Análise: Potionomics (PC) nos leva a elaborar táticas de venda de maneira leve e divertida

Em Potionomics estamos no controle de Sylvia, uma jovem que herdou não apenas a loja de poções de seu falecido tio, como sua dívida milionária. Agora, a única forma de não perder tudo o que tem é vencer uma série de competições que envolvem os melhores negociadores de poções da região. Com um gameplay simples e envolvente, temos um jogo de estratégia muito divertido que entrega um desafio quase na medida para os jogadores.

Herdando a dívida

Certo dia, Sylvia recebe uma carta com a notícia de que seu tio Oswald havia falecido. Como não possuía um herdeiro, as posses de Oswald foram transferidas para a jovem, dentre elas uma loja de poções localizada em Rafta. Atendendo ao pedido de seu tio, Sylvia decide se mudar e dar continuidade ao comércio de Oswald.

Ao chegar no local, Sylvia encontra a loja de poções totalmente acabada, com móveis quebrados, teias de aranha para todo lado e objetos fora do lugar. Como se não fosse desafio o suficiente, a jovem recebe a visita de Helene, uma bruxa que possuía relações comerciais com Oswald. Nessa visita, Sylvia descobre que também herdou a dívida de um milhão de moedas de ouro de seu tio e que o primeiro pagamento deve ser feito em dez dias.

Em meio ao processo, a garota é surpreendida pela presença de Owl, uma coruja falante e ex-parceira de seu tio, que a ajuda a dar os primeiros passos dentro do estabelecimento. Owl explica que em Rafta existem cinco competições que envolvem produção de poções e que essa é a única alternativa para Sylvia arrecadar dinheiro necessário no curto prazo disponível.

Logo, Own se torna mentor da jovem e a orienta em todos os procedimentos necessários para começar a comercializar as poções. Agora, Sylvia deve conseguir materiais, criar poções de qualidade, melhorar sua loja e vender o produto pelo maior preço possível aos consumidores.

Tempo é dinheiro

A premissa de Potionomics envolve, basicamente, criar as melhores poções, vendê-las pelo maior preço possível e gerar o máximo possível de dinheiro para financiar a compra de materiais e melhorias para sua loja. No entanto, há outras coisas ao redor desse objetivo para encorpar de maneira divertida o gameplay.

O que chama atenção à primeira vista é o estabelecimento caindo aos pedaços. Durante a campanha, temos a oportunidade de repaginar o visual da loja, com novos pisos e paredes, além de ampliar o espaço para caber mais equipamentos como caldeirões e mostruários. Uma loja bem cuidada e estruturada é essencial para atrair a clientela, além de valorizar seus produtos.

Outro ponto relevante são os outros comerciantes de Rafta, com os quais podemos conseguir itens para confecção de poções, melhorias para a loja e equipamentos. Além disso, somos capazes de nos relacionar com os habitantes, seja conversando ou dando presentes, e o desenvolvimento dessa relação gera diferentes benefícios à protagonista.

Todas as ações tomadas têm que ser feitas de maneira estratégica, pois consomem um recurso valioso dentro do jogo: o tempo. A campanha de Potionomics é dividida em dias, que são subdivididos em seis porções de tempo. Ao fim das seis porções, a protagonista fecha a loja e o próximo dia começa.

Por exemplo, abrir a loja e comercializar poções consomem duas porções de tempo; sair para visitar um habitante consome uma; desenvolver o relacionamento consome pelo menos uma porção por ação; e assim por diante. Logo, é necessário estabelecer uma estratégia para o dia a dia com objetivo de desperdiçar a menor quantidade possível de tempo.

Todos esses parâmetros são ensinados dentro dos primeiros dias da campanha, antecedendo a primeira competição que ocorre no décimo dia. Criar boas estratégias e otimizar seus resultados leva tempo, e absorver todas as informações dentro das primeiras horas é complicado.

É tão complicado que a XSEED Games precisou enviar um e-mail com dicas para a primeira competição, pois os jogadores estavam com dificuldade. Eu mesmo precisei seguir as dicas para prosseguir com a história pois não conseguia vencer o chefe de forma alguma. Após as dicas, foi banal ganhar a competição e senti que foi um claro erro de design dos desenvolvedores.

Um limitador importante para ressaltar é a ausência de tradução para português. Potionomics conta com muitos diálogos, alguns envolvendo escolhas, e textos informativos, portanto a ausência de localização é uma limitação óbvia aos jogadores brasileiros.

À vista tem desconto?

Todos esses parâmetros citados anteriormente levam aos sistemas de confecção e venda de poções. Ambos são simples, porém bem elaborados ao ponto de ser necessário traçar as melhores estratégias para a campanha.

Com os itens adquiridos com os outros comerciantes, podemos combiná-los e criar diferentes poções em nossos caldeirões. Cada item é categorizado de acordo com sua composição dentro de cinco variações — A, B, C, D, E —, e diferentes proporções dessas categorias criam distintas poções.

Ao todo, temos 20 categorias de poções, cada uma com seis variações, resultando em 120 tipos diferentes. Em cada caldeirão disponível, conseguimos criar uma poção por vez e sua qualidade e preço serão resultados da qualidade dos itens utilizados. Quanto maior a qualidade, mais tempo dentro do caldeirão será necessário para finalizar a preparação. Portanto, é necessário estratégia para confeccionar os produtos.

Com as poções feitas, partimos para a venda. Cada produto conta com um preço base e podemos aplicar técnicas de negociação para vender mais caro ao cliente. Aqui estão presentes as mecânicas mais interessantes de Potionomics, que consistem na construção de baralhos e o “duelo” por turnos com os compradores.

Sylvia tem à disposição um baralho com vinte cartas que envolvem ações como aumentar o interesse do cliente no produto, proteger Sylvia da barganha e aumentar a paciência dos compradores, que se esgota com as ações da protagonista. Podemos ampliar o baralho com cartas dadas pelos habitantes de Rafta após conhecê-los e melhorar nosso relacionamento com eles.

As cartas disponíveis em cada rodada são aleatórias e cada escolha deve ser bem pensada. A maior atenção vai para a paciência do cliente. Cada carta de Sylvia diminui a paciência do cliente e não podemos permitir que ela chegue a zero; caso contrário, o comprador desiste do produto. Não há uma maneira única de jogar, mas é importante elaborar uma combinação de cartas que atenda às suas estratégias.

Conseguir mais cartas já é um motivador muito bom para melhorar o relacionamento de Sylvia com os demais. Porém, há tanto carisma nos personagens que a simples ação de visitá-los é gratificante. O design é muito bem-feito, assim como suas animações e expressões faciais, e a trilha sonora ajuda a criar uma ambientação acolhedora. Apesar disso, acredito que a presença de uma dublagem tornaria os personagens ainda mais interessantes.

Trato feito!

Potionomics possui mecânicas simples, porém com várias camadas que o tornam robusto ao ponto de se manterem interessantes até o final. Além disso, os personagens são bem desenvolvidos, principalmente suas animações, transbordando carisma em qualquer movimentação durante os diálogos. A mecânica de negociação utilizando cartas é o ponto alto, sendo possível elaborar muitas estratégias diferentes para aumentar o valor de seus produtos.

Porém, não dá pra negar a falta que a tradução para português faz, principalmente por ser um jogo baseado em textos e diálogos com escolhas. Além disso, as primeiras horas da campanha podem interferir no interesse do jogador em continuar com o jogo por conta do erro de design. Mesmo com esses problemas, Potionomics é bem competente no que oferece e, certamente, é uma das surpresas mais positivas de 2022.

Prós

O sistema de negociação com cliente utilizando as cartas é extremamente divertido e permite abordar diferentes estratégias ao gosto do jogador;
Os personagens são muito carismáticos e possuem belos designs;
A trilha sonora é acolhedora;
Muitos textos informativos sobre produtos e processos tornam o gameplay intuitivo e acessível, apesar da falta de tradução para português.