Blast Test

Impressões: Have a Nice Death (PC/Switch) transforma a morte em um promissor e ágil roguelike

Este título indie investe no visual e na diversidade para criar mais uma experiência sólida no gênero.


O pós-vida transformado em negócio é a premissa de Have a Nice Death, título de ação 2D com elementos de roguelike. No controle da própria Morte, precisamos botar ordem nos departamentos de controle de almas enfrentando funcionários em combates ágeis. Disponível em Acesso Antecipado desde o início de 2022 e com lançamento da versão final programado para o final de março, o jogo se destaca com variedade de conteúdo e acabamento audiovisual caprichado.

Resolvendo a bagunça empresarial do Submundo

A Morte, cansada de ceifar almas incessantemente sozinha, decidiu contratar terceirizados para facilitar o seu trabalho. Com isso, foi fundada a Death Inc., empresa especializada em controlar o fluxo de almas em seu caminho ao Submundo. Porém, isso não resolveu o problema: a Arauto do Além agora está sobrecarregada por papelada burocrática e rapidamente as coisas saíram do controle. Para restaurar a ordem na empresa, a Morte pega a sua foice e parte para os diferentes departamentos para disciplinar os empregados impertinentes.


Have a Nice Death usa esse conceito curioso em uma acelerada aventura hack and slash. O objetivo é acabar com todos os funcionários relapsos que aparecem pelo caminho em estágios de progressão 2D. A principal forma de ataque é a tradicional foice, que desfere golpes e combos rápidos, e uma investida permite escapar de perigos. Além disso, encontramos também inúmeras armas e feitiços, como um arco e flecha, uma espada imensa, bolas de fogo, tornados mágicos e muito mais.

Pelo caminho, utilizamos diferentes elementos para fortalecer a Ceifadora. As almas obtidas ao derrotar inimigos podem ser utilizadas para adquirir itens, melhorar equipamentos ou obter novas armas. Já em momentos específicos, podemos obter Maldições, que alteram características da heroína, como aumento de força, efeitos diversos (como infligir fogo ou gelo ao atacar) ou diminuir o custo de feitiços — algumas dessas melhorias são acompanhadas também de efeitos negativos.


Por ser uma entidade eterna, a Morte não morre, mas é mandada de volta para a sua sala ao ser derrotada. Quando isso acontece, perdemos os itens e melhorias obtidos naquela partida e precisamos recomeçar a jornada desde o início. Porém, há progressão entre as tentativas, como equipamentos desbloqueáveis, modificadores e atalhos. Os mapas são gerados proceduralmente, fazendo com que cada aventura seja levemente distinta uma da outra.

Controlando uma Ceifadora ágil em combates frenéticos

Roguelikes de ação e plataforma 2D aparecem aos montes a todo momento, sendo cada dia mais difícil se destacarem. Have a Nice Death não tenta inovar a fórmula, no entanto tem muitas qualidades que o torna uma experiência notável e divertida. Para começar, o jogo oferece mecânicas hack and slash sólidas. Guiar a Morte é tranquilo, sendo fácil criar combos elaborados no solo ou no ar. Parte disso se dá por causa dos controles precisos e muito responsivos, o que traz uma fluidez impressionante aos combates.

Outro ponto que sempre fico de olho em títulos desse gênero é a variedade, pois é difícil continuar jogando se as partidas forem parecidas demais. Nesse aspecto, Have a Nice Death me surpreendeu com sua boa diversidade de armas e poderes de funcionamento distinto. Em uma incursão, usei uma espada imensa para lançar inimigos no ar e criar combos aéreos. Em outra partida, foquei em feitiços diversos para atacar de longe. Numa terceira tentativa, obtive Maldições que infligiam estados negativos nos monstros. Combinadas, as diferentes habilidades oferecem inúmeras sinergias interessantes.


Fora isso, o mundo de Death Inc. está em constante evolução. Entre as partidas, novas salas, eventos e chefes aparecem, nos incentivando a reavaliar as estratégias. Há também inúmeros desbloqueáveis, como armas principais alternativas e até mesmo mais opções para aumentar a dificuldade. Esses elementos me trouxeram uma constante sensação de novidade. Só resta saber se são suficientes para evitar a repetição a longo prazo.

De negativo, nesse primeiro momento, observei dois problemas. Os estágios são um pouco simples demais, não passando de simples corredores com plataformas e inimigos. Isso é até justificável nas duas primeiras áreas a que tive acesso, mas torço para que isso mude nas fases mais avançadas. Outra questão é a cura: além de ser escassa, há dois tipos, cujo funcionamento não ficou claro, o que torna esse recurso desnecessariamente complicado. Espero que a versão final tenha alterações nesses aspectos.



Na leveza carismática da indústria do além

O cenário de Have a Nice Death é a pós-morte, porém a atmosfera é leve, lembrando mais um desenho animado simultaneamente caricato e sombrio. Os personagens são peculiares e seus diálogos são bem-humorados, como a Morte comentando estar cansada de tutoriais ou então uma alma fazendo pouco caso do motivo de sua ida para o além. O texto, que está completamente em português, me surpreendeu com suas mensagens sobre a cultura abusiva do trabalho representadas na forma de humor ácido e mórbido.

Complementando a ambientação charmosa, temos um belíssimo visual 2D desenhado, repleto de traços angulosos e forte uso de contraste. Uma paleta que foca em poucas cores traz personalidade ao mundo de Death Inc., com uso pontual de cores vibrantes para destacar elementos durante a ação.



Morte divertida

Have a Nice Death tem todas as características que um bom roguelike de ação precisa ter. O seu maior destaque é o combate preciso e de ritmo acelerado, que apresenta variedade com a grande gama de armas e poderes espalhados pelo mundo. Além disso, o universo cativa com uma interpretação carismática e ácida do Submundo, que conta também com visual elaborado e belo. A simplicidade dos estágios incomoda um pouco, mas talvez há mais para ver nesse aspecto nas áreas mais avançadas. No geral, Have a Nice Death é sólido e possivelmente mais uma adição notável ao gênero.

Revisão: Ives Boitano
Texto de impressões produzido com cópia de preview cedida pela Gearbox Publishing

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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