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Análise: Ship of Fools (Multi) é uma intensa aventura roguelike por mares perigosos

Chame um amigo e tente sobreviver a inúmeros perigos marinhos neste título indie de ação.


Em Ship of Fools, um grupo de marujos decide navegar por mares perigosos para tentar impedir o avanço de uma tempestade apocalíptica. Essa premissa é explorada em uma aventura de ação marítima na qual desbravamos oceanos e enfrentamos inúmeros monstros marinhos, seja sozinho ou com a ajuda de um amigo. Mecânicas simples, desafio acentuado e eventos que mudam a cada partida tornam a jornada empolgante, por mais que a diversidade limitada de conteúdo incomode a longo prazo.

Desbravando águas traiçoeiras

Há muito tempo, um grupo de guerreiros capturou uma entidade e utilizaram sua mágica para construir um farol que iluminava e protegia uma região conhecida como Arquipélago. Com isso, as viagens de barco se tornaram seguras e o comércio prosperou. No entanto, com o passar do tempo, a força do farol foi diminuindo até acabar por completo — as profecias afirmavam que esse acontecimento era o prelúdio do Águapocalipse.

Agora, navegar pelos mares é extremamente perigoso: uma névoa negra repleta de monstros avança e é só uma questão de tempo até ela chegar ao Arquipélago. A única chance é uma tripulação de marinheiros que decide enfrentar a tempestade em busca de uma solução — eles são conhecidos como Tolos, afinal somente alguém nada sensato faria algo assim. A bordo de um barco enfeitiçado capaz de dispersar a névoa corrompida, eles enfrentam inúmeros desafios em uma aventura roguelike.


Os mares de Ship of Fools são divididos em espaços com eventos diversos. Na maior parte deles, precisamos derrotar monstros que tentam afundar a embarcação. Para isso, podemos usar canhões para atirar projéteis ou utilizar pás para atacar criaturas próximas. O desafio está em ser ágil, pois muitas das ações, como recarregar e mover os canhões ou reparar danos no casco, precisam ser feitas manualmente.

Pelo caminho, os Tolos podem encontrar artefatos diversos que aumentam as chances de sobrevivência. Alguns itens melhoram as características dos personagens, como velocidade de movimento ou dano da pá. Já certos objetos alteram atributos do barco, como diferentes tipos de bala de canhão, pontos de defesa e bombas. No entanto, precisamos escolher com cuidado: no início, a embarcação tem somente três espaços para equipar melhorias.


A névoa é implacável, o que resulta em derrota. Nesse momento, retornamos ao Arquipélago e precisamos recomeçar a jornada desde o início. Por sorte, podemos liberar inúmeras melhorias permanentes com tentáculos mágicos coletados durante a partida: aumentar a força dos canhões, ampliar a vida da embarcação e desbloquear novos artefatos são algumas das opções disponíveis. Com isso, aos poucos, conseguimos chegar cada vez mais longe. Há também diferentes personagens para descobrir, cada qual com habilidades passivas únicas.

Imerso na navegação frenética e divertida de oceanos ferozes

Já vi todo tipo de roguelike e continuo me surpreendendo com a criatividade deles, e Ship of Fools é mais um desses. O jogo me conquistou com seu conceito criativo, mecânicas simples de execução acertada e ação intensa repleta de desafios.

Os combates são o ponto alto das partidas. Na maior parte das vezes, o barco é cercado por grandes grupos de monstros e precisamos nos virar para dar conta de tudo. Como estamos em desvantagem, o desafio é ser ágil e saber priorizar as ações: ataco primeiro um grupo de moscas que lançam gosma no convés ou é melhor focar os esforços em um caranguejo gigante que golpeia de perto? O caos reina e foram inúmeras as vezes em que corri pela embarcação recarregando canhões, atirando projéteis e atacando inimigos — é tudo muito tenso, mas é também recompensador sair vitorioso.


As jornadas ainda oferecem elementos estratégicos. Em diferentes ilhas, podemos encontrar ou comprar equipamentos que permitem customizar o barco. Em uma partida, congelei inimigos ao utilizar blocos de gelo como munição e, em seguida, os explodia com dinamite. Já em outra tentativa, consegui eliminar grupos de monstros rapidamente ao combinar latas que ricocheteavam e um artefato capaz de infligir queimaduras. Planejar a rota com cuidado também é importante, pois a névoa negra com o chefe avança continuamente e não é possível navegar para trás.

Ship of Fools é pensado para o multiplayer cooperativo para duas pessoas, que precisam coordenar suas ações para conseguir sobreviver. Também é possível aproveitar a aventura sozinho, e, nessa modalidade, um dos canhões atira automaticamente — as coisas ficam ainda mais frenéticas, sendo necessário mudar constantemente os canhões de lugar e priorizar com cuidado as ações. O título conta com multiplayer online, mas ele é bem limitado: só é possível jogar com amigos, não há salas para acompanhar desconhecidos.



Em um universo vibrante, mas um pouco limitado

Uma das principais características de roguelikes é a diversidade entre as partidas. Neste aspecto, Ship of Fools peca um pouco devido a algumas limitações.

Para começar, a variedade de eventos não é suficiente para trazer constante sensação de novidade. Muitos dos combates são parecidos entre si e os poucos inimigos se repetem com frequência. Já as ilhas são simples e com atividades de pouco impacto, como baús com tesouro, lojas ou locais com itens amaldiçoados. Batalhas especiais estão espalhadas pelo oceano e trazem um elemento de surpresa, mas não são suficientes para acabar com a sensação de mais do mesmo. Torço para que no futuro mais conteúdo seja adicionado ao jogo.


Outra questão é a progressão lenta. O título explora a variação “lite” do gênero, ou seja, há melhorias permanentes entre as partidas, o que aumenta a chance de vitória. Acontece que os upgrades são essenciais para conseguir sobreviver, e eles são liberados bem lentamente. O mesmo acontece com itens e recursos de jogo, como canhões alternativos, que exigem muitos tentáculos mágicos para serem desbloqueados. Por causa disso, as primeiras horas são arrastadas e repetitivas.

Ao menos a ambientação é charmosa, com ótimos visuais 2D que remetem a desenhos animados. O traço é leve e divertido e apreciei o uso constante de tons de azul, verde e púrpura para trazer identidade ao universo do jogo. Os personagens, em especial, esbanjam carisma com seus olhos esbugalhados e movimentação desajeitada.



Em uma viagem perigosa e interessante

Ship of Fools transforma uma jornada marítima em um ótimo roguelike. Tentar sobreviver aos ataques de monstros enquanto navegamos é uma tarefa complicada, pois sempre estamos em desvantagem e precisamos correr para mover canhões, atirar e expulsar criaturas com um remo — a ação é frenética e parte da graça é conseguir dar conta de tanto caos. O multiplayer cooperativo para dois marujos é o foco, mas enfrentar os mares sozinho também é uma ótima opção.

As partidas contam com muitos itens e eventos que nos convidam a experimentar e pensar de forma estratégica. Porém, a variedade limitada de conteúdo e uma progressão lenta dos desbloqueios incomodam um pouco. Por sorte, a ação é ágil e o universo é carismático, o que ameniza esses problemas. No mais, Ship of Fools é uma ótima aventura pelos oceanos sombrios, seja sozinho ou na companhia de um amigo.

Prós

  • Batalhas navais intensas e variadas, seja sozinho ou no modo cooperativo;
  • Boas opções estratégicas para customizar os personagens e o barco durante as partidas;
  • Muito conteúdo para desbloquear;
  • Ótima ambientação e direção de arte.

Contras

  • A variedade de eventos e situações é um pouco limitada;
  • Desbloqueio lento do conteúdo;
  • Impossibilidade de jogar o multiplayer online com estranhos.
Ship of Fools — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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