Blast Test

Impressões: Lakeburg Legacies (PC): para gerenciar um povoado, é necessário também se atentar às pessoas

Afinal, a base da convivência em sociedade se dá justamente nas relações interpessoais de seus indivíduos.



Ao ler a descrição básica de Lakeburg Legacies, minha primeira impressão foi de desconfiança. Afinal, uma sinopse que incita o jogador a combinar os casais mais compatíveis para gerar a prole mais eficaz no intuito de fazer com que o reino prospere cada vez mais só me remete a políticas eugenistas.


Nota-se, entretanto, que tal discurso só foi muito mal redigido, uma vez que o título da Ishtar Games pode ser descrito com maior simplicidade como um simulador de feudo medieval.

Mais um simulador de vida medieval? Sim!

Tendo essa observação em vista, Lakeburg Legacies é um jogo bastante simples e agradável, embora não muito distante de qualquer outro simulador medieval. Tê-lo descrito dessa maneira, entretanto, não o torna necessariamente ruim. Inclusive, essas características de dating sim trazem um tempero a mais à fórmula para, eventualmente, justificar a aquisição do título.



Como era de se esperar a jogabilidade começa de uma forma tradicional para o gênero, sendo necessário construir estabelecimentos para adquirir recursos, como toras de madeira. É necessário então atrair cidadãos para seu vilarejo e atribuir diferentes trabalhos de acordo com suas afinidades.

No começo, não há exatamente muita possibilidade, uma vez que, se você só tem um aldeão, irá alocá-lo no único trabalho escolhido. Ao desenvolver o povoado, novas opções surgem e é possível realocar os novos habitantes que vão surgindo em novos trabalhos mais adequados aos seus atributos.

"Olha lá, baita orgulho de ter juntado esse casal!"

O principal diferencial de Lakeburg Legacies acaba sendo justamente o aspecto de simulador de encontro (ou melhor, considerando que não somos personagens ativos, arrisco chamá-lo de simulador de cupido), em que é possível tentar juntar diferentes cidadãos, fazê-los interagir e reagir corretamente diante de determinadas situações em um encontro e decidir se eles darão um bom casal ou não. 




O segredo por trás da mecânica está em analisar os interesses em comum e tomar as decisões certas para que os encontros corram bem. A melhor parte desse aspecto do game, no entanto, está em como os aldeões acabam interagindo entre si de acordo com o desenrolar da jogatina.

Isso acaba fazendo com que os personagens desenvolvam suas famílias e façam amizades. Com vários casais, uma nova geração de habitantes vai surgindo, cada qual com seu potencial a ser desenvolvido, o que culmina na progressão cíclica da gameplay. 




Remetendo um pouco a SimCity, RollerCoaster e outros simuladores de gerenciamento, a maioria dos acontecimentos entre os cidadãos acaba rolando no background, aparecendo só um descritivo rápido no canto da tela, como um registro.

Considerando que fiquei até surpreso com a forma com que me apeguei a alguns dos moradores, algumas ocorrências poderiam receber um destaque maior, como uma janela pop-up, tipo quando rola algum nascimento na vila, divórcio, quando as crianças atingem a idade de virar aprendizes ou chegam à maioridade, etc. Em resumo, qualquer mudança que se relacione com maior intensidade às mecânicas de jogabilidade poderia ser melhor informada. 




É importante ressaltar que esse apego aos habitantes tem muito a ver com o estilo artístico de Lakeburg Legacies. Embora não necessariamente original, achei toda a composição estética bem redonda, com interfaces intuitivas que casam com o traçado de cada um dos personagens, cujo design de personagem é bastante competente.

Quando a demo acaba na melhor parte

Em um jogo de gerenciamento no qual cada cidadão importa, chama a atenção como todos conseguem ser marcantes às suas formas, a ponto de fazer com que o jogador lembre quem é quem. Esse é provavelmente um dos principais méritos do título, o que faz com que todo o desenrolar de uma campanha seja bem mais fácil, memorável e prático.




Na experiência geral, senti falta de um tutorial mais passo a passo. Creio que, no jogo completo, não existe motivo para ele não estar presente, mas vale o aviso de que a execução de ações instruídas traz um potencial didático bem diferente de um painel introdutório estático explicando o fluxo de jogabilidade, como é o caso aqui. 

Falando da demo, inclusive, também fiquei incomodado porque ela acaba quando alcançamos certo nível de prestígio, o que levaria a novas mecânicas mais diversificadas e que ficaram de fora da demonstração. Isto é, independentemente desse bloqueio, eu gostaria de jogar um pouco mais com o vilarejo e os personagens aos quais me apeguei em um modo sandbox, mas isso é só uma reclamação superficial em relação a uma decisão por trás da qual deve haver algum motivo dos desenvolvedores.

Um aperitivo que te deixa querendo mais


Dentro de suas potencialidades em um gênero tão batido que é o simulador de idade média, achei Lakeburg Legacies bastante promissor. No caso da demo, ela fez comigo exatamente o que deveria: deixar um gostinho de “quero mais” suficiente para querer acompanhar o eventual lançamento definitivo, previsto para o segundo trimestre de 2023. 

Revisão: Davi Sousa
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Ishtar Games

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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