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Análise: Nuclear Blaze (Multi) aproveita o máximo da breve campanha contra um incêndio misterioso

Apague o fogo incessante de uma instalação secreta e não esqueça de salvar os gatinhos.


Nuclear Blaze
 é um título muito interessante do ponto de vista da história do seu design, representando o processo dinâmico pelo qual vários jogos independentes tomam sua forma final. Antes de chegar nesse tópico, porém, vamos percorrer o caminho de descrever o jogo em si.

Era para ser apenas mais um dia de trabalho

Essa aventura é mais um exemplar de um gênero que, para mim, nunca parece saturado: plataforma 2D. Sempre vemos novas maneiras de percorrer um cenário que se desenrola lateralmente e, se Nuclear Blaze não revoluciona a fórmula, consegue oferecer uma experiência de identidade própria através da soma de seus vários detalhes.



Primeiro e mais óbvio: é um jogo de bombeiro. Sua equipe foi enviada para apagar o fogo que se espalhou por uma floresta, mas você logo descobre que a origem está em uma instalação desconhecida e adentra sozinho no lugar em chamas para investigar o que aconteceu ali.

Coerente com a temática, a gameplay consiste em apagar o fogo. Você usa seu equipamento para lançar água e poder prosseguir. Seu reservatório tem limite de uso, então a água deve ser reabastecida em um dos numerosos depósitos de água, o que acontece automaticamente e por aproximação, evitando quebrar o fluxo da jogatina.




Para deixar as coisas mais interessantes, o fogo se propaga, aumentando os riscos e a urgência. Os capítulos são curtos e requerem apagar tudo para abrir as portas de segurança antes de prosseguir, passando por mecânicas de encontrar cartões para desbloquear portas eletrônicas, alcançar válvulas para abrir aspersores de água ou fechar vazamentos de chamas nos dutos de gás. Várias vezes, o objetivo é uma corrida contra o tempo, mais especificamente, contra a velocidade de propagação do fogo.

Como bom platformer, há alguns colecionáveis para encontrar, também coerentes com a temática clichê de bombeiros: salvar gatinhos. Nem toda fase tem um gatinho, mas eles sempre ficam em locais escondidos e devem ser levados em segurança até o duto local de evacuação.




Ao longo das quase três horas de campanha, você aprenderá algumas poucas habilidades, uma progressão que não faz sentido com o contexto. Por exemplo, uma delas é jogar água para cima, espalhando-a ao seu redor para evitar as chamas das explosões que envolvem você subitamente e também para molhar plataformas logo abaixo. Acho que um bombeiro de elite já deveria conhecer a técnica, em vez de aprendê-la do nada ao obter um item escondido em local onde nunca esteve. Só acho.

Segura meu copo, volto já

Sim, você controla um(a) bombeiro(a) de elite, o que fica claro já na introdução: ele é trazido sozinho em um helicóptero e simplesmente salta sobre o local do incêndio, onde a equipe precisava de reforços.

Ao finalizar o jogo, surge um novo modo de desafio, chamado "Segura Meu Copo" (Hold My Beer, se preferir). Na prática, é um Novo Jogo + em que você atravessa as mesmas fases com alguns caminhos diferentes, passando por portas anteriormente trancadas, que agora ficam disponíveis. Além disso, os sistemas de defesa da instalação foram reativados e o fogo se propaga mais rápido, aumentando consideravelmente a dificuldade. São mudanças suficientes para valer a pena retomar o jogo sem a sensação de mera repetição.


É importante ressaltar o menu de dificuldade, com vários ajustes possíveis para que você possa adaptar apenas aquilo que te incomoda. Por exemplo, o modo Segura Meu Copo me fez mexer na velocidade de propagação do fogo para passar de algumas fases, sempre retornando ao normal após superar o sufoco. É um sistema muito mais eficiente do que a tríade fácil-normal-difícil que é senso-comum em videogames.

No fim das contas, levei em torno de seis horas para jogar a campanha normal, vencer o modo Segura Meu Copo, revisitar algumas fases para encontrar os segredos restantes e, enfim, obter o troféu de platina.



Arquivo X

Outro grande atrativo é a ambientação de Nuclear Blaze. Aqui, existe uma história por trás de tudo, inspirada no universo ficcional compartilhado da SCP Foundation (Special Containment Procedures). É como no jogo Control, da Remedy, em que fenômenos paranormais e objetos anômalos são investigados por um departamento secreto de apreensão e contenção, deixando tudo registrado em documentos burocráticos de alto sigilo, com partes do texto censuradas em marcador preto. 

Esses documentos misteriosos formam os segredos escondidos pelas fases, além dos felinos e de easter eggs de outros jogos. Os SCP vêm com número de identificação e, assim, você pode procurar saber mais sobre essas histórias específicas pesquisando na web.



Certamente havia espaço para desenvolver mais a ideia de ficção insólita, mas a presença desse mistério contribui para o envolvimento com a tarefa do bombeiro e com o jogo como um todo, então achei uma boa surpresa.

Em todo caso, a ambientação também é promovida pelos visuais que misturam pixel art com efeitos mais elaborados, como o borbulhar da água, a explosão líquida do apagar das chamas e o filtro opaco alaranjado que cobre a tela em meio ao fogo. 

Pelo trailer, achei que isso deixaria as coisas com aparência desfocada e me incomodaria, mas não houve qualquer risco disso. O filtro é muito adequado à situação incendiária e serve para comunicar ao jogador quando aquele trecho ainda está em chamas ou se já apagou, pois as áreas em que o fogo foi dissipado ficam com cores nítidas e azuis profundos que indicam que o perigo passou. Nuclear Blaze conta ainda com algumas opções de tela para quem quiser deixar o visual mais retrô.



A fornalha da primeira chama

Nuclear Blaze começou como parte de um game jam no qual os participantes deveriam criar um jogo em 48 horas a partir de um tema pré-determinado: “cada vez mais fundo”. Foi a partir disso que Sébastien Benard, um dos criadores de Dead Cells, acendeu a chama do seu jogo de um bombeiro que se entranha mais e mais em uma instalação secreta em chamas.

Na época, o filho do dev tinha três anos e o pai percebeu a dificuldade de encontrar jogos para crianças dessa idade, o que o motivou a fazer de Nuclear Blaze algo acessível ao pequeno. No entanto, a boa recepção do título após o game jam incentivou Benard a continuar trabalhando nele até transformá-lo em um jogo completo e comercializável.



À medida que Nuclear Blaze foi ficando mais elaborado, Benard viu que estava fugindo à proposta, então criou um modo em paralelo com o claro nome de ˜infantil˜. Implementou as várias opções de dificuldade de que já falei, possibilitando uma progressão de habilidade passo a passo. Para agradar aos jogadores mais exigentes (e, de quebra, aumentar a sobrevida da jogatina), dividiu a campanha em duas abordagens, o modo normal e o já mencionado “Segura Meu Copo˜.

O produto final foi lançado no Steam em 2021 e chega agora para PS4 e Switch. As versões anteriores podem ser jogadas gratuitamente no site oficial.



Through the Fire and Flames

Curto, mas com ótimo ritmo, Nuclear Blaze foca na urgência do incêndio para criar uma experiência intensa. O conjunto se beneficia do ótimo uso de efeitos para enriquecer a pixel art simples e incrementar uma ambientação de mistério que, mesmo que não seja profunda ou surpreendente, dá combustível para manter a chama queimando forte enquanto dura. O calor fica intenso no modo Segura Meu Copo e pode ser frustrante, mas os ajustes de dificuldade tornam o jogo acessível a qualquer público, até às crianças muito pequenas, que também podem aproveitar o Modo Infantil, projetado especialmente para elas. 

Prós

  • Campanha desafiadora e com boa ambientação; 
  • Várias opções permitem ajustar a dificuldade por partes, adaptando-a à sua necessidade;
  • Modo ˜Segura meu copo˜ funciona como um Novo Jogo+ com várias diferenças do modo original, aumentando a duração da breve experiência;
  • Modo infantil permite a crianças pequenas jogarem e se divertirem, além de se familiarizarem com mecânicas de plataforma 2D;
  • Gráficos distintos com o filtro de fumaça e os efeitos de fogo e água;
  • Textos em português brasileiro.

Contras

  • Breve duração e pouca variedade de ambientes;
  • O contexto misterioso é bem-vindo, mas pouco aprofundado;
  • Mangueira pouco manobrável leva a momentos de imprecisão, o que também acontece com a habilidade de rolar;
  • Algumas partes difíceis podem ser frustrantes para quem insistir em não ajustar a dificuldade até sentir-se obrigado a isso.
Nuclear Blaze — PS4/XBO/PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Red Art Games

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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