Jogamos

Análise: Scorn (XSX/PC) nos faz explorar um universo biopunk curioso, bizarro e desconfortável

Título tem como principal inspiração obras dos renomados artistas visuais H.R. Giger e Zdzisław Beksiński.


Scorn, título desenvolvido pela Ebb Software e publicado pela Kepler Interactive, tem como principais elementos os gêneros de aventura e survival horror biopunk em primeira pessoa. 

O título foi anunciado em 2016, passou por um longo período de desenvolvimento e teve seu lançamento em 14 de outubro de 2022 sem muito alarde para Xbox Series X e PC. Inclusive, está disponível no serviço Game Pass.

Sempre sendo divulgado com poucos detalhes em torno de sua trama, tive o prazer de jogar Scorn e irei contar a vocês nesta análise sobre o que ele tem a oferecer aos fãs de terror que ficaram interessados em sua premissa visual.


Um pesadelo biopunk curioso e melancólico

Para as pessoas, outrora assim como eu, que não conhecem o termo “biopunk”, ele é a junção das palavras “biotecnologia” e “punk” e faz parte de um subgênero presente na ficção cyberpunk que se concentra em biologia sintética. Nele, os indivíduos geralmente alteram seus corpos e ampliam suas capacidades através de engenharia genética em seus próprios cromossomos.

Obras que usam esse termo são mais comuns na cultura pop do que imaginamos, tendo como principais exemplos jogos como BioShock e Resident Evil.


Scorn se vende pelos seus visuais. O nível de detalhes biopunk aqui é elevado ao extremo e a direção de arte soube explorar incrivelmente bem o conceito. Cada cenário que exploramos ou criatura que enfrentamos expira a estética de forma gore e desconfortável.


Seu mundo é todo vazio e silencioso. A atmosfera sombria aqui introduzida só ajuda a criar uma certa curiosidade e tensão, o que acaba despertando um estado de melancolia. Nele vemos cenários que remetem a ossos, órgãos e fluidos humanos. É um universo completamente abandonado e habitado por criaturas desprezíveis.


Uma narrativa guiada pela exploração

O início se dá com o protagonista acordando em um lugar inóspito e a primeira coisa que temos de fazer é explorar o cenário onde fomos jogados. O jogo te prende pela curiosidade: aqui não há diálogos ou textos explicando o que temos de fazer ou como agir. Em momento algum ele vai pegar na mão do jogador. E por mais que a jogabilidade seja linear, você irá se perder em alguns momentos.




O título é composto basicamente por mecânicas de puzzle e combate. Os puzzles são bem competentes. Em cada área que prosseguirmos no jogo teremos um puzzle para resolver. Já o combate deixa a desejar. Por vezes mirei no inimigo e não consegui acertar; e pela visão ser em primeira pessoa, ele se torna ainda pior. Poderia ser mais bem trabalhado.

Os inimigos presentes no jogo são variados. Cada criatura tem um design próprio e há inspirações em insetos ou animais vertebrados. Ao serem mortos, os corpos dessas criaturas irão se desmembrar, tal como acontece por exemplo nos jogos Dead Space.

Uma das primeiras criaturas com que nos deparamos são os Workers. Eles possuem a semelhança de uma formiga, são hostis e, como meio de defesa, nos atacam expelindo um líquido que é danoso ao personagem que controlamos. Caso ele não nos veja, seguirá seu curso e irá sumir em uma das entranhas grudadas nas paredes.


O inventário de Scorn

Ao longo da jogatina, teremos acesso a um arsenal de 4 armas diferentes. A primeira delas é a pistola de ferramentas, que é uma espécie de apêndice carnudo que se estende, semelhante a uma língua de xenomorfo, e será mais usada no combate corpo a corpo ou para abrir algumas áreas.


A segunda é a pistola, que ajuda no combate em distâncias maiores com maior precisão. Temos também a shotgun, que é mais eficaz para enfrentar uma das criaturas do jogo.


Mais pro final conseguimos a última, o lançador de granadas. Diferente das outras três, ela é a que mais causa dano, porém na área em que ela se encontra não iremos enfrentar os inimigos vistos anteriormente.




Com o tempo teremos acesso a dois dispositivos: um que servirá para desbloquear portas e outro que servirá para cura e armazenamento de munição. O dispositivo para abrir portas tem de ser desbloqueado e em cada área do jogo terá uma espécie de estação para acrescentar o acesso às portas bloqueadas.


O design do segundo dispositivo lembra o de uma bolacha-do-mar e é recarregado conforme encontramos estações de recarga espalhadas nas áreas do jogo. Existem uma estação que só recarrega munição e outra que só recarrega a vida. Uma dica: poupe vida e munição, pois essas estações de recarga só podem ser usadas uma vez.



A jornada do ponto de vista de cada um

Scorn foi concebido com a ideia de te jogar em um pesadelo a esmo e faz isso de forma magistral. Eu cheguei a ter pesadelos com o universo ali apresentado e com certeza foi o real intuito dos desenvolvedores. Toda a experiência proporcionada por esta obra é contemplativa. Você irá se sentir por vezes desconfortável e ao mesmo tempo cativado. 

Por não ter uma história contada através de áudio ou texto, ele fará com que o jogador discuta e teorize sobre o seu enredo. O entendimento sobre os acontecimentos será do ponto de vista de cada um. Confesso que, assim que terminei, tive de ir à internet para buscar um sentido para o final e fiquei impressionado com o tanto de camadas nas quais Scorn se aprofunda.

Definitivamente os jogadores que buscam um jogo de terror genérico podem acabar se frustrando. O título pode ter as mecânicas comuns presentes em qualquer jogo do gênero, mas não vai agradar aos que gostam de ter tudo fácil na mão. 

Numa primeira jogada você deve conseguir finalizar o jogo em torno de 5 a 8 horas. Já numa segunda, esse número deve cair de 3 a 4 horas, típico em jogos com puzzles. Ele é uma boa pedida para aqueles que gostam de jogos relativamente curtos.

A existência de um mapa faz falta. Como já havia dito anteriormente, eu me perdi várias vezes e fiquei andando pra todo canto tentando achar o caminho para avançar, o que quebra o ritmo e por vezes se torna desgastante. Eu me irritei também com as telas de carregamento pós-morte.

Scorn é um presente para os fãs do subgênero biopunk e uma surpresa aos que nunca tiveram contato com obras do tipo. Ele oferece uma experiência contemplativa ao universo ali apresentado, que é tão significativo quanto a tradução de seu nome.


Prós:

  • Atmosfera sombria digna de um terror de sobrevivência biopunk;
  • Narrativa inexistente gera interesse e prende ainda mais o jogador;
  • Puzzles bem-feitos e desafiadores;
  • Cenários belíssimos e fiéis às obras de H.R. Giger e Zdzisław Beksiński.

Contras:

  • Não há um mapa para ajudar na localização;
  • Telas de carregamento pós-morte podem atrapalhar a experiência;
  • O combate poderia ter sido bem mais trabalhado.
Scorn — XSX/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Kepler Interactive

Poderia estar dando um rolê na Epoch, ou participando do torneio Mortal Kombat, e quem sabe escapando de alguns zumbis, mas estou aqui, feliz por estar escrevendo sobre games.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google