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Análise: Shieldmaiden (Multi) traz muitas boas ideias, mas pouco desenvolvimento

O jogo apresenta uma série de bons conceitos, mas tem dificuldade em os elaborar.

Shieldmaiden (Multi) é um sidescroller 2D, com ação, plataforma, estética e estruturas inspiradas por clássicos dos anos 80, além de muitas mecânicas que têm sido utilizadas pelos jogos modernos do gênero. 
 
Shieldmaiden é produzido e publicado pela Dumativa, desenvolvedora brasileira que também é responsável pelo jogo A Lenda do Herói. O jogo foi lançado em março de 2020 mas recebeu uma versão melhorada, chamada de Remix Edition. Esta atualização foi produzida a partir do feedback dado pelos jogadores, e é concedida como upgrade gratuito para os donos do jogo original.

A nova versão parece ter sido desenvolvida com foco em melhorar a experiência durante o gameplay, mas um ponto que chama a atenção é o jogo não possibilitar a customização das opções gráficas. É fato que ele  apresenta boa performance e é tão leve que provavelmente rodaria até em relógios, mas permitir que o jogador escolha a forma como o jogo encaixa-se melhor em  seu monitor seria uma melhoria muito bem-vinda.

Back to the 80’s

A estética do jogo é extremamente cartunesca: Os corpos dos personagens são bem desproporcionais, principalmente suas cabeças, além de os sprites não serem muito grandes. O tamanho da tela do jogo é relativamente pequeno, então essa escolha artística facilita  que detalhes da personalidade dos personagens fiquem aparentes apenas por seu visual, e que o jogador possa perceber quando expressam emoções diferentes.
A protagonista, Asta, em um dos cenários do jogo
Os gráficos do jogo são em pixel art. A princípio, pode parecer que os sprites são pouco detalhados, mas eu diria que isso é por conta do tamanho limitado da tela do jogo. As animações são extremamente fluidas, com vários quadros por cada movimento dos personagens. 

Um bom exemplo disso é como o jogo reage quando você é acertado por golpes pesados de chefes: há um pequeno flash, seguido de uma chacoalhada na tela e a personagem sendo lançada  pelo impacto, tudo em perfeita sinergia.

A trilha sonora é o ponto mais forte do jogo. As músicas variam muito  de acordo com a atmosfera do momento, mas em geral são inspiradas por batidas  pop e eletrônicas dos anos 80. Também há músicas que utilizam corais, quase sem acompanhamento instrumental, dando  um tom bastante épico.
Todos os aspectos estéticos do jogo são  tributos aos anos 80. O design dos personagens, a decoração dos cenários, as músicas e  principalmente as roupas da protagonista, Asta. Apesar de o jogo se passar em um futuro distópico, o fato de que tudo nos lembra a década de 80 traz à memória  filmes como Waterworld, nos quais víamos uma ideia de futuro baseada nas condições de quando  a obra foi criada ou, neste caso, da maneira como  enxergamos aquela época.

O escudo multiuso

A protagonista do jogo, Asta, possui um escudo de energia que  é a principal gimmick de Shieldmaiden. Asta pode pular, realizar wall jumps e dar dash. Seu escudo pode ser utilizado como arma de combate corpo a corpo, ser arremessado como um bumerangue e absorver projéteis. 

Asta possui uma barra de estamina, que é drenada toda vez em que ela utiliza um dash ou defende-se de um disparo de um inimigo com o escudo. Conforme absorve os ataques, Asta vai carregando uma barra de super, cujo ataque destrói todos os inimigos na tela.
Asta utilizado o escudo para proteger-se dos inimigos
Apesar de ser um moveset bem simples, eu diria que é também  extremamente completo e que estes movimentos usados em conjunto permitem criar desafios bem diversificados. No entanto, há dois problemas: o level design e a duração do jogo.

O level design não é ruim, mas é um pouco confuso. O jogo apresenta várias seções de plataforma, mas alguns abismos não são realmente abismos, havendo solo para aterrissar e às vezes até caminhos para seguir. No entanto, não há indicação clara de qual buraco é letal, de modo que muitas vezes podemos encarar um abismo incertos sobre este ser  amigável ou não.

Outro detalhe é que vários becos sem saída não são fechados imediatamente, continuando  por pequenos corredores. É um problema pequeno, mas o jogo possui segredos para serem coletados e estes corredores confundem e nos fazem perder tempo.

A maior parte dos inimigos têm ataques à distância, de modo que o jogador tem de ponderar se prefere atacar de longe (o que causa menos dano), aproximar-se (o que é mais arriscado), ou tentar carregar seu super (o que pode quebrar o escudo, impedindo-o de ser utilizado até que a barra de estamina  se recarregue). Há uma variedade decente de inimigos, permitindo que existam diversas situações de combate nas quais as três estratégias possam ser viáveis.
Um dos cenários no qual os inimigos atacam à distância
Entretanto, fora as diferentes hordas de inimigos, na maior parte do jogo não há gimmicks para diferenciar cada fase, dando  ao gameplay geral uma alternância entre correr, pular sobre abismos e matar inimigos. 

Nas últimas fases são introduzidas mecânicas como surfar com o escudo e quicar em bolas de energia, mas aqui entra o problema da duração. O jogo é bem curto, na minha primeira tentativa pude finalizá-lo em pouco mais de duas horas e meia. Como estas mecânicas são apresentadas próximas do final, elas  ficam subutilizadas e não aliviam a repetição das fases anteriores.

Por outro lado, os chefes são bem interessantes. Sendo similares aos  chefes de jogos como Actraiser, que  parecem invencíveis no começo, também  são relativamente fáceis depois que descobrimos seu padrão de ataque. Porém, mesmo conhecendo  seus ataques eles continuam desafiantes e exigem bastante atenção do jogador. 
Asta ao lado de um dos chefes do jogo

Sobrevivendo ao Cataclisma

A história do jogo se passa na cidade de Modigard após o Cataclisma, evento que abriu diversas fendas na cidade, impediu o acesso à diversas áreas, e também provocou intensa interferência eletromagnética, fazendo com que os humanos perdessem o controle da maior parte das máquinas, especialmente dos robôs.

No epicentro do início do Cataclisma fica uma redoma, criada para conter os fenômenos inexplicáveis que vêm acontecendo desde o começo do evento. O objetivo de Asta é reencontrar sua irmã Roza, que desapareceu logo após o Cataclisma. Ela conta com a ajuda de Romir, uma das poucas inteligências artificiais que continuam funcionais, e um bracelete dado por  sua irmã logo antes de desaparecer que  é a fonte do seu escudo de energia.

Asta em um dos túneis do metrô
Utilizando os túneis do metrô, Asta visita diversos locais nos quais Romir consegue rastrear traços da presença de Roza. Em uma destas patrulhas, Asta é atacada por um grupo misterioso que parece estar interessado em seu bracelete.

A história pode não ser a mais original, mas é interessante e os personagens apesar de simples são carismáticos; cada um tem somente uma característica de personalidade, mas os diálogos as desenvolvem de maneira interessante, enfatizando o teor cartunesco, no qual a aparência tende a refletir as ações de cada um. 

O maior problema da história é como a narrativa é contada. A maior parte é por meio dos  diálogos entre Asta e Romir, durante suas viagens no  metrô. Muitos detalhes do Cataclisma e da relação entre os dois e com Roza são dados, mas o jogo não possui dublagem e alguns destes diálogos em caixas de texto estendem-se por quase dois minutos.

Asta indo em direção a redoma
Outro problema é que alguns diálogos acontecem durante as fases, sem que haja nenhuma pausa no gameplay. Pelo que pude perceber, nenhum detalhe essencial é informado somente nestes diálogos, mas para alguém realmente interessado na história pode acabar dividindo a atenção e atrapalhando a experiência.

No final das contas, Shieldmaiden: Remix Edition é difícil de classificar. O jogo definitivamente não é ruim, os gráficos são bonitos e charmosos, a trilha sonora é excepcional, a história é cativante e o gameplay tem vários conceitos interessantes. O fato de o jogo ser tão curto, por outro lado, parece agir contra ele. O produto final é bom, mas se tivesse mais fases e pudesse aproveitar melhor as possibilidades oferecidas pelas mecânicas já presentes  poderia ser muito melhor.

Prós

  • Belos gráficos e animação 2D em pixel art;
  • Ótima trilha sonora;
  • Personagens carismáticos;
  • Chefes desafiantes.

Contras

  • Level design ligeiramente confuso;
  • Desequilíbrio entre narrativa e gameplay;
  • Curta duração.
Shieldmaiden: Remix Edition - PC/ XBO/Switch - Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Dumativa

Jornalista e escritor. Me expresso melhor pelo papel e caneta então uso-os para falar dos meus assuntos favoritos. Deposito meus pensamentos no medium.com/@Easreferencias.
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