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Análise: The Dark Pictures Anthology: The Devil in Me (Multi): assassinatos em série, psicopatia e prisão

O novo jogo da franquia da Supermassive Games mantém o nível de seus antecessores e traz pequenas melhorias para o gameplay.

The Dark Pictures Anthology: The Devil in Me é o quarto jogo de uma franquia de jogos de terror narrativos desenvolvida pela Supermassive Games e publicada pela Bandai Namco. Embora este seja considerado o final da “primeira temporada” da antologia,  todos os jogos contam com histórias independentes; porém, a empresa vem testando um pouco com a fórmula de gameplay, sendo perceptível o avanço nessa área a cada nova entrada.

Inspiração do mal

The Devil in Me conta a história de cinco pessoas que fazem parte do estúdio de produção de filmes Lonnit Entertainment. Após vários fiascos, o grupo está produzindo uma espécie de documentário sobre H. H. Holmes, um grande criminoso que ficou conhecido como o primeiro serial killer dos Estados Unidos da América.

Infelizmente, o filme parece estar caminhando para ser outro fracasso comercial, até que a sorte decide fazer uma visita para o grupo. O produtor Charlie recebe uma ligação de um misterioso indivíduo que possui uma réplica do Castelo do Assassinato, hotel no qual Holmes cometia os seus crimes. Essa é uma grande oportunidade para a equipe poder fazer uma filmagem muito mais detalhada e convincente com os poucos recursos que têm.

Provavelmente qualquer fã de terror já deve imaginar a combinação de erros dessa escolha. Afinal, a equipe está indo a uma ilha distante para visitar um castelo cheio de armadilhas e estruturas feitas para assassinar vítimas. E o maior agravante é o fato de que eles nem sabem quem é a figura que os convidou e suas intenções.
Como esperado, não demora muito para que eles descubram que tomaram uma decisão muito ruim. Conforme a paranoia começa a tomar conta de todos, eles discutem entre si, mostrando-se um grupo nada coeso. Isso é especialmente explorado pela forma como a equipe é formada a tomar decisões em um jogo sádico que insiste em torturá-los.

Uma narrativa para jogar sozinho ou com amigos

The Dark Pictures Anthology é uma série de jogos de terror com foco narrativo. A ideia é explorar a sua narrativa ramificada, tomando decisões variadas ao longo do caminho. Cada uma delas possui consequências, podendo levar a eventos diferentes ou à morte de algum personagem. A graça do jogo é então associada a testar as possibilidades, vendo os resultados da sua ação.
Um detalhe importante da série é que seus títulos contam com modos single player e multiplayer (local e online). Ao explorar as obras com múltiplas pessoas, as ações individuais podem afetar a todos. Vale a pena convidar aquele colega que tem uma personalidade coringa ou o seu grupo de amigos que vai fazer de tudo para encontrar a melhor opção para todos sobreviverem. O máximo de jogadores são cinco localmente ou dois online.

Além das escolhas cronometradas, há momentos da narrativa que envolvem quick-time events, ou seja, pode ser necessário apertar botões rapidamente de acordo com o que é mostrado na tela. Nem sempre o correto é fazer a ação que o jogo apresenta, sendo necessário que o jogador pense nas consequências de seus atos.
Temos várias áreas do castelo e arredores para explorar de acordo com a narrativa, e The Devil in Me se torna notável por contar com localidades que parecem mais amplas e detalhadas. Destaca-se ainda a presença de puzzles leves que precisam ser resolvidos para avançar fazendo com que a ação não seja apenas ir de um lado para .

Outra novidade é que em alguns momentos o jogador precisa rapidamente encontrar uma área e se esconder. Essa mecânica acaba sendo subaproveitada, mas é uma adição natural, tendo em vista que já tínhamos sequências narrativas em que era necessário apertar botões no ritmo de batimentos cardíacos para manter a calma.
The Devil in Me conta com três dificuldades e várias opções de acessibilidade. Em termos de texto, é possível aumentar o tamanho das legendas, colocar um fundo para que elas fiquem nítidas e mudar a sua fonte para uma opção mais indicada para indivíduos com dislexia. Para a gameplay, conseguimos limitar os quick-time events a apenas um botão, fazer com que segurar o botão equivalha a pressionar repetidas vezes rapidamente e até retirar o limite de tempo.

Criando um ambiente de tensão

Para que um jogo de terror funcione, é fundamental que ele crie uma atmosfera muito forte que faz o jogador se sentir imerso naquele mundo e aflito com o que está se desenrolando diante dos seus olhos. Fundamental para isso é o bom emprego de efeitos sonoros, gritos, ruídos e de uma iluminação precária que evoca a sensação de não termos completa nitidez do que estamos vendo. Nesses aspectos, The Devil in Me conta com uma bela cinematografia, assim como seus predecessores.
Por outro lado, os modelos dos personagens sofrem com o efeito de uncanny valley com expressões muito artificiais e olhos esbugalhados cujos olhares não encaixam com os eventos. A atuação também fica forçada em alguns momentos, seja pelas mudanças abruptas de tom em algumas raras cenas, seja por uma sensação de ocasionais conveniências de roteiro fáceis de notar após terminar a campanha.

Vale ainda destacar que a tradução para o português é majoritariamente boa, conseguindo transmitir muita naturalidade aos diálogos. Porém, há alguns raros casos em que ela se equivoca e altera as nuances das falas para coisas que não fazem sentido no contexto.

Mantendo a classe

The Dark Pictures Anthology: The Devil in Me
mantém o nível da franquia com uma experiência narrativa de terror que consegue oferecer boas doses de tensão e uma trama interessante. Em termos de gameplay, o jogo é uma evolução pequena, mas significativa da fórmula, mas alguns problemas na narrativa e na modelagem dos personagens são gargalos que a equipe ainda precisa trabalhar.

Prós

  • Ambientação horripilante baseada no conceito de estar preso em uma casa com um serial killer;
  • Os efeitos sonoros e a pouca iluminação são bem empregados para a imersão no terror;
  • Ampliação da gameplay de ação e aventura da franquia com puzzles leves, áreas aparentemente mais amplas e uma mecânica de se esconder;
  • Narrativa ramificada em que as decisões tomadas possuem consequências;
  • Modos de multiplayer local e online;
  • As múltiplas dificuldades e configurações específicas ajudam a tornar a experiência mais acessível a vários tipos de jogadores.

Contras

  • Alguns trechos de atuação acabam soando artificiais;
  • Os modelos dos personagens acabam ativando o efeito de uncanny valley com suas expressões;
  • A tradução para o português conta com alguns pequenos errinhos.
The Dark Pictures Anthology: The Devil in Me — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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