjos, poderosas divindades locais, são a chave para o retorno. As batalhas contra os Arcanjos funcionam como boss battles. Ao todo, são oito criaturas que devemos enfrentar, e descobrir como achá-las é um desafio à parte.

Vale ressaltar que os diálogos com os Arcanjos são um ponto alto da aventura. Muitas vezes são momentos com frases dentro de um contexto mais maduro e reflexivo, balanceado muito bem com as frequentes piadas que vemos durante o jogo. Vou evitar falar mais sobre isso para evitar spoilers, mas garanto que as surpresas e reviravoltas das histórias são um destaque muito positivo.




Uma das características que aumentou essa imersão é a localização para português brasileiro. Nesse sentido o trabalho foi praticamente perfeito, visto que há alguns pequenos e raros erros de gramática e de digitação. O destaque fica para os nomes dos monstros e seus ataques, além das diversas piadas e o sotaque mineirês nos textos da Kayleigh.

A segunda frente da história envolve o conflito com os Corretores de Imóveis, o que seria a Equipe Rocket do local. Para derrotá-los, precisamos invadir todas as suas bases espalhadas pela ilha e derrotar seus integrantes até chegar no chefe. Por último, temos o confronto com os Comandantes — semelhantes aos líderes de ginásio —, que são os vigilantes mais poderosos da ilha. São doze Comandantes espalhados, cada um com habilidades e estratégias de combate únicas.




Para realizar todas as missões, precisamos desbravar cada cantinho do mapa, pois há muitos segredos e puzzles escondidos. No entanto, há uma dificuldade gritante em relação à locomoção do protagonista. A princípio, nosso personagem pode apenas correr, mas ao longo do jogo vamos desbloqueando novas habilidades como nadar, planar e escalar paredes à medida que coletamos novos monstros e copiamos suas habilidades.

Algumas dessas habilidades de locomoção são problemáticas. Locomover-se rapidamente pelo mapa faz com que o personagem fique preso em elementos do cenário como árvores e pedras; nadar é problemático pela lentidão e pela dificuldade de subir em áreas a partir da água. Há também plataformas que se movimentam verticalmente, que bugam o protagonista de modo que ele fique travado e não consiga pular para o próximo local.



Capture, transforme-se e batalhe

A mecânica central que comanda a ação de Cassette Beasts é o seu combate, seguindo a tradicional estrutura de RPG, com combates em turnos e utilizando um sistema de vantagens e desvantagens de elementos. Além disso, sua mecânica de capturas também apresenta características bem particulares.

Para capturar monstros, utilizamos fitas cassetes que copiam suas habilidades. Elementos como quantidade de vida, nível, buffs e debuffs são usados para definir a probabilidade de cópia. Quanto mais fraco e vulnerável um monstro estiver, maiores serão as chances de sucesso.




Ao todo, são 120 monstros em que podemos nos transformar, espalhados em catorze tipos: besta, astral, fogo, água, ar, elétrico, terra, vidro, plástico, planta, veneno, metal, gelo e purpurina. No geral, todas as criaturas possuem um design criativo, apesar de ser possível ver alguns monstros semelhantes a Pokémon. Eles também possuem linhas evolutivas, sendo capazes de mudarem sua forma a partir do acúmulo de experiência após batalharem.

Além disso, a forma com que os golpes interagem com os monstros varia de acordo com seus tipos, criando situações de combate únicas. Mas vale ressaltar que esse sistema é um pouco desbalanceado, com alguns tipos mais favorecidos que outros. Para explicar melhor, vou citar alguns exemplos:

  • Um monstro de gelo, ao tomar dano de fogo, passa a ficar do tipo água;
  • Um monstro de metal, ao tomar dano elétrico, passa a conduzir eletricidade e inflige dano ao ter contato físico;
  • Um monstro de planta, ao ser acertado por água, passa a ter habilidade de hidratação e recupera um pouco de vida a cada turno.
Esses são apenas três exemplos dos vários possíveis. No site oficial do jogo há uma tabela que ilustra de maneira mais didática a relação entre os tipos, caso tenham curiosidade. Por conta dessa característica, é possível criar uma série de estratégias diferentes, visto que podemos ter seis monstros conosco e as batalhas ocorrem no formato 2x2 ou 2x1. Logo, isso significa que estaremos sempre acompanhados de um de nossos amigos.




Esse combate em dupla tem uma justificativa: a mecânica de fusão entre monstros. É possível fundir os 120 monstros entre si; ou seja, são mais de 14 mil possibilidades. A fusão resulta em um monstro mais forte, que combina os ataques dos dois originais, além de melhorar seus atributos — HP, ataque e defesa corpo a corpo, ataque e defesa a distância, e velocidade.

Entender a mecânica de fusões e elaborar as melhores estratégias é fundamental para enfrentar os Comandantes, os Corretores e os Arcanjos. Por mais que o jogo não seja tão difícil na dificuldade padrão — é possível personalizar a dificuldade no menu principal —, é necessário cautela na hora de escolher seus ataques por um motivo: o consumo de Pontos de Ataque (PA).




Os PAs são pontos que ganhamos a cada turno para utilizar nossos ataques. Começamos a batalha com 2 PAs e ganhamos mais 2 a cada turno — há situações que mudam esses valores. Cada golpe consome uma certa quantidade de pontos, variando de 0 a 10 de acordo com sua força. Portanto, até para escolher os golpes é necessário estratégia, pois não teremos acesso aos golpes mais fortes no início da batalha.

Por fim, vale destacar alguns aspectos da trilha sonora. Apesar de não ser marcante enquanto exploramos o mapa, as batalhas possuem músicas muito empolgantes principalmente contra chefes e quando realizamos as fusões, situação em que a trilha passa a ser cantada.



Não é apenas um Pokémon-like

Cassette Beasts é claramente inspirado em Pokémon e aproveita-se de um conceito popular para criar algo único. O seu sistema de combate combinando interações entre tipos, fusões e consumo de pontos, junto com sua história divertida e sinistra, o torna um jogo único e muito mais profundo do que aparenta ser inicialmente. Seus problemas podem ser corrigidos futuramente, principalmente os relacionados à movimentação. Portanto, é impossível não recomendar o título, principalmente para os fãs dos monstrinhos de bolso. 

Prós

  • Combate profundo, com um sistema de vantagens e desvantagens bem elaborado;
  • História bem escrita, com diversos momentos divertidos e reviravoltas tensas;
  • Milhares de fusões possíveis;
  • Localização para português impecável;
  • Trilha sonora empolgante, principalmente em batalhas;
  • Diversas habilidades para se locomover pela ilha.

Contras

  • Combate ligeiramente desbalanceado;
  • Movimentação problemática em certos aspectos, principalmente na água e em plataformas verticais.
Cassette Beasts — PC — Nota: 9.0
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Raw Fury 


É engenheiro geólogo, graduando em Engenharia Ambiental, entusiasta de novas tecnologias e apenas mais um mineiro que não vive sem café e pão de queijo. Gosta de aproveitar o tempo apreciando RPGs, relaxando em simuladores de fazenda e curtindo uma boa música em jogos de ritmo.
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