Jogamos

Análise: Kukoos: Lost Pets (Multi) diverte com seus bichinhos, mas derrapa na parte técnica

Bugs e falta de precisão atrapalham o aproveitamento da boa criatividade do jogo.


Kukoos: Lost Pets é um jogo de plataforma 3D nacional, produzido pelo estúdio manauara Petit Fabrik, que usou de sua experiência com animação infantil para produzir uma identidade atraente para as crianças. Os visuais são coloridos, os personagens, fofinhos, a história tem bastante humor nonsense e as cenas são dubladas.

Ele esteve em acesso antecipado no Steam por um ano, até finalmente ter seu lançamento completo hoje (6). As versões de PS5 e Xbox Series estão prometidas para 2023 e, infelizmente, tenho mais expectativas para elas, uma vez que, jogando a de PS4 no PS5, Kukoos: Lost Pets deixou a desejar em diversos aspectos técnicos.



A introdução nos ensina que aquele mundo é coberto completamente por água, exceto por uma pequenina ilha, onde existe a Árvore dos Kukoos e suas portas para outras dimensões. Os Kukoos gostam muito de seus pets e dedicam um dia para um festival no qual competem demonstrando as habilidades dos bichinhos.

No entanto, quando recebem a oferta de coleiras eletrônicas Kookumand que tornarão seus pets mais obedientes, eles não pensam duas vezes e logo todos estão sob influência dos dispositivos. Como esperado, algo sai errado com os aparelhos. Ao querer controlar seus bichinhos, os Kukoos acabam perdendo a ligação com eles, que passam a ser hostis e a perseguir seus donos, sob o controle de Sapão, um pet mecânico gigante.

Até K, o protagonista, também cai nessa tentação e se arrepende, mas escapa por uma porta para outro mundo, onde, sob orientação da Vovó, começa sua campanha de libertação dos pets e Kukoos.



Nos kuatro kantos da Árvore Kukoo

A Árvore Kukoo tem quatro portas e cada uma leva a um mundo de sete fases, contando as fases de chefões e as opcionais, que são desbloqueadas ao coletar certo número de moedas naquela região. A princípio pode parecer pouco, mas os estágios possuem boa variedade visual e buscam apoiar-se sobre mecânicas próprias. Cada mundo gira em torno de um novo pet com habilidades únicas, que o jogador aprenderá a usar em diferentes situações, até culminar na luta contra um chefão marinho gigante.

A primeira porta leva à Civilizoação Antiga (os trocadilhos constantes são parte do charme de Kukoos) e tem um vagalume que serve para iluminar lugares escuros. Esse inseto emite um clarão para ofuscar inimigos, ativa a energia de mecanismos e também influencia no comportamento de algumas criaturas.



O segundo mundo é urbano, mas se distingue ao usar como tema uma sátira ao marketing de coach. O terceiro evolui do tema de doces para o de parque de diversões, enquanto o quarto é uma dimensão de pizzaria pirata assombrada.



Há, de fato, boas ideias, mas nem sempre são bem executadas e algumas ações acabam sendo um tanto desengonçadas, principalmente quando é preciso usá-las com agilidade. 

Quando a exatidão de movimentos é desnecessária, o jogo funciona bem. Na exploração, por exemplo, há muito a encontrar, como as quatro plantas Migushas de cada fase e as eventuais chaves azuis para libertar Kukoos enjaulados que desbloqueiam mais opções de personagens. Os segredos são bem escondidos e requerem prestar atenção ao rejogar as fases para procurá-los.
No entanto, nem sempre o nível de precisão dos controles corresponde aos obstáculos que surgem. Sendo parte do gênero plataforma 3D de perspectiva isométrica, é até esperado que a câmera dê trabalho e confunda de vez em quando pelo efeito paralaxe, que ocorre quando o ângulo de visão do jogador o leva a perceber erroneamente a posição de um objeto em relação a outro. Em termos práticos: você jura que está na posição certa para pular para a plataforma adiante, mas cai no lugar errado.



Isso é mais recorrente no modo multijogador, no qual a câmera tem que decidir quem será sua prioridade ao mesmo tempo em que se esforça para manter todos visíveis, uma dificuldade comum em jogos do gênero. Por isso, a noção espacial fluiu melhor quando eu joguei sozinho.

Kukoofonia de sons

Com certeza, o som é a falha mais grave de Kukoos. Por exemplo: um glitch tirou o som da cena de comemoração no final de várias fases e houve falta de sincronia entre a dublagem, legenda e cena mostrada em algumas cutscenes.

A proporção de volume entre a música e os efeitos sonoros é desregulada. É comum que, em certos jogos, eu diminua os efeitos sonoros para cerca de 80%, a fim de valorizar a música, mas no caso de Kukoos, foi mais extremo.



Primeiro, eu achei que a música sumia de súbito e voltava discretamente de vez em quando, mas creio que estava enganado; na verdade, era o volume dos efeitos sonoros que escondia a música. Tive que diminuí-lo para cerca de 50% a fim de conseguir chegar a uma medida equilibrada que me permitisse entender a melodia.

Em uma fase específica, nem isso foi o bastante, pois uma mina de proximidade emitia um zunido tão agudo que eu baixei os efeitos para 20% e, mesmo assim, continuei incomodado, então os retirei no todo. Certamente, isso retrata uma questão pessoal de minha sensibilidade auditiva, mas também reflete que Kukoos, comparado com outras obras que joguei, se destaca negativamente na proporção sonora.



Na questão musical, o último mundo, com seu tema de piratas, leva a melhor, mas o jogo como um todo tem altos e baixos nesse quesito, contando com fases embaladas por melodias desinteressantes e recorrendo com freqüência a vocais “engraçadinhos”, cantarolados sem palavras. Questão de gosto? Pode ser. 

O que não é questão de gosto é que as lutas contras os chefões realmente não tinham música, mesmo após tentar regular as medidas de som.



Bugs também podem ser pets?

Infelizmente, há outros bugs, como quando coletei 211 moedas, mas a pontuação do final da fase registrou apenas 50. Tive a impressão de que isso aconteceu mais de uma vez, mas só nesse caso eu conferi a gravação e pude confirmar o ocorrido.

Sempre que um personagem morre ou retorna, a performance dá um "soluço" considerável. No multiplayer, isso conduziu a várias mortes consecutivas entre jogadores, pois o efeito da derrota de um interferia brevemente na capacidade de resposta do outro, o bastante para ser atingido também.



Também encontrei falha em uma mecânica que consiste em entrar em um pote de queijo derretido para ficar grudento e poder prosseguir na fase, mas o efeito não ocorreu com consistência e até precisei recarregar o checkpoint para tentar novamente. 

Em outra vez, ao entrar no meio da partida, meu personagem surgiu preso dentro do cenário, com nova necessidade de recarregar checkpoint ou de desligar o controle, uma vez que qualquer jogador pode ingressar rapidamente em meio à partida, mas não há a opção de drop out para sair de pronto. Certa vez, sem qualquer interação com menus, o botão de pulo mudou do X para o círculo, revertendo subitamente pouco tempo depois.





Um problema mais digno de nota é que tomamos um susto por não encontrar nosso progresso salvo ao retornar ao jogo. Fechar o software e abrir novamente resolveu o problema e não tive que recomeçar a campanha, mas, como aconteceu mais vezes, resolvi fazer uns testes e vi que o erro ocorre em duas situações ligadas à cena de abertura do jogo, que pode ser pulada ao segurar um botão. 

A primeira é que o jogo mostra os arquivos de salvamento do usuário que decide pular a cena. Então, em uma partida coletiva, se o segundo jogador fizer isso, vai parecer que o primeiro perdeu o save.



A segunda situação é ainda mais estranha: mesmo jogando sozinho, se você assistir à cena de abertura na íntegra, em vez de pulá-la, não verá seus dados salvos, mas apenas a opção de Novo Jogo. Testei isso repetidas vezes e o resultado foi sempre o mesmo: pular a cena mostra meu save. Não pular, não mostra.

Há ainda problemas visuais. A resolução parece baixa, dando uma sensação de granulado nas texturas e, às vezes, com cores um pouco desbotadas, como se o brilho estivesse alto (não há opção de regular isso). Houve também o “rastro fantasma” deixado em certos locais parece agravar o problema, às vezes de forma bem evidente, como no chefão do segundo mundo.Veja nas duas imagens abaixo.






Konklusão

Kukoos: Lost Pets é uma experiência mista. É um jogo agradável, divertido e dinâmico quando não incomoda com a movimentação imprecisa e os bugs. Nada disso o torna injogável, mas as ocorrências atrapalham o aproveitamento do que o título tem de bom a oferecer e podem demandar paciência.

É uma pena, porque o título da Petit Fabrik é um jogo bem bolado que não reinventa a fórmula, mas justifica sua existência como platformer 3D que pode ser curtido sozinho ou com outros, especialmente com crianças. Quando chegar a versão para PS5, pretendo conferir se as melhorias serão suficientes para atualizar esta análise e, talvez, diminuir os “contras" para deixar que os “prós” tenham mais chances de mostrar as qualidades que já possuem.

Meus filhos pequenos não se importaram com os defeitos (exceto quando o som sumia no final das fases). Gostaram das animações e do visual bonitinho, reviram as cenas várias vezes, riram das piadas e se envolveram com as possibilidades de cada nova mecânica. Nas palavras do de 8 anos, “o que eu mais gostei em Kukoos foram os pets e que ele é parecido com Crash [Bandicoot 4] e Sackboy  [Uma Grande Aventura], mas principalmente com Sackboy”.

Prós

  • Bom apelo ao público infantil;
  • Boa animação e dublagem;
  • Boas ideias para variar as mecânicas de jogo, evitando a repetição;
  • Conteúdo satisfatório com segredos para procurar.

Contras

  • Bugs de som;
  • Bugs em geral;
  • Falta polimento visual, apesar do design em si ser competente;
  • Movimentação pouco precisa pode atrapalhar alguns trechos;
  • Ângulo de visão pode atrapalhar a noção espacial;
  • Falta de opção para um jogador sair da partida instantaneamente.
Kukoos: Lost Pets - PS4/XBO/PC/Switch - Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS4 (jogada no PS5)
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise realizada com cópia digital cedida pela Modus

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google