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Análise: Azure Striker Gunvolt 3 (Multi) é pura ação eletrizante em uma acelerada aventura 2D

O terceiro jogo do adepto elétrico explora as melhores ideias da série e é muito acessível.


A franquia Gunvolt não esconde suas inspirações, funcionando como uma interpretação acelerada de Mega Man Zero. No decorrer do tempo, a série introduziu aos poucos novas mecânicas e ideias, o que a tornou mais elaborada e empolgante. Azure Striker Gunvolt 3 é o ápice com sua jogabilidade e ritmo ágeis. Com uma nova protagonista, o jogo consegue a façanha de equilibrar conceitos simples e técnicas elaboradas, o que resulta em uma experiência capaz de agradar diferentes públicos. Alguns problemas do passado ainda persistem, como mecânicas subutilizadas e trama dispensável, mas o resultado geral é bem positivo.

A sacerdotisa guerreira e o adepto elétrico trabalhando juntos

A trama de Gunvolt 3 se passa muitos anos após a conclusão do segundo episódio, mas é independente o bastante para ser aproveitada por novatos. Desta vez, a protagonista é Kirin, uma guerreira sacerdotisa da organização Yakumo das Sombras. Ela recebe a missão de infiltrar a sede da Sumeragi em busca de Gunvolt, que se transformou em um dragão depois que seus poderes saíram de controle. Depois de uma luta ferrenha, a garota consegue selar a energia instável e Gunvolt assume a forma de um cachorro.

No entanto, depois da batalha, Kirin descobre que outros adeptos também se transformaram em criaturas descontroladas. Por causa disso, a garota se alia a Gunvolt e a dupla vai fazer o que for possível para resolver a situação. Naturalmente, há mais por trás e uma organização de outro país aparece com intenções sombrias que podem afetar profundamente o mundo.


Assim como os títulos anteriores, o terceiro episódio mantém a estrutura de ação 2D de ritmo acelerado. A nova protagonista Kirin é bem ágil e desfere ataques rápidos com sua espada. Ela também é capaz de marcar os inimigos com talismãs mágicos, que aumentam o dano recebido pelos oponentes.

Um movimento importante é a Corrente Arqueada: utilizando os poderes elétricos de Gunvolt, a garota consegue se teletransportar e golpear inimigos marcados com os selos. Além de ser uma ótima habilidade ofensiva, é um recurso para alcançar locais altos ou distantes. Conforme avança na jornada, Kirin adquire novas habilidades ofensivas.


Apesar de a protagonista ser Kirin, Gunvolt também é controlável. Após preencher uma barra especial, podemos nos transformar no adepto por tempo limitado. O herói tem habilidades similares aos dos jogos anteriores, ou seja, marca inimigos com os tiros da sua pistola e depois desfere cargas elétricas teleguiadas. Além disso, ele é capaz de saltar no ar continuamente e se movimenta com velocidade. Gunvolt é extremamente poderoso, sendo capaz de destruir inimigos e chefes com facilidade, o que justifica a duração limitada de sua transformação.

Uma novidade de Gunvolt 3 é o sistema de Pulsos de Imagem, que transforma personagens da franquia em vantagens diversas para os protagonistas. Algumas habilidades precisam ser ativadas manualmente e funcionam como ataques especiais, já outras têm efeitos passivos, como aumentar a defesa ou recuperar a vida sob certas condições. Os Pulsos são obtidos ao coletar insígnias espalhadas pelas fases, porém a seleção de poderes é majoritariamente aleatória. Há mais de 150 Pulsos disponíveis e para coletar todos é necessário jogar novamente os estágios e enfrentar as dificuldades mais avançadas.

Quebrando tudo na ação vertiginosa

Na minha opinião, a fluidez da ação é a melhor característica de Azure Striker Gunvolt 3. Kirin é muito ágil e é bem fácil atravessar rapidamente os cenários destruindo todos os inimigos que aparecem pelo caminho. Para isso, basta lançar selos nos oponentes e depois utilizar a Corrente Arqueada para se teletransportar. Com um pouco de prática, é possível fazer sequências impressionantes de movimentos sem deixar Kirin tocar no solo — achei muito recompensador conseguir boas pontuações ao executar acrobacias complexas no ar.

O desenho dos níveis nos incentiva a abusar das habilidades dos protagonistas, em especial o movimento de teletransporte. Algumas fases são mais horizontais, com inimigos posicionados de tal maneira que podemos correr e fatiar com rapidez. Já outros estágios têm mais verticalidade e muitos pontos em que precisamos utilizar a Corrente Arqueada para alcançar locais altos e distantes. A variedade de situações é boa e gostei de experimentar as possibilidades.


As lutas contra os chefes são um dos pontos altos do jogo. Os mestres são bastante criativos e únicos, nos desafiando a observar seus movimentos elaborados e agir de acordo. Muitos de seus ataques, inclusive, só podem ser escapados por meio do teletransporte ou então fazendo saltos precisos. Por fim, esses embates também são estilosos: como é de praxe da série, uma bela animação que cobre toda a tela aparece quando os oponentes executam seus ataques especiais.

Em uma aventura acessível, mas com alguns problemas

Uma característica central da série Gunvolt é o balanceamento equilibrado que é capaz de agradar a diferentes tipos de jogadores. Essa filosofia está presente no terceiro título, por mais que não esteja completamente balanceada.

No geral, o desafio é baixo, pois a maioria dos inimigos é derrotada com poucos ataques. A habilidade Corrente Arqueada deixa as coisas ainda mais simples, pois permite destruir vários inimigos em sequência com facilidade. Além disso, Gunvolt é extremamente poderoso e, no pouco tempo em que o controlamos, é fácil atravessar os cenários obliterando tudo rapidamente.


O desafio real do jogo está em conseguir boas classificações. Para obter multiplicadores e muitos pontos, é essencial abusar das habilidades de Kirin para derrotar inimigos em sequência sem tocar o chão. Para isso, além de destreza, é essencial observar com cuidado o posicionamento dos inimigos. Confesso que não tenho tanta perícia para conseguir as classificações mais altas, porém me diverti tentando obter boas pontuações.

O problema é que incluir tantas vantagens deixou a aventura fácil demais, inclusive nos níveis de dificuldade mais avançados. Tanto é que, no meu tempo com o jogo, eu fui derrotado uma única vez no modo difícil, mas fui imediatamente revivido por Lumen. Também não vi motivos para mexer muito nas habilidades dos Pulsos de Imagem, pois seus efeitos têm pouco impacto, e nem mesmo usar Gunvolt — o personagem é tão poderoso que torna o desafio praticamente nulo. Por fim, o level design tem como foco o uso da Corrente Arqueada para derrotar vários inimigos em sequência, o que desestimula explorar as outras habilidades de Kirin.


Esses pontos negativos não tiram o mérito do jogo, que oferece ação ágil e de ritmo acelerado capaz de agradar a diferentes nichos. Porém, não seria demérito algum oferecer mais opções para customizar o desafio.

Correndo por um universo vivaz

A atmosfera colorida e vibrante que é claramente inspirada em animes shonen continua presente em Gunvolt 3. Os gráficos em pixel art são elaborados e belos e há boa variedade temática de cenários, como um castelo no deserto, um centro urbano decorado para o Natal e um templo de tema oriental repleto de elementos tecnológicos. Os personagens apresentam artes menos elaboradas em relação aos cenários, o que os fazem destoar um pouco, mas em movimento funciona bem, por mais que às vezes haja tanta coisa na tela que é difícil entender o que está acontecendo.


A parte sonora conta com composições agitadas que complementam a ação, por mais que, melodicamente, elas não sejam nada memoráveis. As músicas das musas virtuais estão de volta e reforçam ainda mais a ambientação de anime com faixas J-pop cantadas em japonês — é uma pena que a variedade de faixas seja pequena, o que deixa esse aspecto um pouco repetitivo. O título conta também com dublagem em japonês e em inglês, esta última inédita na série, e os textos estão localizados em português.

Já a trama eu achei dispensável. Os personagens não se desenvolvem além dos estereótipos, a história basicamente ignora o legado dos episódios anteriores e algumas reviravoltas são risíveis, em especial os momentos finais. Há uma tentativa de aprofundar os heróis com o recurso História+, que inclui inúmeros diálogos durante a ação dos estágios. Na prática, essa opção é irritante: as caixas de texto ocupam quase metade da tela, obstruindo a visão, e o tema das conversas é banal, o que acaba atrapalhando o andamento das partidas. Por causa disso, acabei desligando o recurso.



Uma missão eletrizante

Azure Striker Gunvolt 3 combina as melhores ideias da série em um ótimo título de ação. É empolgante atravessar velozmente os estágios, principalmente por causa da fluidez e versatilidade das habilidades dos protagonistas — com um pouco de técnica, é possível fazer combos impressionantes mal tocando o chão. Uma atmosfera expressiva que remete a animes complementa o tom repleto de energia, por mais que a história e personagens não sejam grandes coisas.

É notável também o cuidado despendido em oferecer uma experiência versátil: os novatos vão se divertir com a dificuldade suave, já os veteranos terão trabalho para dominar os sistemas e alcançar boas pontuações. No entanto, mesmo nas dificuldades mais altas, faltou um pouco de desafio. Além disso, algumas mecânicas acabam subutilizadas, pois o foco está em algumas poucas ideias. Porém, mesmo com os problemas, o resultado é positivo.

No mais, Azure Striker Gunvolt 3 é imperdível para quem gosta de títulos de ação e plataforma 2D.

Prós

  • Mecânicas de ação 2D ágeis e competentes que conseguem ser simultaneamente acessíveis e técnicas;
  • Desenho de níveis interessante que explora com criatividade os conceitos da jogabilidade;
  • Estilo de jogo abrangente que é capaz de agradar a diferentes tipos de jogadores;
  • Atmosfera vibrante com ótimo pixel art e música pulsante.

Contras

  • Desafio baixo, mesmo nas dificuldades mais avançadas;
  • Algumas mecânicas e habilidades têm pouco impacto na experiência;
  • Trama e personagens subdesenvolvidos;
  • Recurso História+ tem implementação problemática.
Azure Striker Gunvolt 3 — PC/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Inti Creates

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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