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Análise: Marvel’s Midnight Suns (Multi) é uma aventura tática divertida no melhor estilo dos quadrinhos

Combates bem trabalhados e com bom uso da marca Marvel são o destaque desse ótimo game.


Conforme conferimos na sua prévia, Marvel’s Midnight Suns é uma nova e ousada proposta de videogame focada em tática e estratégia. Utilizando uma mecânica baseada em cartas, o título trouxe uma aventura inédita diretamente do universo místico da Casa das Ideias. Mas será que o resultado final é realmente digno da famosa franquia? Pegue o seu baralho e não esqueça da capa, pois a análise vai começar.

Diretamente da casa das ideias

Antes de mais nada, vale lembrar que Midnight Suns não é canônico, seja com os quadrinhos, seja com o cinema. Em outras palavras: ele pertence a um universo próprio. Dito isso, as referências e semelhanças aos dois outros universos são constantes, sobretudo com o primeiro. Fãs de HQs certamente estarão bem servidos, mas aqueles que conhecem apenas o básico não ficarão perdidos.
 
Em termos de enredo, isso já não é cem por cento verdade. Embora divertida e com bons momentos, a história é praticamente jogada na cara do jogador. Somos muito rapidamente apresentados à maligna Lilith, que pretende dominar o mundo com sua magia antiga e a ajuda de vilões corrompidos, e aos Midnight Suns, uma equipe também com foco em magia, que, ao lado da (ou do, pois é customizável) protagonista Hunter, tem a tarefa de enfrentar a vilã. Os Vingadores, assim como outros heróis, se unem ao time para ajudar na difícil tarefa.
 
A sensação é que o jogador precisaria conhecer o material de divulgação de Midnight Suns, que ao menos está amplamente disponível, para não ficar boiando. Obviamente, conhecer o universo Marvel e nomes como Blade, Capitã Marvel e Motoqueiro Fantasma também ajuda bastante. O cerne da história vem de uma saga nos quadrinhos da década de 90, adaptada utilizando elementos modernos da Casa das Ideias.
O game conta com um divertido sistema de criação de capas de revistas
Inclusive, alguns podem considerar a história um tanto exagerada e forçada, mas, considerando a origem nos quadrinhos, não é nada fora do esperado. A maior crítica deve ser dirigida à cadência de como ela é apresentada, pois ela realmente poderia ter sido desenvolvida com mais calma e cuidado. O negócio é respirar fundo e seguir em frente para aproveitar o game.

É sempre hora do duelo!

Ao longo da campanha, Midnight Suns apresenta duas propostas de jogo bastante distintas. A primeira, e mais importante, são os combates via cartas. A história se desenvolve conforme cumprimos missões, que consistem em uma ou mais lutas em um determinado cenário. De um lado, uma equipe de heróis, definida antes de começar, e do outro um grupo de vilões, por vezes com chefes, que recebe reforços a cada rodada.
É preciso gerenciar baralhos e posições para ter sucesso
As ações dos personagens são ditadas por cartas, que são compradas aleatoriamente de baralhos exclusivos de cada herói. É possível jogar três delas por vez, recomprar duas vezes e movimentar um membro do time pelo cenário uma vez. Além disso, conseguimos interagir com objetos que podem ser usados em ataques, incluindo postes, lixeiras e caixas.
A quantidade de cartas é considerável e todas podem ser melhoradas
Além de ter jogadas disponíveis, cada carta pode ter mais requisitos como o nível de heroísmo, que por sua vez é elevado conforme jogamos outras cartas mais simples. Paralelamente, elas também contam com habilidades proporcionais à dificuldade de serem jogadas, incluindo danos por área, jogadas extras e efeitos passivos. A variedade é considerável, sendo que cada herói tem suas próprias mecânicas características, gerando táticas interessantes.
Parece meio complicado, mas asseguro que esses combates por turno com jogo de cartas e estratégias de campo – com objetos e movimentos pelos cenários – funcionam muito bem. As boas animações (mais sobre elas em breve) complementam cada jogada e o jogo explica tudo com maestria. Obviamente, Inimigos também contam com várias habilidades e mecânicas próprias, exigindo atenção e raciocínio para serem vencidos de acordo com as exigências.

Além dos combates

A segunda proposta principal de Midnight Suns é uma mistura de Persona 5 com Animal Crossing. Pode parecer uma combinação improvável, mas no fundo ela faz sentido. Explico: o game tem um sistema de relacionamento parecido com P5, em que a protagonista Hunter pode interagir com os seus colegas heroicos ao assistir filmes, passear, curtir uma piscina, etc.
Conforme liberamos novos heróis, podemos montar times de acordo com nossas preferências

Níveis altos de amizade resultam em bônus importantes durante as lutas, além de liberar segredos. Embora muito boa na teoria, na prática a ideia é apenas boa. A maioria das interações é interessante, com conversas e atividades convincentes; fora isso, temos situações meio forçadas e até tediosas. Aliás, de maneira geral, há um exagero de diálogos ao longo da campanha, muitos deles extensos demais.

Praticamente todo personagem, por exemplo, tenta ser um engraçadinho em diversos momentos. Histórias em quadrinhos são normalmente assim, mas Midnight Suns por vezes peca nesse excesso de conversas. Voltando ao Animal Crossing, Hunter pode explorar uma grande área livre, chamada de Abadia, que conta com uma mansão, cavernas, florestas, entre outras surpresas.

A Abadia esconde segredos interessantes
Todos esses ambientes reservam segredos, itens, missões extras, áreas para explorar com os amigos e muitos materiais. Esses últimos são bastante importantes, pois permitem a criação de novos itens, personalização de recintos, cumprir tarefas secundárias e até expandir a customização dos visuais. Aliás, a quantidade de skins é considerável e elas ainda podem ser modificadas com essas variações interessantes.
As skins e suas variações de cores são bem legais
A Abadia é basicamente um grande hub, repleto de áreas que devem ser visitadas constantemente para que a história avance e os recursos, que incluem a criação de novas cartas e melhorias nos relacionamentos, sejam devidamente utilizados. O uso desses recursos, entretanto, não pode ser feito de forma livre: é possível exercer somente uma atividade específica por dia (lutar, criar, interagir); depois disso, Hunter tem que dormir para podermos repetir o ciclo.

Um sol nem tão brilhante

Acredito que o problema mais perceptível de Marvel’s Midnight Suns, inclusive de forma literal, é o nível da produção visual. Embora tudo funcione bem durante as lutas, que não contam com closes e usam apenas animações mais heróicas, as cenas mais casuais e pessoais podem assustar. Os modelos corporais são muito repetidos e texturas e movimentos faciais estão no nível do (hoje) bom e velho PlayStation 3. Uma simples cruzada de braços ou risada muitas vezes se torna uma cena estranha.
Pobre Magik, vulgo Magia, que parece ter saído da geração retrasada

Reforço que, felizmente, as partidas em si não demonstram essa produção capenga. Não que os gráficos nesses momentos sejam incríveis, mas tudo funciona de forma mais competente. Cenários tendem a ser um pouco melhores no geral, assim como as cutscenes pré-renderizadas, que são bonitas e num nível mais próximo do que o jogo deveria ser.

Entendo que isso seja principalmente resultado da disponibilidade para o Switch, console reconhecidamente menos poderoso que os demais. Ainda assim, é decepcionante ver visuais desse nível em um PS5, mesmo que o estilo proposto seja mais caricato. Em termos de desempenho, o negócio é misto, com telas de carregamento por vezes constantes e demoradas.

Algumas animações em cutscenes podem ser meio limitadas também
A dublagem também é um ponto de erros e acertos: enquanto alguns personagens estão bem legais, como a Capitã Marvel e o Motoqueiro Fantasma, outros são meio forçados, como Tony Stark e a/o protagonista. Mais uma vez, de maneira geral as coisas funcionam bem, então tais pontos não chegam a comprometer a boa experiência geral, com suas pegadas mística e estratégica convincentes.

Avante, Universo Marvel!

Mesmo sendo a primeira entrada da marca em um novo gênero, Marvel’s Midnight Suns alcançou um resultado digno de respeito. Com uma história geral interessante e bom uso dos diversos elementos da famosa marca de quadrinhos, o game apresentou um divertido sistema de combate estratégico com cartas. É difícil ignorar os visuais bem abaixo da média, mas ao menos eles funcionam bem nos combates e não comprometem o pacote final. Seja você um fã do gênero, do universo Marvel ou um curioso pela proposta, certamente essa é uma ótima sugestão para a sua biblioteca.

Pena que as artes promocionais são bem mais bonitas que o jogo em si

Prós

  • Game de estratégia divertido e que faz bom uso da marca Marvel;
  • Lutas são bonitas e com efeitos interessantes;
  • Enredo é bem pensado e é comparável ao nível dos quadrinhos;
  • Jogabilidade é intuitiva;
  • Mecânicas de jogo usando cartas e estratégia de campo funcionam muito bem;
  • Boa quantidade de elementos desbloqueáveis, incluindo customizações estéticas.

Contras

  • Visual do game é precário fora dos combates e cutscenes;
  • Alguns elementos, como enredo e sistema de relacionamentos, poderiam ter sido melhor pensados e executados.
Marvel’s Midnight Suns — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela 2K

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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