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Análise: Power Chord (PC) traz rock e demônios em um feroz roguelike deckbuilding

Monte sua banda e tente sobreviver aos desafios desta jornada brutal.


Em Power Chord, músicos-guerreiros se unem para enfrentar criaturas diabólicas que estão tentando invadir a Terra. O foco é em embates entre bandas nos quais utilizamos cartas para atacar e ativar habilidades, sendo que vamos alterando o baralho no decorrer da jornada. O título utiliza conceitos consagrados do gênero roguelike deckbuilding em uma experiência familiar em um primeiro momento, mas ideias e mecânicas próprias são suficientes para torná-lo envolvente e de destaque.

Enfrentando criaturas infernais com o poder do rock

Quem já jogou algum outro roguelike de construção de baralhos, como Slay the Spire e Roguebook, já estará familiarizado em Power Chord. Em cada uma das partidas, avançamos por batalhas e eventos até alcançar um chefe no final da área.

Na maior parte do tempo, participamos de batalhas por turnos nas quais cartas são jogadas para executar ações diversas, como atacar, defender e ativar técnicas especiais. A cada turno, recebemos alguns cartões e temos uma quantidade de energia limitada para utilizá-los, então precisamos pensar com cuidado para fazer as melhores ações possíveis em cada rodada. Como é de praxe, os inimigos indicam o que farão em seguida, o que nos permite montar estratégias de forma consciente.


A essência do combate é idêntica à de outros representantes do gênero, porém Power Chord tem algumas particularidades que o torna bem distinto. A mais notável delas é a defesa: os pontos de bloqueio persistem entre os turnos. Além disso, quebrar a guarda de um oponente interrompe sua próxima ação, nos possibilitando usar esse recurso para anular ataques devastadores. Em contrapartida, recuperar a vida dos heróis é custoso e os inimigos são bem agressivos, o que pode condenar a partida de um jogador mais descuidado.

Outra mecânica importante são as stances (ou “posturas”), que habilitam efeitos diversos quando alcançamos certas condições. A diversidade de vantagens é grande, como receber um ponto de defesa ao aplicar um estado negativo no inimigo, ganhar energia ao ser atacado ou alterar características de certos golpes. As stances são poderosas, porém têm custo alto de energia e são desativadas ao receber dano direto. Inclusive, os inimigos também têm acesso a posturas, sendo mais um detalhe para ficar atento durante os embates.


Por fim, temos a composição da banda de heróis, que conta com quatro membros de papéis distintos. Os bateristas são especializados em defender os aliados gerando escudos ou tomando dano em seu lugar; os baixistas usam seus instrumentos para aplicar estados negativos nos oponentes; atacar com força é a tarefa dos guitarristas; já os vocalistas provêm suporte com habilidades diversas. Há diferentes personagens dentro de cada categoria, o que oferece grande variedade na hora de montar a banda.

Tocando o terror em concertos estratégicos variados

Uma característica que sempre observo ao testar um novo roguelike de construção de baralhos é a diversidade, afinal os títulos desse gênero são pensados para serem jogados inúmeras vezes de formas diferentes. Nesse aspecto, eu me surpreendi positivamente com Power Chord: a variedade de conteúdo é razoável, tornando as partidas bem distintas entre si. Além disso, mesmo focando nos conceitos básicos do gênero, o jogo apresenta muitas nuances que trazem identidade.


Usar uma banda de musicistas-guerreiros para desbravar um mundo invadido por demônios é mais interessante do que parece. O motivo disso é que o estilo de luta de cada membro possibilita a montagem de combos e sinergias, deixando os combates interessantes. A customização de personagens é robusta: além de novas cartas, adquirimos acessórios que modificam profundamente as habilidades dos heróis. Novos personagens, cartas e acessórios são desbloqueados conforme completamos inúmeros desafios, sendo um bom incentivo para experimentar.

Com tantas opções, fui capaz de empregar diferentes táticas nas minhas várias tentativas. Em uma das partidas, equipei o baixista Shinobi 13 com um amuleto que adicionava mais um ataque a todas suas cartas, o que me permitiu utilizar suas habilidades inatas para envenenar rapidamente inimigos. Já em outra jornada, forcei os oponentes a atacarem o guitarrista Grimnir Brawlfist, pois seu poder aumenta conforme toma dano. Em uma terceira investida, usei posturas para conseguir gerar escudos e energia extras a cada turno. Gostei de testar as possibilidades, e o conteúdo em constante expansão mantém a sensação de novidade.



Em desafios intensos e às vezes desnecessariamente complexos

Experimentar e adaptar a estratégia é essencial, pois Power Chord é implacável. Há inúmeros tipos de inimigos com habilidades próprias, e os oponentes também contam com opções de sinergia — demônios que protegem aliados e roubam nossas vantagens são um pesadelo. As batalhas contra os chefes são ainda mais árduas, pois eles são bem poderosos e apresentam mecânicas complexas. Por isso, para sair vitorioso, é necessário evoluir os heróis com cuidado e, a meu ver, a graça está justamente em entender as nuances e conseguir montar um grupo balanceado para superar os desafios.

Para trazer mais complexidade aos seus embates, o jogo conta com inúmeros estados positivos e negativos, como diminuição de ataque e defesa, veneno, retaliação e mais. Parece uma ótima ideia para deixar os combates mais densos, porém, na prática, a quantidade atrapalha: muitos dos efeitos são bem parecidos e alguns deles têm explicação obtusa. Além disso, eles são representados por ícones que nem sempre são de fácil entendimento e às vezes a interface não dá conta de tanta informação.


Isso resulta em confusão e falta de clareza, o que dificulta tomar decisões com precisão, mesmo com os indicadores de intenção dos inimigos e caixas explicativas dos efeitos. Por causa disso, algumas vezes meus heróis foram derrotados sem eu entender exatamente o motivo. Depois de algumas partidas, eu fui capaz de compreender melhor os efeitos, mas acredito que uma quantidade menor de elementos deixaria o ritmo mais ágil.

Em um estiloso mundo roqueiro

Fora dos combates e construção de baralho, Power Chord aposta na mistura inusitada entre rock e fantasia para montar sua ambientação. Pode parecer estranho, mas o universo do jogo esbanja personalidade com demônios estilo punk rock, machados que também são guitarras, um baterista que parece um cavaleiro futurista, um baixista ninja e mais. O visual cel shading com traços marcantes lembra ilustrações de nanquim de histórias em quadrinho, o que resulta em um mundo com muita personalidade.

Há um forte aspecto temático musical: heróis e inimigos são músicos-guerreiros que se enfrentam em batalhas de bandas. No entanto, ironicamente, a trilha sonora é um dos aspectos mais fracos do jogo. As composições no estilo rock e metal são repletas de energia, porém a quantidade de faixas é bem reduzida, ou seja, as mesmas músicas são reproduzidas com frequência — chegou um momento em que eu já estava cansado da repetição.



Um roguelike da pesada

Power Chord mescla rock e cartas em um ótimo roguelike. Enfrentar demônios na companhia de músicos-guerreiros é bem empolgante, principalmente por causa do sólido combate por turnos e da ambientação elaborada. Além disso, inúmeros acessórios, eventos e habilidades tornam as partidas distintas e interessantes. Talvez tenha faltado um pouco de ousadia, afinal o jogo não oferece idéias ou mecânicas únicas, porém isso é compensado com conteúdo vasto e diverso. No mais, Power Chord é uma experiência notável de construção de baralhos.

Prós

  • Interpretação competente do combate de roguelikes de construção de baralho;
  • Mecânicas próprias e muitas possibilidades de customização abrem vastas possibilidades estratégicas;
  • Boa diversidade de conteúdo;
  • Ambientação singular inspirada em rock.

Contras

  • Excesso de estados positivos e negativos traz um pouco de confusão nos momentos mais complicados;
  • Trilha sonora repetitiva.
Power Chord — PC — Nota: 8.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Big Blue Bubble

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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