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Análise: Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & the Secret Key (Multi): um belo adeus a uma trilogia de RPGs de altíssima qualidade

O jogo final da trilogia Secret é mais um RPG de alto nível da Gust.

Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & the Secret Key
é o vigésimo quarto jogo da série de RPGs Atelier e o capítulo final da saga da jovem alquimista Ryza. Com um mundo expansivo para explorar e uma narrativa relacionada aos segredos do passado e ao crescimento pessoal dos heróis que acompanhamos desde o primeiro jogo, Ryza 3 fecha a trilogia com chave de ouro.

Mais um verão inesquecível

Após os eventos de Atelier Ryza 2, a jovem alquimista Reisalin Stout (também conhecida como Ryza) voltou para a pequena vila de Rasenboden na ilha Kurken. Um dia, um grupo de ruínas surge misteriosamente nos arredores formando o que ficou conhecido como “ilhas Kark”. Diante dessa situação totalmente fora do normal, Ryza pede ajuda para seus velhos amigos e começa a investigar essas ruínas.

Em pouco tempo, ela logo acaba descobrindo ser capaz de criar chaves especiais e uma voz em sua cabeça lhe diz que essas localidades estão ligadas a um suposto Código do Universo. Conforme a história avança, Ryza irá encontrar velhos aliados, fazer novos amigos e descobrir mais detalhes sobre o passado do mundo e segredos ligados à alquimia.

De forma geral, sem entrar em muitos detalhes, a história é bastante cativante. Boa parte da trama segue o já tradicional formato da série que é focado mais em eventos cotidianos e aos poucos vai revelando detalhes mais densos de lore. Em paralelo a isso, temos várias interações entre os personagens principais, que são a principal força da série.

Em comparação com Ryza 2, desta vez a obra acaba apresentando alguns detalhes mais dependentes dos eventos anteriores, o que pode deixar novatos um tanto perdidos em determinados momentos. Uma parte muito importante da experiência é ver como os personagens cresceram ao longo dos anos e a história de Ryza 3 vale muito mais a pena tendo conhecimento do que os personagens passaram nos jogos anteriores.

Em busca de materiais em um mundo vasto

A ideia central da gameplay da série Atelier gira em torno de três ações: coleta, alquimia e batalha. A alquimia demanda recursos, forçando o jogador a viajar para áreas variadas em busca de matéria-prima e, no caminho, é necessário batalhar contra monstros. Com a alquimia, é possível criar itens e equipamentos melhores, que facilitam a exploração, deixando o jogador cada vez mais apto a ir além.

Na trilogia Ryza, podemos usar várias ferramentas para extrair materiais diferentes dos pontos de coleta. Por exemplo, ao encontrar uma grande rocha, o jogador pode usar um machado para arrancar um pedaço ou um martelo que esmagará o mineral em pedaços pequenos. Ao encontrar um arbusto, é possível cortá-lo com uma foice ou usar uma rede para coletar insetos. Isso implica em uma dinâmica importante de avaliação de oportunidades na coleta.

Um detalhe que chama a atenção em Ryza 3 é que o seu mundo é muito mais vasto que os seus antecessores. Não apenas o tamanho impressiona, mas também a forma como os mapas são conectados sem a necessidade de transições de telas. Com isso, cada grande região do jogo é como um “mundo aberto” e o jogador pode ir de um canto a outro do mapa andando, nadando e utilizando ferramentas como uma espécie de tirolesa mágica.

Conforme o jogador explora as áreas, irá encontrar também landmarks, ou seja, pontos de referência no mapa. Uma vez encontrado, esse lugar se torna um marcador no mapa, permitindo que o jogador viaje rapidamente para esse ponto. Inicialmente o mapa geral é obscurecido por nuvens e essas descobertas vão aos poucos deixando as localidades visíveis. Há ainda um minimapa local que pode ser expandido para encontrar tesouros, pontos de coleta e detalhes ainda não visíveis no mapa geral.

Um detalhe que chama atenção também é a grande presença de quests secundárias. Basta explorar o mapa para se deparar com uma random quest que pode ser uma pessoa querendo trocar itens ou uma missão de coleta ou batalha. Essas tarefas são opcionais, mas rendem recompensas que podem valer a pena algumas vezes.

O calor das batalhas ativas

Embora a série Atelier seja tradicionalmente composta por RPGs baseados em turnos, a trilogia Ryza utiliza um esquema de combate ativo. Apesar de não deixar de ser uma lógica de turnos, já que os personagens só têm a oportunidade de atacar quando é a sua vez, esse esquema (similar ao ATB de múltiplos Final Fantasy) faz com que o controle do timing das ações importe bastante.

Controlamos apenas um personagem por vez, podendo alternar entre os membros da equipe ativa e aqueles que estão na retaguarda (cuja invocação leva não apenas à troca de personagem, mas também a um golpe de entrada). Em alguns momentos, os aliados irão pedir que o jogador execute algum tipo de ação (“use golpes físicos”, “use golpes mágicos”) e, se essa “Action Order” for realizada, ativarão um ataque extra contra os inimigos.

O jogador precisa esperar uma barra de ação carregar para poder realizar os ataques físicos básicos dos personagens, sendo capaz de bater múltiplas vezes consecutivas no mesmo inimigo. Cada ataque básico aumenta um AP (Action Point) que é acumulado para toda a equipe e pode ser gasto para ativar habilidades ofensivas, sejam elas usadas de forma isolada ou como continuidade/finalização de um combo de golpes básicos.

No meio-tempo em que espera o seu turno, o jogador pode alternar o seu alvo entre os inimigos dispersos pelo campo de batalha, mudar de personagem ou realizar algumas ações especiais. Caso já tenha acumulado pelo menos 10 APs, é possível usar um item equipado, como bombas e remédios. Eles não são gastos e é possível utilizar vários de forma consecutiva, mas é necessário ter pontos de CC (Core Charge), que são acumulados utilizando as habilidades ofensivas durante a batalha.

A execução das habilidades e Action Orders aumenta o nível tático da equipe, o que aumenta o limite superior de AP que pode ser acumulado, aumenta o número de ataques básicos, adiciona efeitos para algumas habilidades e pode ter vários outros benefícios. Em especial, é possível ativar um poder especial de dano massivo chamado Fatal Drive ao custo de voltar para a estaca zero do nível tático.

Outro aspecto importante do combate é que o jogador pode optar entre duas formações: Suporte e Ofensiva. No Modo Suporte, os aliados irão usar apenas golpes básicos, fornecendo uma reserva de AP para o jogador. Já no Modo Ofensivo, eles também gastarão essas reservas sempre que for possível. A segunda opção é especialmente útil quando o acúmulo de AP é maior do que o jogador dá conta de consumir em algum momento ou quando um inimigo está preparando um golpe poderoso, sendo necessário aumentar o dano causado e fazer com que ele perca os sentidos causando o efeito “Break” por conta dos múltiplos ataques consecutivos.

Além de tudo isso, Ryza 3 ainda conta com a mecânica de Order Drive, que recompensa a realização de Action Orders permitindo o uso de golpes especiais a qualquer momento. Vale destacar também que, assim como acontecia em seus antecessores, as ferramentas de coleta também podem ser usadas para iniciar o combate com os monstros de forma vantajosa, atingindo-os antes que eles encostem no seu personagem.

De forma geral, o sistema de combate de Ryza 3 valoriza o domínio tático desses vários subsistemas. As mecânicas combinadas recompensam o jogador por trocar os personagens e abusar das habilidades e itens sempre que possível.

Alquimia, chaves e o sistema de SP

De posse de várias matérias-primas com qualidades e traços diferentes, o jogador tem então a tarefa de criar itens em seu ateliê. Isso pode ser feito a qualquer momento, seja para atender a uma quest ou para proveito pessoal. Assim como foi o caso nos jogos anteriores, Ryza 3 traz um dos sistemas mais simplificados e claros da série, sendo fácil entender a lógica de seu funcionamento.

Para produzir um item, precisamos de uma receita, que é vista como uma rede em que cada nó representa um material e seus efeitos específicos no resultado final. Por exemplo, um item pode exigir um lingote de ferro e um solvente, mas ter vários materiais adicionais opcionais que melhoram a sua qualidade, aumentando dano, aplicando efeitos nos inimigos, etc. O desbloqueio dessas funções está geralmente ligado ao valor elemental dos itens utilizados, sendo necessário avaliar o que dá para fazer combinando os materiais já disponíveis.

Assim como foi em Ryza 2, o novo jogo utiliza um sistema de SP (Skill Points) em que cada item criado aumenta os pontos disponíveis e o mesmo é válido para completar algumas quests. Esses pontos podem ser usados para desbloquear novas receitas e habilidades passivas no menu Skill Tree.

A principal novidade é um sistema de produção de chaves mágicas que afetam os três pontos da trama. Em algumas localidades, é possível usar chaves para coletar materiais com qualidades melhoradas. Durante as batalhas, é possível fabricar esses itens para ganhar buffs em troca de um nível tático. Já na síntese, as chaves têm um efeito ainda mais importante, aumentando os valores elementais e a qualidade dos produtos finais.

Algumas considerações técnicas

Apesar de todos os elogios que fiz aos sistemas do jogo, vale destacar que os tutoriais de Atelier Ryza 3 não dão conta de vários aspectos importantes. Em especial, há várias mecânicas que foram aproveitadas dos seus antecessores que o jogo omite, o que pode dificultar a experiência consideravelmente para quem quiser pular diretamente para esse jogo. Para quem já jogou Ryza 1 e 2, porém, o jogo é bem intuitivo e as adições são fáceis de aproveitar.

Como já esperado da Gust, a trilha sonora é de altíssima qualidade, explorando os motifs para evocar a sensação de aventura refrescante. O tom de diversão e exploração de um mundo confortável e divertido é uma parte muito importante da jornada e Ryza 3 mantém bem a estética e nível de qualidade de seus antecessores.

Por fim, gostaria de destacar que a versão de PC de Atelier Ryza 3 conta com um menu interno de configurações gráficas. As opções de ajustes disponíveis são bem detalhadas, permitindo que o jogador desligue certos efeitos como a profundidade de campo (que deixa os ambientes menos nítidos que os personagens em foco), motion blur (que dá um efeito de borrão ao movimento), entre outros detalhes. Em comparação com vários outros RPGs japoneses em especial, é um nível de controle atípico e muito superior ao esperado.

O final de uma bela saga

Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & the Secret Key mantém o alto nível da trilogia em uma experiência mais vasta que valoriza a exploração. O último jogo da trilogia encerra muito bem as férias de verão de Ryza e seus amigos, demonstrando o crescimento dos personagens e da própria desenvolvedora ao longo desses quase quatro anos desde o lançamento do primeiro Atelier Ryza.

Prós

  • Áreas muito vastas de mundo semiaberto para explorar em busca de materiais, monstros e quests;
  • O sistema de landmarks valoriza a exploração dos mapas;
  • Sistema de batalha ativo que valoriza a troca de personagens e o uso de habilidades e itens;
  • Sistema de alquimia de fácil entendimento;
  • A possibilidade de usar múltiplas ferramentas dá ao jogador um elemento estratégico na coleta de matérias-primas;
  • História cativante com belas interações de personagens;
  • Trilha sonora de alta qualidade;
  • Menu de configurações gráficas bem detalhado e rico em opções no PC;
  • Quests secundárias podem ser encontradas com frequência nos mapas.

Contras

  • Algumas mecânicas, especialmente aquelas advindas de jogos anteriores, não são bem explicadas;
  • Detalhes da trama pressupõem familiaridade com os anteriores.

Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & the Secret Key — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 10.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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