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Análise: Have a Nice Death (PC/Switch) põe a Morte para quebrar tudo em um frenético roguelike

O combate ágil e o visual caprichado são os maiores destaques deste título indie.


Em Have a Nice Death, uma empresa especializada em organizar as almas dos mortos saiu do controle, e sobrou para a própria Morte a tarefa de normalizar a situação. Para isso, enfrentamos empregados sobrenaturais em uma aventura de ação repleta de batalhas de ritmo acelerado. Utilizando elementos de roguelike, o jogo oferece muitas opções na hora de montar combos e sinergias, mas peca em alguns aspectos, como o balanceamento. Mesmo assim, o resultado é muito positivo e empolgante.

Botando ordem na indústria do pós-vida

Desde tempos imemoriais, a Morte foi a única responsável por ceifar vidas. Com o passar dos séculos, essa tarefa se tornou desgastante, pois o número de humanos cresceu vertiginosamente. Para diminuir a carga de trabalho, a Ceifadora fundou a Death Inc., uma empresa especializada em processar as almas dos falecidos.

Porém, o descanso não veio: mesmo delegando as tarefas mais pesadas para seus subordinados, a Morte foi sobrecarregada por uma papelada sem fim, o que a confinou em sua sala. Além da burocracia, a Ceifadora também notou que o número de almas a serem processadas estava estranhamente alto. Foi então que ela percebeu que a empresa estava fora de controle, com funcionários fazendo o que bem entendiam. Sendo assim, a Morte pega a sua foice e decide botar ordem nas coisas à força.



Have a Nice Death usa esse contexto de “escritório do Submundo” para criar uma aventura roguelike de ação 2D. No jogo, controlamos a Morte, que usa diferentes armas e magias para acabar com funcionários indisciplinados. O foco está no combate, que tem ritmo acelerado: é fácil fazer sequências de ataques misturando diferentes poderes, saltos e esquivas.

Pelo caminho, a protagonista encontra inúmeros recursos que permitem aumentar sua força ou alterar suas habilidades. Equipamentos e feitiços disponibilizam ataques diversos, cada qual com características distintas. Certos itens aumentam a vida, pontos de magia ou a defesa. Há também as Maldições, que provêm vantagens diversas, como infligir sangramento e veneno ao atacar, diminuição do tempo de carga das armas secundárias ou até mesmo recuperar vida sob certas condições. Só é necessário cuidado, pois algumas das melhorias contam também com penalidades.


A jornada é estruturada em departamentos, que contam com diferentes andares e um chefe no final. Como é de praxe do gênero, ser derrotado significa perder tudo e recomeçar desde o início, com a seleção de salas, eventos e equipamentos sempre mudando entre as partidas. Porém, há progressão entre as tentativas na forma de recursos desbloqueáveis, como atalhos, novas armas e algumas pequenas vantagens (como começar uma nova tentativa com um orbe de cura).

Fatiando e quebrando tudo em combates ágeis

Have a Nice Death me impressionou com sua ação acelerada com pegada hack and slash. Os combates são bem frenéticos, sendo essencial se movimentar constantemente e com precisão para vencer. Os conceitos principais são básicos e os controles são precisos, mas isso não significa que o andamento é simples: muitas armas e feitiços funcionam de maneiras distintas, nos permitindo montar diferentes estratégias.

A minha característica preferida do jogo é a variedade de habilidades disponíveis para a Morte. Alguns equipamentos são tradicionais, como um ataque giratório com uma faca, bolas de fogo e uma lança para estocadas. Já outras opções são mais inusitadas, como abelhas que perseguem inimigos, meteoros ou uma imensa espada que joga inimigos no ar. Há também diferentes armas principais, como uma foice amarrada a uma corrente para atacar de longe ou uma dupla de pequenas lâminas para combos rápidos. O conteúdo é desbloqueado com frequência, o que aumenta as possibilidades constantemente.


A diversidade de opções faz com que cada partida seja bem única. Tentei de tudo um pouco, como focar em combos misturando armas, destruir inimigos de longe com feitiços ou então usar efeitos das Maldições para desferir ataques críticos poderosos ou infligir inúmeros estados negativos. Para mim, parte da diversão foi testar as possibilidades e criar sinergias e combos interessantes.

Porém, é importante fazer as seleções com cuidado, pois a dificuldade é acentuada: os inimigos são agressivos e as possibilidades de recuperar vida são pouco frequentes. Os chefes, em especial, são implacáveis com seus padrões de ataque complexos e poderosos. No começo, penei para conseguir avançar e morri com frequência, mas com o tempo a minha perícia aumentou e entendi como fazer escolhas melhores, o que me permitiu chegar mais longe — é frustrante às vezes, mas a graça está em tentar de novo e superar os desafios.



Em complicações desnecessárias e burocráticas

O combate de Have a Nice Death é ótimo, mas o jogo peca em alguns pontos, o que torna a experiência um pouco repetitiva e frustrante. Claro, com insistência é possível relevar esses problemas, mas eles não deixam de incomodar.

Para começar, faltou diversidade aos estágios. A maior parte deles é estruturalmente simples demais, consistindo em corredores lineares com inimigos — basicamente, o que muda em cada área é o visual e os tipos de oponentes. Há uma tentativa de trazer variedade, como salas com desafios distintos e uma ou outra modificação nos mapas (como o Departamento de Desastres Naturais, que exige encontrar interruptores para desbloquear barreiras), mas não são suficientes.
    

Além disso, o sistema de vida do jogo é desnecessariamente complicado. Há dois tipos de dano, e um deles só pode ser recuperado por um item específico. Acontece que itens de cura são raros, e é difícil encontrar aquele que recupera a vida máxima. Por causa disso, as partidas ficam mais difíceis do que deveriam ser. Curiosamente, esta foi uma das maiores reclamações durante o período de Acesso Antecipado e, mesmo assim, a mecânica não foi alterada.

Por fim, faltou um pouco de balanceamento. Durante as minhas várias partidas, foi comum encontrar alguma situação dependente de sorte, como Maldições inúteis, inúmeras salas sem oportunidade de cura e dificuldade em encontrar itens para melhorar as armas. Por causa disso, as partidas ficaram mais difíceis do que deveriam, com inimigos me derrotando com dois golpes ou minhas armas infligindo pouquíssimo dano em chefes por estarem fracas.



Passeando por um caprichado e inusitado mundo corporativo

Visualmente, o título impressiona com belíssimos gráficos 2D. A direção de arte abusa de ângulos e cores contrastantes para criar uma empresa que simultaneamente transmite a sobriedade do pós-vida e a suavidade de um desenho animado. Destaco os mundos do jogo, que são departamentos associados à morte, como a seção de poluição industrial, o andar focado em vícios ou a repartição de desastres naturais — os cenários e inimigos refletem o tema de cada local.


As animações esbanjam estilo, tornando cada embate um espetáculo visual. Os chefes, em especial, esbanjam criatividade e personalidade com seus designs exagerados e criativos. O único porém é que às vezes há efeitos demais na tela, o que atrapalha a compreensão e clareza.

Have a Nice Death tem a morte como um de seus temas, mas o jogo foca mais na interpretação cômica e ácida do ambiente corporativo. A história explora assuntos contemporâneos de forma leve, como a estafa mental da própria Morte, reclamações constantes de funcionários sobre o trabalho e ética empresarial. O texto, que está em português, é divertido e os personagens esbanjam simpatia —gostei de ver os empregados fofocando na copa enquanto tomam “kafé”.



Reestruturação corporativa arrebatadora

Have a Nice Death é um roguelike caprichado e com ação acelerada. O combate ágil no estilo hack and slash é seu maior destaque, principalmente por ser simples de entender e por oferecer muitas possibilidades ao combinar diferentes ataques e poderes. Além disso, há muito conteúdo para explorar em um universo inusitado que explora questões do mundo corporativo com leveza e humor.

Os seus conceitos são sólidos e bem desenvolvidos, mas alguns problemas incomodam, como estágios simples demais e elementos desbalanceados. Por sorte, a parte técnica impecável e o ritmo veloz das partidas conseguem amenizar esses pontos negativos. Have a Nice Death pode não ser muito inovador, entretanto nos envolve com sua ótima e variada jogabilidade.

Prós

  • Combate ágil e muito veloz;
  • Boa diversidade de armas, magias e habilidades, o que permite montar diferentes combos a cada partida;
  • Muito conteúdo para explorar;
  • Ambientação charmosa e com ótimo visual.

Contras

  • Estágios simples demais deixam as partidas repetitivas com o tempo;
  • A mecânica de cura é desnecessariamente custosa;
  • Alguns problemas de balanceamento e clareza visual.
Have a Nice Death — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gearbox Publishing

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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