Análise DLC

Análise: Bardock: Alone Against Fate (Multi) ajuda a tornar a experiência de Dragon Ball Z: Kakarot ainda mais completa

DLC baseado no especial dos anos 90 não traz novidades ao título, mas se envereda de forma intimista nas origens do protagonista da franquia.


Embora parecesse que o ciclo de desenvolvimento do excelente Dragon Ball Z: Kakarot (Multi) havia chegado ao fim com o lançamento de Trunks: O Guerreiro da Esperança — que se tratava de uma campanha isolada própria protagonizada pelo personagem do título —, o lançamento do port do game para PlayStation 5 e Xbox Series foi acompanhado por um novo season pass no intuito de manter o título vivo por mais algum tempo. Assim, Bardock: Alone Against Fate encabeça essa leva de conteúdo inédito ao trazer a história do pai do Goku.

Dragon Ball Z e nada mais

Dragon Ball Z: Kakarot pode ser considerado facilmente um dos melhores jogos da franquia, uma vez que ele teve a intenção extremamente bem-sucedida de recontar de forma definitiva toda a saga Z da série, que começa assim que o irmão de Goku, Raditz, chega à Terra e revela ao herói que ele não é um humano, mas um membro de uma raça extinta conhecida como Saiyajin.







Dito isso, é muito importante lembrar que o título se baseia unicamente na versão animada conhecida como Dragon Ball Z. Ele não se baseia no mangá — que não tem uma “saga Z”, visto que toda a história, do Goku criança à derrota de Kid Buu, é apenas um único “Dragon Ball” —, nem em Dragon Ball Kai, que limou todo o material filler que é próprio do anime e não está presente na obra original do Toriyama.

Esse tipo de entendimento é crucial para Dragon Ball Z: Kakarot porque Bardock: Alone Against Fate se baseia em um especial de televisão lançado em 1991, chamado “O Pai de Goku”, que posteriormente foi sobrescrito no cânone da série por Dragon Ball Minus (e o filme Dragon Ball Super: Broly), trazendo um Bardock completamente diferente.




Embora Bardock tenha sido escrito como um guerreiro de classe baixa em ambas as instâncias, o de Dragon Ball Minus traz uma personalidade mais centrada, racional e tem mais compaixão em relação à sua família. O do especial, contudo, é uma máquina de combate orgulhosa e de sangue frio, ignorando completamente o nascimento do filho porque prefere investir seu tempo e esforço no trabalho, que é invadir planetas ao lado de seus parceiros para que o império de Freeza os revenda a preços exorbitantes.

Nesse aspecto, é muito bom ver que a CyberConnect2 e a Bandai Namco não quiseram interpolar as diversas linhas do tempo e possibilidades de ramificação de continuidade (como a que divide Dragon Ball GT e Super). E, embora a existência de Beerus e a ressurreição de Freeza seja comumente associada ao Super, ambas as situações aconteceram na série corrente como filmes sob a marca “Dragon Ball Z”, mostrando que mesmo esses dois DLCs ainda estão inseridos nesse escopo meticulosamente determinado.



Mais do mesmo, mas de um jeito até que bom

A escolha de Bardock: Alone Against Fate como DLC de Dragon Ball Z: Kakarot nada mais é do que o respeito à animação original que fundamenta a existência do próprio jogo por si só. E, tendo isso em vista, o conteúdo em questão condiz muito bem com o que o título já ofereceu anteriormente tanto na campanha principal quanto nos outros DLCs.

A primeira coisa a se levar em consideração, então, é que se trata de uma história bastante curta. Mesmo sem correr e fazendo todas as missões paralelas, o jogador consegue chegar à sua conclusão em algumas poucas horas. Ao mesmo tempo que isso não é novidade porque a mesma coisa já tinha acontecido com Trunks: O Guerreiro da Esperança, chega a ser um pouco frustrante que o progresso dessa campanha seja tão linear e direto. Mesmo com missões paralelas próprias, o jogador logo é incentivado a progredir na história em vez de tentar explorar os dois mapas que a expansão traz consigo (os planetas Vegeta e Kanassa).




Em termos de game design, isso chega até a ser um pouco incômodo para quem gosta de alcançar os 100% em um jogo, uma vez que Bardock e seus comparsas contam com árvores de habilidades próprias, mas a própria expansão não oferece material suficiente para que a evolução corra naturalmente, sem precisar de grinding.  

Mecanicamente, ele também inova pouco, uma vez que se reaproveita extensivamente das batalhas coletivas introduzidas em “Um Novo Poder Desperta — Parte 2”, o segundo DLC que tem a ressurreição de Freeza como enfoque. O ponto de maior abertura da campanha é durante a invasão do planeta Kanassa, quando é necessário derrubar as três torres de comando do local para enfraquecer a cidade principal, o que é feito através de combates sequenciais contra hordas de inimigos.




A partir daí, tudo o que resta ao jogador é uma sequência de acontecimentos bastante lineares, lembrando até a reta final da campanha principal do jogo base, naquele trecho final contra o Super Buu e o Kid Buu, quando as lutas eram basicamente intercaladas por cutscenes, desfavorecendo o fator da exploração presente no mundo aberto.

O maior brilho de Bardock: Alone Against Fate, entretanto, está na maneira intimista como a história acaba sendo contada. Os comparsas do personagem principal receberam destaque individualmente em missões paralelas próprias, desenvolvendo com maestria o cânone dos personagens em questão sem que haja desrespeito ao material já consagrado.




Inclusive, vale destacar uma sidequest em que a gangue acaba, sem querer, passando pelo processo seletivo para integrar as Forças Especiais Ginyu. Com medo de serem separados, Ginyu acaba não escolhendo ninguém para ocupar a vaga porque ele viu muito valor na força que todos eles tinham em conjunto.

Embora a história de Bardock valha a pena sob o ponto de vista de storytelling¸ a verdadeira surpresa — isto é, para uma história que já está no imaginário popular há pelo menos trinta anos — está logo no seu trecho final, quando o jogador assume o controle de um Vegeta criança e acaba presenciando todos os acontecimentos do genocídio Saiyajin sob uma nova perspectiva.




O maior desperdício de oportunidade mesmo fica por conta do fato de que não é possível controlar os Saiyajins na forma de macaco gigante, sequência que acabou ficando restrita a uma cutscene e bem que poderia ter sido incluída de alguma forma a fim de aumentar o sentimento de que é o jogador que está no controle da história sendo contada, principal característica do videogame como mídia.

No fim das contas, esse DLC é uma adição bastante bem-vinda para os jogadores de Dragon Ball Z: Kakarot, que agora conseguem revisitá-lo em uma dose saudável, sem necessariamente ter que começá-lo do zero sabendo que teriam que enfrentar dezenas de horas pela frente até chegar ao sentimento de conclusão.



Mais um capítulo na lenda de Son Goku

Bardock: Alone Against Fate pode não estar entre os mais brilhantes DLCs já produzidos na indústria de games. Longe disso. Também pouco se sustentaria como uma campanha individual, do tipo “esse conteúdo adicional renderia um jogo próprio”. Entretanto, trata-se de uma peça bastante importante do quebra-cabeça para tornar Dragon Ball Z: Kakarot um jogo completo em sua proposta de recontar, mais uma vez e à própria maneira, uma das sagas mais importantes da animação japonesa como um todo. 

Prós

  • Storytelling de primeira qualidade aliado aos visuais incríveis do próprio game;
  • Uso do Bardock “poucas ideias” do DBZ em vez da versão ponderada de Super;
  • Inclusão do pequeno Vegeta como personagem jogável;
  • Missões paralelas que trazem uma nova visão sobre o resto da gangue do Bardock.

Contras

  • Notavelmente curto e faltaram mais batalhas de impacto, como as contra chefes (além dos dois finais, Dodoria e Freeza);
  • Nenhuma adição substancial no que diz respeito às mecânicas;
  • Senti falta de controlar o macaco gigante, hein?
Bardock: Alone Against Fate — PC/PS4/PS5/XSX/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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