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Análise: Flat Eye (PC) traz um futuro assustador e realista em um simulador de gerência de loja

Garanta a prosperidade de uma mega estação capaz de fornecer soluções tecnológicas variadas.

em 24/11/2022
Desenvolvido pela Monkey Moon, Flat Eye é um simulador futurista no qual o jogador deve gerenciar uma loja na Islândia. Contrate um gerente e garanta que as operações da sua pequena estação da corporação Eye Life prosperem enquanto descobre mais sobre o mundo ao seu redor.

Em busca do futuro a qualquer custo

Flat Eye coloca o jogador na pele de um gerente a serviço de uma grande empresa chamada Eye Life, que é a maior gestora de tecnologia e combustíveis do mundo. Cabe a esse trabalhador garantir que a sua estação na Islândia prospere, adicionando cada vez mais produtos e serviços para os clientes.

No início, você vende praticamente só comida e bebida e cobra o uso dos banheiros. Porém, não demora muito para a loja fornecer serviços tecnológicos diversos, como impressoras 3D, cadeiras manipuladoras de memórias, etc.

Enquanto você controla tudo remotamente, quem realmente faz as tarefas e mantém a loja organizada é o seu funcionário. Além de trabalhar no caixa, esse personagem é responsável por montar as novas “atrações” do prédio, realizar manutenção, reestocar produtos, entre outras atividades necessárias para que o lugar continue funcionando. O número de ordens que ele pode fazer em sequência é limitado, sendo necessário manter o fluxo constante para otimizar o tempo.

Em alguns momentos, clientes especiais aparecem dependendo de quais serviços são oferecidos na loja. São esses pontos que desenvolvem mais a fundo a narrativa, explorando a vida de cada cliente dentro do contexto geral de ficção científica. Tópicos bastante pesados como homicídio e abusos de diversas naturezas são discutidos e é possível até ver crimes e ações eticamente questionáveis sendo executados com o auxílio das máquinas.

Apesar de esporádicos, esses trechos ajudam a demonstrar de forma clara a visão de futuro de Flat Eye. Em alguns momentos, a narrativa pode parecer até exagerada com personagens insanos e tecnologias inacreditáveis; porém, a verdade é que os tópicos apresentados são razoavelmente realistas com extrapolações pequenas em relação a fatos reais e coisas que já existem atualmente.

Em termos da narrativa, também vale destacar a figura da IA que guia o jogador. Alegando estar em busca do melhor futuro possível para a humanidade, é ela quem te dá missões, libera mais tecnologias e auxilia na sua percepção do contexto. Ela tende a ter comportamentos que parecem humanos, apelar para a emoção do jogador em algumas ocasiões e, ironicamente, é a única personagem dublada.

Capitalismo, ho

Em termos gerais, todos os elementos mecânicos e narrativos de Flat Eye apontam para críticas contundentes da sociedade em que vivemos. Além de mostrar vários elementos de deterioração social de forma clara nos diálogos, é palpável a sensação de exploração do trabalhador no fato de que apenas uma pessoa precisa cuidar das tarefas de uma estação que fica cada vez maior e mais lotada de máquinas.

Ainda no ambiente da loja, vale destacar a forma como vários serviços são formas convenientes de transformar os próprios clientes em produtos. Isso se inicia com a coleta de dados pessoais através de banheiros smart e espelhos smart, mas também inclui extrair matéria orgânica para produzir alimentos. É fácil ver como a empresa poderia tentar justificar isso como reciclagem, mas a intenção real é o lucro e os tópicos mais relacionados à ética ficam em segundo plano.

Para a gameplay, cada novo objeto instalado no prédio precisa estar conectado à rede de produção; ou seja, é necessário cuidar do cabeamento da loja para garantir que a máquina receba energia e quaisquer outros materiais necessários para a sua execução. Com isso, o jogador precisa incluir máquinas para extrair eletricidade de fontes termais ou da queima de itens variados, incluindo corpos de clientes que pagaram por uma morte sem dor.

As maiores dificuldades de colocar uma máquina para funcionar envolvem esse cabeamento e o posicionamento na loja, tendo em vista que o espaço é limitado e é necessário garantir lugar para filas. Um detalhe curioso é que, uma vez que uma nova tecnologia é desbloqueada, clientes podem ficar desapontados em não encontrá-la disponível. Além disso, eles podem sair insatisfeitos por ter que esperar muito tempo. Com isso, é preciso ter pelo menos uma máquina de cada, mas avaliar a demanda para ter uma avaliação positiva.

Fora da loja, o gerente também conta com uma máquina como forma de contato com a empresa, que é visualizada todo dia antes de começar o expediente, mas pode ser vista também enquanto o funcionário trabalha. Na prática, é um computador com e-mails e documentos confidenciais, que ajudam a desenvolver mais a fundo a história do mundo. Para além disso, temos ainda alguns menus importantes, como a Technology Tree e o FlatLUCK.

A Technology Tree é uma espécie de menu de desbloqueio de itens avançados tecnologicamente para uso na loja. A ideia é que o jogador ganhe pontos conforme aumenta de nível dentro da empresa e use-os para ter acesso a esses sistemas. Inicialmente, eles são listados por nomes genéricos de projeto e é necessário já ter acesso a determinadas tecnologias para comprar os módulos mais avançados.

Já o FlatLUCK é um sistema de tarô que a Eye Life impõe aos seus subordinados. Fingindo ter a intenção de oferecer um conselho astrológico, a empresa força metas obrigatórias que precisam ser cumpridas para a avaliação do gerente.

O número de cartas que devem ser retiradas cresce progressivamente, muitas vezes aumentando o esforço necessário para um mesmo nível de recompensa. Se por um lado essa é uma crítica bastante interessante, por outro rapidamente se torna cansativo para o jogador quando cartas muito complicadas aparecem.

Além disso, algumas regras são muito específicas e mal explicadas. Por exemplo: uma regra envolve receber uma condecoração positiva aleatória. Se o jogo tivesse uma lista delas com pistas de como desbloqueá-las, seria muito mais fácil cumprir esse objetivo. Da mesma forma, há vários outros elementos do gerenciamento que mereciam menus com mais detalhes que auxiliassem o jogador na otimização da gameplay.

Por fim, gostaria de destacar que o Flat Eye possui um sistema de controle do tempo que é bastante útil. Basta clicar ou apertar o botão correspondente para fazer com que o jogo seja acelerado em até três vezes ou pausá-lo para planejar as melhores ações.

Por outro lado, também encontrei alguns pequenos bugs, sendo o mais recorrente deles o fato de que o clique do mouse nem sempre era registrado corretamente. Também encontrei um certo NPC com um diálogo em francês enquanto estava jogando em inglês, o que me leva a imaginar que a equipe deve trabalhar em correções em breve.

Mantendo o olho em um futuro cada dia mais presente

Flat Eye é um simulador cuja maior força está em sua discussão social séria, bastante atual e nada sutil. Esse elemento perpassa tanto a gameplay quanto a narrativa de forma eficiente, criando uma experiência que vale mais do que a soma de suas pequenas partes.

Prós

  • Crítica social ácida que é mais realista do que gostaríamos de acreditar;
  • Gameplay que combina de forma simples e eficiente a gerência da loja com trechos esporádicos de narrativa;
  • O controle do tempo com opções de pausar e acelerar em até três vezes permite jogar com comodidade;
  • Mesmo os elementos mais negativos da gameplay fazem parte da discussão.

Contras

  • Algumas regras do gerenciamento mereciam explicações mais detalhadas;
  • O sistema de metas diárias mandatórias acaba se tornando um elemento exaustivo rapidamente;
  • Pequenos bugs que devem ser corrigidos futuramente.

Flat Eye — PC — Nota: 9.0

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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