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Análise: Lil Gator Game (PC/Switch) nos convida a brincar de faz de conta em um adorável mundo aberto

Uma espada de papelão e uma meia velha se tornam itens épicos neste ótimo indie de exploração.


Praticamente todo mundo, quando criança, já participou daquelas brincadeiras em que usamos o poder da imaginação para transformar o mundo em um local repleto de aventuras incríveis. Lil Gator Game usa essa premissa em um carismático título de exploração e plataforma. No controle de um pequeno jacaré, desbravamos uma ilha recheada de “situações complicadas”, como monstros de papelão, habitantes em apuros de mentirinha e penhascos para escalar.


Além de muita liberdade na hora de exploração, o jogo esbanja personalidade com sua atmosfera descompromissada, visual que remete à era 32 bits e interpretação divertida dos clichês de aventuras de mundo aberto. Há pequenos problemas, como superficialidade de algumas ideias, mas, no geral, o passatempo é envolvente e divertido.

Uma reinterpretação curiosa da jornada do herói

Um jacarezinho está de férias e a única coisa que ele quer fazer é curtir o tempo livre com sua irmã mais velha, que finalmente veio visitá-lo durante uma folga na faculdade. A dupla vai para um parque localizado em uma ilha e a promessa é se divertir bastante durante o dia. No entanto, chegando lá, a irmã do protagonista diz que precisa terminar um trabalho e fica enfurnada no laptop.

O pequeno jacaré fica triste, mas não vai desistir tão fácil de brincar com sua irmã. Ele e alguns colegas decidem criar um jogo de mentirinha que se passa por toda ilha com a intenção de torná-lo tão incrível que até mesmo a jovem universitária vai querer participar. A premissa é simples: um jovem herói de capuz, espada e escudo explora uma terra cheia de perigos em busca de glória. Sendo assim, o jacarezinho começa sua jornada imaginária pelo parque.


Em sua essência, Lil Gator Game é uma aventura 3D de exploração de mundo aberto fortemente inspirada em The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Para desbravar a ilha, o jacarezinho conta com uma espada para cortar coisas, uma camiseta para flutuar pelo ar e escudos diversos para deslizar por ribanceiras. Além disso, com a ajuda de braceletes especiais, o pequeno herói é capaz de escalar praticamente qualquer parede. O foco é completar tarefas dadas por diferentes personagens, e a progressão é majoritariamente livre.

O grande diferencial aqui é o tom cômico e leve, fortemente inspirado em brincadeiras infantis. Os inimigos não passam de papelão rabiscado; itens ordinários, como um prato rachado ou uma pedrinha brilhante, se tornam artefatos poderosos; e as missões são tematicamente épicas, mesmo que na prática não passem de tarefas simples. A recompensa da maior parte das atividades é papel picado, que pode ser utilizado para criar novos equipamentos para o herói — uma varinha de condão, um carrinho de rolimã e um capacete no formato de balde são algumas das opções.



Galhofa e diversão descompromissada

Lil Gator Game me conquistou com sua interpretação relaxante do gênero mundo aberto. No controle do jacarezinho, podemos ir a praticamente qualquer lugar da ilha livremente. Nas minhas andanças, escalei penhascos em busca de tesouros de papel picado, flutuei para locais distantes com a ajuda da camiseta, usei um skate para atravessar um circuito de obstáculos e me equilibrei em cordas-bambas para conseguir atravessar precipícios. A ilha está repleta de atividades lúdicas e é um deleite explorar a esmo.

Já as várias missões da história são simples, como encontrar e conversar com certos personagens, coletar itens, derrotar monstros de papelão ou completar desafios específicos. O personagem é invencível e os combates são de mentirinha, o que torna Lil Gator Game uma ótima opção para curtir com os pequenos. A aventura é enxuta e levei por volta de quatro horas para explorar o conteúdo em sua totalidade. Pode parecer pouco, mas o ritmo é bem dosado e não há enrolação desnecessária.


O charme do jogo fica por conta da ambientação: os outros animais também mergulharam no faz de conta, o que resulta em situações no mínimo curiosas. Em um momento, por exemplo, recebi a tarefa de convencer os membros de uma vila ninja a aceitar de volta uma pessoa que foi banida por causa de uma briga boba. Como recompensa, ganhei uma bandana que me permitiu correr rapidamente igual ao Naruto.

Em outra missão, precisei escalar uma árvore para espantar um passarinho para que um fotógrafo registrasse o clique perfeito. Já um trio de estudantes só aceitou entrar na recreação depois de ajudá-los a completar seus trabalhos de verão — depois disso, eles foram para a vila como ferreiro, mago e alquimista. A maior graça do jogo está justamente em andar por aí e encontrar alguma missão maluca para resolver. O conteúdo, em sua maior parte, é simplista, mas cativa com sua leveza e bom humor; apreciei muito as inúmeras interações divertidas.


A brincadeira é leve, no entanto há alguns pontos negativos. É comum ficar um pouco perdido, pois a ilha tem algumas localidades parecidas demais e não há mapa. Além disso, o jogo não conta com uma lista de missões, o que atrapalha um pouco a progressão. Com o tempo me habituei e consegui me localizar melhor, mas a inclusão de alguns recursos tornaria a experiência mais prazerosa.

Em um universo repleto de imaginação

Fora o mundo aberto e a progressão repleta de liberdade, Lil Gator Game me surpreendeu ao explorar a inusitada temática de participar de um jogo de faz de conta. Os itens, por exemplo, são objetos ordinários que viram equipamentos: a primeira espada não passa de um graveto, um origami vira uma estrela ninja, uma boia é uma ótima opção para surfar na água, OVNIs segurados por balões podem ser derrubados por uma avançada pistola d’água, e uma câmera de papelão é capaz de registrar fotos só com a força da imaginação.

Complementando a brincadeira, temos diálogos divertidos que às vezes ultrapassam o campo da metalinguagem. O protagonista é uma criança que tem plena consciência de que seu jogo não passa de encenação, mas nem por isso ele deixa de se esforçar para representar o papel. Já os outros personagens variam entre os extremamente empolgados, os que acham tudo isso infantil demais e aqueles que começam azedos, mas acabam se rendendo. O resultado é um conjunto de situações cômicas e muito agradáveis.


Curiosamente, há na trama uma leve reflexão sobre a infância em si. O objetivo do jacarezinho é convencer a sua irmã a brincar com ele e pelo caminho encontramos algumas memórias do passado dos dois — é possível ver a distância entre os irmãos aumentando com o passar dos anos. Essa premissa é explorada de forma suave e por diferentes ângulos, e é difícil não se afeiçoar pelos personagens, mesmo que a conclusão seja um pouco óbvia.

Por fim, destaco o visual, que conta com gráficos 3D que remetem à era 32-bits. Os elementos têm poucos detalhes e as texturas são simples, o que traz um ar de algo antigo ao mundo do jogo. O resultado não é ruim, pelo contrário: a combinação de elementos e cores vibrantes resulta em um mundo charmoso e belo. Há, inclusive, um filtro para deixar tudo pixelado, reforçando a atmosfera retrô do título. Gostei também dos inúmeros itens para customizar o jacarezinho: você pode ser um guerreiro com espada, um ninja, um detetive, um astronauta ou uma mistura maluca de tudo isso.



Brincadeira sem igual

Lil Gator Game é uma aventura serena e descompromissada que transforma brincadeiras juvenis em uma ótima jornada. É envolvente explorar uma ilha repleta de atividades, em especial por causa da liberdade: escalar, nadar, planar e outras ações nos permitem ir a praticamente qualquer lugar. Às vezes é fácil se perder por causa da ausência de indicadores, mas o mundo compacto reduz a chateação.

Fora isso, é difícil não ser cativado pelo conceito de estar participando de um jogo de mentirinha repleto de diálogos divertidos. Inimigos feitos de papelão, animais que fingem ser magos ou guerreiros e muitos objetos ordinários que viram equipamentos poderosos são algumas das inventividades que encontramos pela aventura. Um visual colorido complementa a atmosfera lúdica deste universo.

No mais, Lil Gator Game é um passatempo supimpa, basta estar disposto a deixar a criança interior tomar o controle.

Prós

  • Interpretação ágil e versátil de exploração de mundo aberto;
  • Mundo compacto e repleto de atividades variadas;
  • Ambientação aconchegante e lúdica focada em brincadeiras infantis.

Contras

  • Às vezes a exploração é um pouco confusa;
  • Alguns recursos, como uma lista de missões, fazem falta.
Lil Gator Game — PC/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playtonic Friends

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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